sábado, 15 de fevereiro de 2020

Jovens senhoras de Moçâmedes da JIC e do grupo católico "Sagrado Coração de Jesus". O movimento de Encontros de Jovens Shalom


 Jovens senhoras de Moçâmedes da JIC
  Jovens senhoras de Moçâmedes da JIC
 Jovens senhoras participantes do grupo católico "Sagrado Coração de Jesus"
 Jovens senhoras participantes do grupo católico "Sagrado Coração de Jesus"



Com o Estado Novo, desde 1926 houve o renascimento católico. Em Angola foram fundadas 29 novas missões até 1940. Em 1940 o governo assinou com a Santa Sé 3 acordos: A Concordata, Acordo Missionário e o Estatuto Missionário. Salazar referiu:

"Não se pode pôr, entre nós, o problema de qualquer incompatibilidade entre a política da Nação e a liberdade de evangelização, pelo contrário, uma faz parte da outra."

É dentro deste espírito de cooperação estatal com a Igreja católica que de 1930 a 1960, mais de 20 Congregações missionárias enviaram pessoal para Angola: Beneditinos, Beneditinas, Doroteias, Irmãs do SS. Salvador, Irmãs de la Salette, Capuchinhos, Franciscanas Missionárias de Maria, Reparadoras, Teresianas, Redentoristas, Ordem Trapista, Irmãozinhos de Jesus, Irmãos Maristas, Irmãs do Amor de Deus, Dominicanas de Se. Catarina, Espiritanas, Missionárias Médicas de Maria, Dominicanas do Rosário, Irmãs da Misericórdia.

Ler mais: https://reflexao.webnode.com.pt/cplp-comunidade-dos-paises-da-lingua-portuguesa/angola/
 Desde finais do século XIX que a fragilidade vivida no quadro da secularização veio acompanhada da vontade de revitalização e de um ímpeto associativo dos católicos, de que a Acção Católica Portuguesa foi, de certo modo, herdeira.  A ideia de um apostolado total, deu origem a quatro organizações (Liga dos Homens da Acção Católica, Liga das Mulheres da Acção Católica, Juventude Católica e Juventude Católica Feminina); e de acordo com os chamados “meios sociais” - agrário, escolar, independente, operário e universitário -, dando origem a 20 organismos especializados.  A ideia de um catolicismo militante remonta a 1933, o ano em que nasceu em Portugal a Acção Católica, um catolicismo militante em prol da  “recristianização cristã” da sociedade. 






O desenvolvimento da formação e reflexão teológicas, a preocupação com o enraizamento social do trabalho de cristianização, a activa participação nas dinâmicas internacionais ou supranacionais do catolicismo, foram factores que contribuíram decisivamente para conferir ao movimento católico português alguns novos traços nos anos 50 a 70, em especial: a formação humana, cívica e religiosa de várias gerações de católicos, conforme a uma espiritualidade mais incarnada e cristocêntrica, pese embora o peso do marianismo nas devoções dos movimentos de Acção Católica; o desenvolvimento de um catolicismo social reformista, partindo do estudo e procura de soluções para a realidade nacional, bloqueada pela persistência política do Estado autoritário após a II Guerra Mundial; o aparecimento de novas elites católicas nos mais diversos sectores da sociedade, em particular universitário, intelectual e cultural, mas também operário e de novos sectores profissionais, a par da emergência de novas lideranças e dinâmicas sociais, a nível da juventude, das mulheres, das famílias e do movimento sindical e patronal, entre outros.

Nos anos 70, o esgotamento do paradigma de movimento católico que a ACP corporizou explica o seu desmembramento como corpo orgânico em 1974, sendo que a realização do II Concílio do Vaticano constituiu um importante ponto de viragem neste processo. Muitas das perspectivas teológicas e pastorais que o Concílio viera reconhecer e proclamar tiveram na vida e trabalho da Acção Católica, em todo o mundo, um pioneirismo e um alicerce que, no longo prazo, explicam a sua secundarização, mormente o reconhecimento do valor pleno do apostolado dos leigos, sem necessidade de recurso ao mandato episcopal ou o valor da liberdade religiosa e do pluralismo eclesial e social.

