quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

CARNAVAIS EM MOÇÂMEDES, ANGOLA




Nada melhor do que a aproximação da quadra carnavalesca para colocarmos aqui  algo que nos remeta para o modo como os Carnavais foram acontecendo em Moçâmedes,  ao longo dos tempos.

Através desta foto, a mais antiga que conseguimos, talvez no início do século XX, podemos ver um pequeno grupo de europeus mascarados (à esq.), desfilando numa das ruas de Moçâmedes, a Rua dos Pescadores, alguns moradores a observar às janelas, com guarda-sóis abertos (ou sombrinhas como então  se chamavam ), seguidos de  grupo de africanos da região (quimbares), que ocupam toda a rua e passeios laterais. Ao fundo vê-se, com a sua "água furtada", o prédio dos Mendonça Torres.

 

Aqui podemos ver um grupo de "quimbares" num  Carnaval em Moçâmedes,  nas primeiras décadas do século XX. Este grupo composto por elementos  masculinos, exibe indumentárias muito europeias, algumas das quais ligadas à Marinha. Repare-se nos instrumentos musicais, onde a harmónica ou concertina convivem lado a lado com o reco-reco, o tambor e a pandeireta ... Estas são as fotos mais antigas que conseguimos arranjar sobre o Carnaval em Moçâmedes
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Havia gente que era levada a pensar ter sido  o Carnaval introduzido pelos africanos, mas foi precisamente o contrário, o Carnaval tem origem europeia, e o Carnaval angolano tem origem no Carnaval português, recebeu, é  certo, influências de elementos africanos que lhe imprimiram um carácter profano, tal como o Carnaval português recebeu a influência das "mascaradas" italianas.   
 

 
Foto: Musicais como sempre, um batuque não podia faltar onde houvesse um africano. Na foto um batuque por Kimbares (mbális, mbalis, vimbalis, ovimbalis) de Moçâmedes. O selo do postal vem datado, parece-me, de 1913.

 
Usos e costumes como as danças de Carnaval teriam penetrado na região de Mossâmedes após a chegada ali dos primeiros colonos oriundos de Pernambuco, em meados do sec. xix , que se fizeram acompanhar (alguns) de seus serviçais africanos, livres ou escravos, que transportaram consigo uma cultura própria, ainda africana mas já cristianizada, eivada de usos e costumes que eram já uma mistura luso-africana adquirida  no contacto com os seus "patrões", nas relações de trabalho em "Casas Grandes e Senzalas". Ou seja, eles já nada tinham em comum com os  povos que foram encontrar, vivendo em estádio tribal,  nas margens dos rios Bero, Giraúl e Curoca, ou deambulando como nómades e semi-nómades pelo Deserto do Namibe, vivendo da caça, do gado e do pastoreio,  e assim se mantendo, não se deixando assimilar por uma cultura diferente, (1) apesar da proximidade que passaram a ter com os recém chegados portugueses.  Ao contrário dos autóctones, os recém chegados vestiam panos, as mulheres pequenas blusinhas cobrindo o  busto, panos da cintura para baixo,  os homens calças e camisas,  todos andavam descalços e dançaram o Carnaval ao qual empregavam um cunho próprio, com as suas danças, e seus instrumentos musicais.   Retornados à África mãe,  de onde seus ancestrais haviam sido à força levados, esse pequeno grupo de africanos viriam  integrar o embrião do grupo social  "quimbar" de Moçâmedes, motor de um significativo  abrasileiramento cultural. A eles vieram juntar-se outros africanos na condição de semi-escravos e livres,  nesses tempos após a abolição do tráfico de escravos, não da escravatura interna, de perseguições e apresamentos de navios negreiros na costa angolana, após a queda do absolutismo e triunfo do liberalismo em Portugal (1834) e a publicação do Decreto de Abolição do tráfico de escravos pelo Visconde  Sá da Bandeira. Nascera assim  o grupo africano quimbar de Moçâmedes saído da fusão de povos de várias etnias e proveniências , espécie de assimilados mas ainda sem direitos de cidadania portuguesa, que mais tarde haveria de ser concedida a uma  ínfima quantidade dos africanos que dominavam códigos culturais europeus. Os escravos libertados de navios negreiros apresados, na sua maioria oriundos do norte e centro do território Angola, eram  enviados a partir  de Luanda para serem ali integrados nas novas unidades económicas em formação, por força da necessidade de mão de obra, com a implantação da agricultura de exploração e do sector da agricultura e das pescas, nesses tempos de mudança de paradigma colonial,  de reconversão económica  para negócios legais, a par do povoamento branco e desenvolvimento do território secularmente paralisado em beneficio do Brasil. 
 
O grupo social "quimbar" podia ser encontrado a viver tanto em Moçâmedes como espalhado pelas várias povoações pesqueiras e agrícolas do distrito, entre Benguela e a Baía dos Tigres, e entre Moçâmedes e o  Lubango, Humpata e Chibia. "Grupo social", porque, abandonada a fase tribal através da miscigenação, era já uma mistura de costumes afro-europeus, uma antecipação da Angola UNA, algo essencial para o progresso dos povos desavindos como se pretende nos nossos dias. 