Mas também foram desta época os movimentos católicos influenciados pelas Encíclicas Papais de João XXIII (Vaticano II) que passaram a estar presentes no meio juvenil, atraindo-os a si com a organização de eventos (bailes paroquiais, missas yé-yé, programas de assistência social etc).

Em meio a um mundo em transformação, a Igreja toma posição através de alguns párocos que rompendo a tradicional resistência à mudança, passaram a procurar e a chamar a si os jovens, atraindo-os para festas em salas de convívio paroquial. O objectivo era proporcionar-lhes uma opção, através de festas e bailes saudáveis e alegres, dentro de um contexto cristão, num mundo onde a juventude estava perdendo referências, resgatando valores familiares, a espiritualidade da juventude, a moral cristã, o sentimento de cidadania, e a promoção de valores que levassem ao fortalecimento da sociedade.

Em Moçâmedes foi o Padre Martinho Noronha um dos promotores do movimento desta causa dedicadas aos jovens paroquianos, que procurava, naturalmente desviá-los dos "males" trazidos por uma época marcada por um turbilhão de mudanças. Este foi o tempo da introdução entre a juventude do vício da liamba/haxixe, ou cannabis, entre os jovens de Angola, flagelo para eles e para os pais que não mais tiveram sossego.

Outro exemplo foi o Movimento de Encontros de Jovens Shalom, que se espalhou por várias cidades de Angola, com o Padre Luís Carlos nomeado seu Assistente Geral. Ordenado em 1968 este jovem padre foi sacerdote em Sá da Bandeira, onde congregou e entusiasmou gente jovem, transformou as "missas da Laje" em verdadeiras festas de juventude


                                No Lubango (Angola). Chamavam-lhe as "missas yé...yé..." 



                                No Lubango (Angola). Chamavam-lhe as "missas yé...yé..."


Em 1972, com outros jovens, o Padre Luís Carlos fundou uma Comunidade voltada para a evangelização da juventude nas várias dioceses de Angola. Em 1973, fez especialização em pastoral juvenil, pedagogia e dinâmica de grupos em Madrid, onde conheceu e assumiu a "educação libertadora". Assim, unidos pelo mesmo ideal, jovens juntaram-se e formaram este movimento que mais tarde se expandiu para Portugal e Brasil. Shalom era a palavra com que estes se identificavam, que significa harmonia, unidade, benção, alegria e paz. O objectivo era criar espaços para oração e partilha de vida, criar laços mais profundos de amizade entre os elementos do grupo permitindo um crescimento individual e também em comunidade.


Toda esta abertura da Igreja estava relacionada com as mudanças trazidas pelo Concilio Vaticano II que se estendeu e chegou ao fim em 1965, ficando marcado pela reunião do Papa Paulo VI, em Julho de 1970, com lideres dos movimentos independentistas das colónias portuguesas de África. A Encíclica “Populorum Progressio”, acolheu a promoção de todos os povos, nomeadamente os que viviam situações de dependência colonial ou de subdesenvolvimento. Eram mudanças que preocupavam o regime. Angola estava em guerra, havia censura, a polícia política (PIDE) estava atenta à formação de todo e qualquer Movimento, incluso religioso. Na América Latina progredia a Teologia da Libertação, em paralelo com os movimentos políticos libertadores, na defesa dos pobres e da justiça para todos, o respeito aos grupos étnicos indígenas e africanos, além de outras causas de emancipação social, económica e política. Este movimento elaborou teorias e formas concretas de viver uma nova forma de ser Igreja, que além de questionar as bases tradicionais da instituição eclesial e da organização política, contribuíram para o avanço da identidade latino-americana.

A geração de 60 foi por toda a parte protagonista de uma revolução nos costumes cujos resultados são vivenciados hoje. Foi então que se descobriu lá mais para diante como o rock podia emanar sensações africanas, e lá para os anos 70, incluso algumas letras causticas contra o regime. (1)



MariaNJardim




ATENÇÃO:
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