Diz-se  que com o desenrolar da colonização alguns povos oriundos das margens do Bero, Giraúl e Curoca, entre os quais os Cuisses, Curocas e Hereros, ou mesmo os mais distantes Nhanecas-Humbes, Ambós e Ganguelas (W) (estes não tanto), teriam acabado por sofrer um certo grau de aculturação, mas a verdade é que ainda hoje, entre  alguns desses povos, a fase tribal se mantém uma realidade. Será o caso do Mucubal de Moçâmedes, 50 anos após a independência de Angola, resistente à integração, talvez por falta de interesse num projecto governamental aglutinador.
                                       

As chamadas danças indígenas de Carnaval concentravam-se no interior dos muros do velho campo de futebol de terra batida, ao fundo da Avenida da República, junto à Estação do CFM, e era daí que partiam para o desfile pelas ruas da cidade... Foto do meu álbum


As danças do Forte de Santa Rita e do plateau da Torre do Tombo, nos anos 1950. Foto do meu album


As danças do Forte de Santa Rita e do plateau da Torre do Tombo, nos anos 1950. Concentração no velho campo de futebol que ficava ao fundo da Avenida da Repúbica, junto da Estação dos CFM. Foto do meu album


Avançemos até aos anos 1950, e ao Carnaval tal como era festejado nas ruas da cidade de Moçâmedes, através de instrumentos de música e de rituais de dança africanas que lhe imprimiam um carácter profano,  além de transferirem para o plano simbólico e alegórico acontecimentos próprios da História e do quotidiano colonial.

Por essa altura eram quatro as chamadas danças de rua indígenas* em Moçâmedes: a do plateau da Torre do Tombo, a do Forte de Santa Rita, a do Benfica e a da Aguada. A concentração das "danças" do "Forte de Santa Rita", do "Benfica" e da "Aguada" começava cedo, e fazia-se no interior dos muros do antigo campo de futebol de terra batida, situado ao lado da Estação dos Caminhos de Ferro de Moçâmedes. Era dali que as danças partiam, desfilando pelas ruas de Moçâmedes, durante os três dias em que decorria o Carnaval, havendo algumas danças que representavam cortes europeias, lideradas pelos seus reis e pelas suas rainhas, que trajavam carnavalescamente à guisa dos reis e rainhas, aos quais não faltavam as respectivas corôas e os ceptros reais, corôas que nas rainhas eram  por vezes colocadas em cima de véus que vinham até ao chão, fazendo lembrar as santas dos altares nas igrejas católicas. Estas danças eram acompanhadas por cortesãos, guerreiros, feitiçeiros, a seguir aos quais ia o séquito de vassalos mascarados, alguns com insígnias especiais, numa clara alusão à forças políticas presentes na colónia.


Tudo servia de indumentária nesses três dias de paródia... Foto do meu álbum

Quimbares na década de 1950, com seus reis e suas rainhas, e damas de honor, festejando o Carnaval em Moçâmedes. Foto do meu álbum



"Quimbares" ensaiam passos de dança no interior do campo de futebol de Moçâmedes. Foto do meu album

 
E a dança saia à rua passando junto às pérgulas e aos caramanchões da Avenida...Foto do meu album


Mais atrás seguiam os bailarinos, dançando, cantando, erguendo paus, cartazes, bandeiras e estandartes, comandados pelo apito do mestre que comandava o ritmo da dança, rostos pintados, panos garridos, lenços coloridos, capas, colares, soutiens, pulseiras, brincos, óculos, chapéus de abas largas, bonés, calças listadas, casacas ornamentadas com adornos representando postos de exército, etc... Outros ainda exibiam-se semi-nús, com saia curta de sarapilheira, rostos pintalgados, penas na cabeça, simulando índios em suas lutas e rituais, azagaias, máscaras rudimentares de papelão, etc...

Os tocadores que utilizavam músicas compostas especialmente para os desfiles e vários instrumentos de percussão para marcar a cadência rítmica que se fundia com as passadas inimitáveis da dança: tambores, bombos, cornetas, reco-recos,  puitas, marimbas, n'goma,  dicanza, quissanges, apitos, chocalhos, etc, para além de outros objectos julgados necessários tais como latas, garrafas, ferrinhos...  E quando passavam em determinadas portas, as danças, comandadas pelo apito faziam a sua exibição que terminava com uma vénia cortês do líder, que recebia um «matabicho», gratificação em dinheiro, ou uma garrafa de vinho e algo para comer, o que vinha a calhar sobretudo quando a fome e a sede começavam a apertar...



O Dominguinhos ceguinho, poeta muito conhecido e acarinhado em Moçâmedes, que aos sábados percorria a cidade de ponta a ponta em busca de esmolas, era quem compunha a música e a letra da «dança» do Forte de Santa Rita. O cozinheiro do ti Óscar Almeida, o Major, era sempre o rei da «dança» do plateau da Torre do Tombo. As letras continham críticas sociais, apontavam para assuntos na ordem do dia, como o alcoolismo, o endividamento, as mulheres de mau porte, os amores perdidos, achados, frustados e maculados, mas também a crítica velada ao sistema político vigente era tema para canções. 
 
 E a festa terminava em apoteose, quando ao fim do dia, no regresso a casa, já bem bebidos e excitados, fruto da colheita de vários donativos conseguidos pelas "danças" no decurso das exibições efectuadas às portas das casas, os componentes de grupos rivais se encontravam frente a frente, lá para os lados do Cemitério, e do encontro redundava numa autêntica batalha campal de luta corpo a corpo, que obrigava à intervenção da polícia.

Dois povos, duas culturas!  Abordemos então o Carnaval, tal como era vivido no seio da comunidade europeia...
 

Cumprindo «rituais de iniciação» no antigo campo de futebol. Foto do livro de Paulo Salvador
 
 
Sabe-se  que, com o avanço da povoação impulsionado pelos luso-brasileiros de Pernambuco,  e com a chegada lenta mas progressiva dos algarvios, a partir de 1861, o Carnaval  entre os europeus começou a ser festejado como Entrudo, isto é, com uma carga "profana" que incluía várias diversões, em que não faltavam os tradicionais combates de carro para carro (de início entre carroças de tracção animal), numa verdadeira luta em que as armas eram os ovos, cocotes de farinha ou fuba, água de chafariz, água de cheiro, etc. etc..  E também com desfiles de trajes carnavalescos pelas ruas da povoação, festas em casas particulares, e, à noite, depois do jantar, como era usual entre algarvios, a saída à rua das "mascarinhas", em que grupos de pessoas de várias idades, disfarçadas com trajes improvisados, desde o simples lençol com dois buracos na direção dos olhos, simulando fantasmas, cajado na mão, calcurreavam as ruas, batiam de porta em porta, entravam e saiam, falavam com vozes disfarçadas, gesticulavam simulando um qualquer defeito físico, tendo a brincadeira como objectivo o reconhecimento dos mascarados, que não se davam a conhecer.  Era um uso e costume algarvio, ainda no início da década de 1950, comum entre as gentes do Bairro da Torre do Tombo, cujos moradores eram na  maioria algarvios dedicados às artes pesqueiras. Num tempo em que não havia à venda as requintadas máscaras de hoje, a improvisação era a saída. Eram paródias nocturnas e diunas que se foram perdendo entre a comunidade branca, conforme se avançava no século XX.  Com o correr do tempo, o Carnaval de Moçâmedes passou a insinuar-se no interior dos salões dos clubes desportivos que desde 1919 iam surgindo, tais como o Ginásio Clube da Torre do Tombo, o clube pioneiro, onde as pessoas se divertiam em animados bailes de máscaras, que canalizavam gente de todos os cantos da cidade nesses tempos em que o ritmo da dança passou a ser ditado pelas valsas, os tangos, mas também o charles'ton, essa dança vigorosa em que as mulheres agitam os vestidos, balançando os longos colares e ondulando as plumas e os leques, cruzando e descruzando as mãos sobre os joelhos... mas também as marchinhas inspiradas pela cadência rítmica dos ranchos populares...

Mas aconteciam também naquele clube desportivo e recreativo, concursos de máscaras carnavalescas infantis e juvenis, para além de recitais, momentos de teatro, etc, que decorriam no pequeno palco da sala anexa ao salão de baile. Na foto um grupo de crianças que no início dos anos 1930 participaram numa dessas festas.
 

 Foto gentilmente cedida por Maria Etelvina Ferreira de Almeida datada de 1938, numa festa realizada no Ginásio em Moçâmedes.

Foto gentilmente cedida pelo Dr. Farrica. Anos 1940.


Durante os três dias de Carnaval tudo servia de paródia em Moçâmedes, inclusive imitar A ou B, ou seja,  imitar a silhueta de alguém, demasiado gordo ou demasiado magro, capaz de desencadear o riso que a quadra suscitava. Na foto, a moçamedense Regina Peixoto (proprietária da Papelaria Regina, na Rua da Praia do Bonfim) num Carnaval algures na década de 1940, vestida com o fato do Dr. Novais que há época era o director do Hospital de Moçâmedes. A seu lado, a esposa do Dr Farrica.
 
Esta era a chamada "juventude rebelde" de Moçâmedes por volta de finais dos anos 1940, início de 1950. Eram destemidos, provocadores, irrequietos, mas cujo comportamento se transformava radicalmente, quando, ao anoitecer, começavam as matinées dançantes nos clubes da terra (ao tempo, no Aero Clube, no Atlético Clube de Moçâmedes ou no Clube Nautico), sabendo ser romântica, quando as circunstâncias convidavam a tal... Entre outros, à esq. para a dt: José Adriano Borges, Amadeu Pereira, Norberto Gouveia (Patalim), Caála, ??, Mário Bagarrão, Helder Cabordé, Renato Sousa Veli, Artur Paulo Carvalho (Turra), ?? .

Batalha de "cocotes na zona do "Quosque do Faustino", entre bilibaus e tragateiros. Foto do meu álbum
Foto do meu álbum

Era assim que o Carnaval, na sua forma semi-entrudesca, atingia o seu clímax em Moçâmedes, com as fustigantes "batalhas de cocotes" entre grupos "rivais", como mostra esta foto, tirada em 1955 nos jardins da Avenida da República.

Estas "batalhas" tanto se desenrolavam no terreno, corpo a corpo, como a partir do cimo de camionetas de caixa aberta alugadas para o efeito e enfeitadas com folhas de bananeiras, que se deslocavam ao longo da Avenida, e ao se cruzarem davam origem a violentos e cruzados "bombardeamentos" de cocotes. Para tal, cada grupo de véspera começava a confeccionar os ditos «cocotes» colocando pequenas porções de farinha de trigo dentro de quadrados de fino papel de seda de várias cores, e atando-os com linha de forma a produzirem pequenas bolas, prática possivelmente herdada dos chavaris medievais que incluiam zombarias, pancadarias simbólicas, enfarinhadas, seringadas e molhaças que decorriam nas ruas das cidades. Esta a memória de um tempo que nos apraz aqui registar, um tempo que não volta mais, o tempo da nossa adolescência, da nossa juventude descontraída, despretensiosa e alegre, em que as ditas "batalhas" deixavam durante três dias a cidade irreconhecível, tendo a Câmara Municipal de Moçâmedes que, logo pela manhã, mandar proceder à limpeza daquele local, que era o epicentro da cidade.


Bilibaus e Tragateiros. Foto do livro de Paulo Salvador


Carnaval de 1955 em Moçâmedes. "Bilibaus" e Tragateiros" antes das "batalhas de cocotes" . Da esq. para a dt., em cima: Leão da Encarnação, Mário de Figueiredo, ?, António Ferreira (Penha), Amadeu Pereira, Fernando Pessanha, Anatálio Pereira, ?, ?, ?, Norberto Gouveia e António Barbosa. Embaixo: Albertino Gomes, José Adriano Boorges, João Bernardinelli, Wilson Pessoa, Edgar Aboim, ?, João António Guedes, ? , Renato Sousa Veli, Artur Paulo de Carvalho (Turra) e Mário Júlio Peyroteu...


Outro grupo de intervenientes na "batalha de cocotes", este do bairro da Torre do Tombo. Foto do meu álbum . 1955.


No topo: Zequinha Esteves, ? e Amilcar Almeida. De pé: Arménio Jardim, José Patrício (aviador), ?, Nelinho Esteves, Bulunga, Eduardo Faustino (gémeo) Lopes, Fernando Pessanha, Armando Esteves (Trovão), José Carlos Lisboa (Lolita), Manuel Cambuta, João António Bagarrão Pereira (John), Mário Ferreira e Gabriel. De joelhos: ?, Pedro Eusébio, Joaquim Gregório, Bernardino (Noca), Zeca Carequeja, ?, Eugénio Estrela, Dito Abano e Rui Carapinha. À frente ?.


Desfile de carros alegóricos: "O Tragateiros". Foto do meu album.


A evolução do Carnaval permitiu um novo tipo de exibição: o desfile de carros alegóricos que em Moçâmedes foi inaugurado nesse fabuloso ano de 1955, e que decorreu, como não podia deixar de ser, ao longo da longa Avenida da República. Nesta foto, podemos ver o grupo "Os Tragateiros" empurrando  um veículo transformado numa enorme pipa de vinho.


Desfile de carros alegóricos em 1955.  Foto do meu álbum.


Esta foto mostra-nos o carro representativo do Bairro da Torre do Tombo passando junto do edifício dos Correios. Integravam o desfile, neste carro: Osvaldo Correia, Óscar, José Duarte, Eurico, Nidia Almeida, Eduarda Bauleth Almeida, Celisia Calão, Ricardina Lisboa, Manuela Bodião, Salete Braz e Francelina Gomes (quase todas as componentes femininas faziam parte da equipa de basquetebol do Ginásio Clube da Torre do Tombo).

Neste Corso em 1955 participaram mais de uma dezena de carros, que poderão ser vistos, mais pormenorizadamente, clicando Aqui . Do cimo dos "carros", grupos de foliões, rapazes e raparigas, em brincadeira animada, com os que os observavam  a partir da Avenida, ou acompanhavam a pé o cortejo, trocavam confétis, serpentinas, flores, etc. Foi o Corso possível, nesses tempos em que só o engenho e a arte podiam suprir a carência de materiais disponíveis no mercado moçamedense, fruto da reprovável política de import/export então prosseguida pela Metrópole em relação a Angola que durante muito tempo impedira a colónia de progredir. A verdade é que este Corso ficou para sempre na memória daqueles que na época viviam em Moçâmedes, nesses tempos anteriores a 1960 e à explosão populacional que a partir daí se verificou em toda a Angola, quando ainda todos nos conhecíamos e "todos eram primos e primas".

O carro alegórico representativo do Banco de Angola, passando junto da sede do referido Banco. Foto do meu álbum

O carro alegórico representativo do Banco de Angola passando junto do edifício onde ficava a Papelaria Regina... Foto do meu álbum
O carro alegórico representativo do Grupo Desportivo do Banco de Angola foi o mais requintado e por via disso, o vencedor!


Este carro alegórico representava a firma João Pereira Correia, Lda. (de João Pereira Correia e José Duarte), representantes em Moçâmedes das máquinas de costura Oliva. Foto do meu álbum 

 
Momento da eleição dos reis de Carnaval num baile realizado em Moçâmedes em 1955

A foto acima mostra-nos o momento da eleição do Rei e da Rainha num baile de Carnaval realizado no salão do Atlético Clube de Moçâmedes em 1955. A Rainha eleita tinha sido a Maria Júlia Maló de Abreu (Pitula), filha de Moçâmedes, à época basquetebolista no Sporting Clube de Moçâmedes. O Rei, escapa-me o nome, sei que trabalhou na Casa das Noivas, que corria na maratona de fim de ano em Moçâmedes, e nada mais. A entrevistar os eleitos, o chefe de produção do Rádio Clube de Moçâmedes, Carlos Moutinho, tendo a seu lado Oliveira (Maboque). À esq. Lalai Jardim, por detrás da "Rainha", Silvestre, e mais à dt, Arnaldo Matos?, Renato Velim, Mário de Sousa; um pouco baixo, Simão. Ao fundo, elementos do animado conjunto musical "Os Diabos do Ritmo", que na foto a seguir surge em pleno, e do qual fizeram parte, nesta noite, o pianista e acordeonista Albino Aquino (Bio), Albertino Gomes, Frederico Costa e Marçal. Faltava aqui o Lico Baía (acordeonista).

Recordar os bailes de Carnaval em Moçâmedes é recordar momentos inesquecíveis de grande animação passados nos salões do Ginásio Clube da Torre do Tombo ou do Aéro Clube (até finais de 1940), nos salões de festas do Atlético Clube de Moçâmedes e do Clube Náutico (Casino), após 1950. E alguns até no velho Ferrovia. 
 
É recordar "assaltos" que tiveram lugar em garagens de casas particulares, e ir mais longe às histórias contadas pelas nossas avós de um tempo em que não existiam clubes nem salões e as festas decorriam ao ar livre, dançando-se em cima de estrados de madeira montados para tal, ou em casas particulares e no interior de antigos barracões. Um dos momentos culminantes destes bailes era o momento da eleição do Rei e a da Rainha da festa, recaindo a escolha, infalivelmente, nos mais divertidos da noite.

Eram bailes onde todos se divertiam em conjunto, pais, filhos, tios e primos, e até avós. A década de 1950 foi uma década de transição entre duas épocas, não obstante se dançasse ainda, e muito, os clássicos e muito solicitados tangos e valsas (como «Comparcita», «Caminito», Danúbio Azul, Valsa dos Patinadores, etc.), também se dançavam baiões, marchas, passodobles, rumbas, slows, boleros, etc., não obstante já terem entrado em cena modernos rock-and-roll e twist. Mas eram sobretudo as marchinhas brasileiras, os animados baiões, os passodobles e as rumbas que nos Carnavais predominavam. Uma marcha que nunca podia faltar nos bailes de Carnaval em Moçâmedes, sobretudo nesses tempos em que actuavam os "Diabos do Ritmo", era a marcha brasileira "Você pensa que cachaça é água...". Era com ela que geralmente encerravam os bailes de Carnaval. E também passodobles... A «Comparcita» de Carlos Gardel era o tango eleito pelos namorados, pelo prazer da proximidade física por instantes socialmente tolerado, e pelo romantismo que os tangos acarretam. "por instantes socialmente tolerado", sim, porque nos anos 1950 ainda as raparigas eram alvo fácil para críticas muitas vezes demolidoras que punham em causa a sua reputação... A verdade é que ninguém parava até ao raiar do dia, e quando o baile chegava ao fim, toda a gente pedia mais uma musiquinha... Ninguém saia dali cansado! Terminado o baile, era comum os rapazes sairem dali directamente para a praia, para  uns refrescantes mergulhos. E a partir das 17hs do novo dia, lá estavam todos de novo, fresquinhos que nem um alface, caidinhos para a matinée dançante! 

Acontecessem no Ginásio de outros tempos, ou no Aero Clube, no Ferrovia ou no Atlético, ou ainda no requintado Casino,  os Carnavais e os Reveillons de Moçâmedes, bem como qualquer matinée dançante ou baile que ao longo do ano tivesse lugar, tinham sempre a lotação das mesas esgotava, restando aos mais jovens, do sexo masculino, ficarem de pé junto ao átrio de entrada dos salões, enquanto as raparigas, as senhoras e os casais mais idosos ocupavam o conjunto de mesas que rodeavam os salões.




O conjunto musical os «Diabos do Ritmo» era nesta década e início dos anos 1960, o grande animador das festas da cidade de Moçâmedes, pelos animados bailes que proporcionou, que se prolongavam pela noite fora até ao raiar do dia, bem como pelas matinées dançantes, aos domingos à tarde, que acabavam impreterivelmente às 20 horas. Segue um poema dedicado por Neco Mangericão a este conjunto por um moçamedense:




DIABOS DO RITMO

Às meninas do meu tempo
Acabei de ouvir a história dum violão
Uma coisa tão linda assim,
trouxe-me a velha recordação
de um grupo folião e seresteiro,
de malta pobre e sem dinheiro
mas com muita, muita vocação.

Ai que saudade sinto em mim
desse tempo pioneiro
em que vos tiravam da cama
acordes que subiam em chama
numas canções apaixonadas,
tocadas e em coro e cantadas
pelo Jaime Nobre, o Albertino
pelo Neco, o Cereeiro, o Bino (*)
e o Lito Baía, viola fenomenal,
e, ainda, pelo barbeiro Marçal

Assim passávamos o verão,
entre capoeiras assaltadas,
serenatas e churrascadas,
ou caranguejadas e afins,
lá na Aguada, no Martins,
que as fazia, a troco de nada.

E o tempo tudo levou.
Tudo passou e acabou
Aquela malta boa e temerária
seus instrumentos arrumou,
eu já não tenho o meu bandolim,
e a nossa voz p'ra sempre voou,
tal como também se acabou
aquela Banda extraordinária
que "Diabos do Ritmo" se chamou,
e que o nosso grupo formou.

Não se voltou a ver outra assim...
Quem se lembrará hoje dela?

(*) Desculpa lá Bio, pus Bino só para rimar NECO

(João Manuel Mangericão)

A propósito, os "Diabos do Ritmo" tinham por hábito fazer de quando em quando, no Verão, aos fins de semana, por volta da meia noite enquanto a cidade dormia, serenatas à porta das casas das raparigas, deslocando-se para o efeito em camionetas de caixa aberta que transportavam também os instrumentos musicais (por vezes até o piano). Eram serenatas umas vezes efectuadas por iniciativa dos músicos, outras vezes encomendadas por namorados que se juntavam aos músicos e até participavam do coro. E nem todas as raparigas as recepcionavam de igual modo. Umas, com mais à vontade e desinibição, vinham às janelas oferecer sorrisos e agradecimentos e até algo de comer/beber. Outras, mais tímidas, limitavam-se a observar e a escutar as românticas canções, embevecidas, por detrás das cortinas... Todas felizes com a genial ideia!



Muita gente conhecida nesta foto, para além de Maria Lídia e Arlindo Cunha (pequeno comerciante pa praça), os reis do Carnaval 1954, no Atlético. Entre outros, da esq. para a dt, por detrás dos eleitos: Renato de Sousa Veli, ?, Tó Zé Carvalho Minas, Carlos Moutinho (chefe de produção do RCM), Jesuína Almeida Carvalho, Carla Almeida Frota, Beatriz Almeida Frota, Alvaro dos Santos Frota e José Adriano Borges (o popular tio Alegria dos programas infantis das manhãs de domingo no RCM, e treinador, fundador e jogador de hóquei em patins do Atlético Clube de Moçâmedes) .

Mais um animado baile de Carnaval ocorrido na cidade de Moçâmedes, este no Salão do Clube Náutico (Casino), em 1954. E como não podia deixar de ser, foi também abrilhantado pelos famosos "Diabos do Ritmo". Através da foto podemos ver o acto da coroação do Rei e da Rainha da festa, ou seja, de Maria Lídia e de Arlindo Cunha, os mais dados à paródia. Maria Lídia foi em 1954 a merecida «Rainha» deste baile de Carnaval, senhora de uma vivacidade contagiante, para além disso cantava lindamente e emanava uma simpatia que não podia deixar de prender aqueles que com elas tiveram o privilégio de contactar. Arlindo Cunha, o «Rei», marcava pela seu modo de ser e de estar, pela sua simplicidade e boa disposição, era um homem apaixonada pelas coisas de que gostava, dinâmico e empreendedor, e um grande amigo e mecenas do Atlético Clube de Moçâmedes.


Baile no Atlético. Foto do meu álbum pessoal


Esta foto foi tirada nesse mesmo baile de Carnaval de 1954, no Clube Náutico (Casino). Foi o meu primeiro baile! Entre outros, da esq. para a dt, Rui Bauleth de Almeida (RCM) e a inesquecível e irrequieta Octávia de Matos, Nídia e Arménio Jardim (hoquista do Atlético), Marta e Gabriela, Antunes Salvador (fotógrafo) e Justina Salvador, à esq. Um pouco atrás, à esq., Monteiro, Cristão (Quitólas) e Artur Homem da Trindade (desenhou as vivendas e os edifícios mais bonitos de Moçâmedes).

Havia ainda os "Assaltos de Carnaval" levados a cabo no Hotel Central, ou em casas particulares, geralmente em garagens de vivendas, organizados por grupinhos de mascarados, que combinavam fazer a festa, é claro com tudo previamente autorizado pelos os moradores.


Carnaval em Porto Alexandre (Tombwa). Fotos cedidas por Álvaro Faustino

Por esta altura (anos 50/60), na vizinha Porto Alexandre (actual Tombwa), a sua juventude não deixava em mãos alheias as festividades do Carnaval. Para além dos animados bailes de salão, podemos ver aqui, como no seio daquela comunidade europeia, à semelhança das chamadas "danças indígenas", aconteciam também danças de rua. Era como que uma interpenetração de culturas que estava em marcha, fenómeno aliás deveras interessante.

Carnaval de rua em Porto Alexandre. Foto cedida por Álvaro Faustino
Carnaval de rua em Porto Alexandre. Foto cedida por Álvaro Faustino
Em Porto Alexandre, Carnaval sem Gigantones e cabeçudos não era Carnaval...Foto cedidas por Álvaro Faustino
Baile de Carnaval em Porto Alexandre. Foto cedida por Álvaro Faustino
Baile de Carnaval em Porto Alexandre. Foto cedida por Álvaro Faustino

Divertidos como era os alexandrenses, também os bailes do Recreativo (anos 50, 60, 70...) eram inigualáveis, pela alegria e pela camaradagem com que se desenrolavam. Aliás o que se poderia esperar de uma festa onde o casal Álvaro Faustino e Elizabete Pessanha estavam presentes? Paródia, paródia e mais paródia!



No Clube Nautico em 1960, crianças num concurso de máscaras infantis: Fernanda Alves, ?, ?, Graciete Vaz Pereira e Tita Vaz Pereira. Foto cedida por um conterrâneo

Mas o Carnaval em Moçâmedes tinha outras facetas que não devem ficar esquecidas. Eram os concursos de máscaras de Carnaval dedicados aos mais novos que decorriam quer no Cine Teatro de Moçâmedes, quer mais tarde no Cine Esplanada Impala, ou ainda nos salões do Atlético e do Clube Nautico (Casino).


Nesta foto, Bellany Veiga Baptista faz a sua apresentação no Clube Nautico?, vestida de nazarena. À dt. Albertino Gomes (a dt.), o "endiabrado" baterista do conjunto musical "Diabos do Ritmo» Foto cedida por Marizete Veiga Baptista.


Foto cedida pela Leninha Jardim

Leninha Jardim Vilaça, vencedora num dos Concursos Infantis de Carnaval realizado no Impala Cine, no início dos anos 1970

Outro Concurso Infantil, onde se evidencia, vestida de "boneca" no interior de uma caixa de papelão, a pequenita Carla Branco Câmara (Caly). 1970. Foto cedida pela mãe da Caly.


Voltemos mais um vez ainda ao Carnaval de rua dos africanos que teve o seu grande "apagão" em 1961, ano do início da luta armada do "exército português" contra os movimentos de libertação, em consequência dos massacres selvaticamente perpretados pela UPA (União dos Povos de Angola, mais tarde FNLA), não contra os ditos "colonialistas" exploradores do povo angolano, esses estavam bem de vida e a bom recato, mas contra gente trabalhadora e indefesa, europeus e africanos, que ganhavam o seu pão a trabalhar duro nas fazendas do norte de Angola. 

A partir de então, com a proibição de ajuntamentos e  manifestações de rua, acabaram as "danças indígenas" que durantes três dias desfilavam, cantando e batucando pelas ruas da cidade. 

Acabaram as exibições de máscaras, e até as animadas batalhas de «cocotes» que deixavam a Avenida da República e as ruas laterais todas desarrumadas e cobertas de farinha chegaram ao fim. 

O Carnaval, grande festa do povo acabou, abruptamente. Até deixámos de ver desfilar na Avenida os corsos de carros alegóricos, uma prática recente patrocinada pelos clubes e pelos jornais da terra, que dava oportunidade para competições e fazia jus a prémios patrocinados por casas comerciais aos carros melhor ornamentados, imprimindo à festa as características de um Carnaval europeu. 

A quadra carnavalesca a partir de 1961 perdeu a graça e a alegria que havia proporcionado durante décadas à juventude da nossa terra, e a todos quantos na festa se queriam incorporar. Durante o interregno que se seguiu, o qual foi mais prolongado em Moçâmedes, as festas passaram a ser realizadas no interior dos salões dos Clubes desportivos da cidade e em casas particulares, através de bailes e «assaltos» de Carnaval, ou de um ou outro concurso de máscaras juvenis, e pouco mais. Tenha-se em conta, porém,  que por essa altura deu-se o início das "Festas do Mar"(1961), muito do antigo brilho do Carnaval foi desviado para as ditas festas, cujas datas eram muito próximas.


Mas a grande festa acabou por regressar às ruas de Moçâmedes. Não tão rapidamente nem com o deslumbramento como veio a acontecer alguns anos depois em cidades como Luanda Lobito, que apresentavam já  com uma certa organização, regulamentos próprios e um novo tipo de promoção que incluía desfiles cada vez mais grandiosos, transformando-se em cartaz turístico.

As fotos que seguem mostram-nos um desfile de Carnaval ocorrido em 1974, às vésperas do golpe militar de 25 de Abril, ou seja, um ano e meio antes da Independência de Angola. Por esta altura ninguém imaginava o que vinha a seguir...





Jovens africanas ostentam roupas coloridas que remetem para uma cultura carnavalesca de abrasileirada.  

Fotos cedidas por um amigo

A par das "danças de rua" nesse derradeiro Carnaval de Moçâmedes assistiu-se a um desfile em torno da Avenida da República que teve a participação de jovens africanas e jovens europeias como estas duas fotos testemunham, umas brasileiramente vestidas, com sedas e setins alaranjados, brincos, colares, turbantes, etc... 

Outras exibindo trajes que evocavam usos e costumes da cultura greco-romana, raiz da cultura europeia, onde não faltava o coche, símbolo do poder monárquico dos séculos XVII e XVIII.


Mas também desfilarem carros alegóricos que transportavam em sí outras mensagens, como o  da JAEA  (Junta Autónoma de Estradas de Angola), a sugerir a nova Angola progressiva e multirracial que se pretendia para o futuro... 
 
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Por esta altura, fruto da nova política  de assimilacionismo acelerado,  levada a cabo pelo Estado Novo a partir das lições colhidas com o trágico 1961, já muitos africanos ocupavam lugares de destaque um pouco por toda a Angola, sobretudo no funcionalismo público. Mas todas as medidas implementadas nesses 13 anos, visando recuperar o tempo perdido, revelar-se-iam tardias demais...

Este foi, pois, como que um derradeiro Carnaval, que se revelou num encontro de culturas jamais visto, a encerrar o ciclo dos carnavais coloniais em Moçâmedes, a grande festa do povo  levada pelos portugueses, que durou ali  pouco mais que um século. 

Mas o derradeiro Carnaval foi mesmo o de 1975, já muito próximo do dia marcado para a independência de Angola.

Alexandrenses parodiando o seu último Carnaval em terras do Namibe... Foto de Alvaro Faustino. 1975


1975, no recinto do Ferrovia. Foto de Álvaro Faustino


Segundo informações recolhidas, estas fotos foram tiradas no "último Carnaval" festejado em Moçâmedes.  Até Maio de 1975, a situação em Moçâmedes decorreu com uma certa acalmia,  e nada parecia perturbar ou demover a vontade das gentes de Moçâmedes e de outros pontos do distrito, de alí se manterem e se divertirem.

Seguem algumas fotos tiradas na cidade do Namibe, já no pós independência (desconhecemos a data). As tradicionais "danças indígenas" tinham voltado em força às ruas da cidade após a DIPANDA...


 
 



Cantando, dançando e batucando, o Carnaval possibilitava de novo  o extravasar de emoções por demasiado tempo contidas na alma do povo. Um Carnaval de cariz mais genuinamente africano nas suas raízes, mais popular, mais primitivo,   como que sobrepujando o formalismo "pomposo" do desfile do Carnaval à europeia...

Para terminar, falemos um pouco da História do Carnaval, que começou há mais de 4 mil anos antes de Cristo, no antigo Egipto, com determinados rituais de cariz religioso e agrário na época das colheitas, tais como as festas de culto a Ísis. Desde então as pessoa pintavam os rostos, dançavam, bebiam, divertiam-se, libertando tensões acumuladas. Há também indícios que o Carnaval tem origem em Roma em festas pagãs, rituais de orgia e danças em homenagem ao Deus Pã e Baco. Eram as chamadas Lupercais e Bacanais ou Dionísicas. Com o advento da Era Cristã, a Igreja para conter os excessos decidiu-se pela inclusão do período momesco no calendário religioso, e o Carnaval ficou sendo uma festa que termina em penitência na quarta feira de cinzas. Mas estas acentuavam no período que antecedia a Terça-feira Gorda (o último dia em que os cristãos comiam carne antes do jejum da quaresma), no decurso do qual haveriam que ter també abstinência de sexo e até mesmo das diversões, como circo, teatro ou festas. De acordo com o calendário gregoriano, o Carnaval é uma festa móvel cuja data é indicada pelo domingo de Páscoa, também para que não coincida com a páscoa dos judeus. regra,segundo a qual o domingo de Carnaval cairá sempre no 7º domingo que antecede à Páscoa. Na Idade Média, predominavam os jogos e disfarces. Em Roma havia corridas de cavalos, desfiles de carros alegóricos e divertimentos inocentes como a briga de confetes pelas ruas. O baile de máscaras foi introduzido pelo papa Paulo II, no século XV, mas ganhou força e tradição no século seguinte, por causa do sucesso da Commedia dell'Arte. As mais famosas máscaras era e ainda são as confeccionadas em Veneza e Florença, muito utilizadas pelas damas da nobreza no século XVIII como símbolo máximo da sedução. Na Europa um dos principais rituais de Carnaval foi o Entrudo, termo latino que significava a abertura da Quaresma, existente desde 590 d.C., quando o carnaval cristão foi oficializado. O povo comemorava comendo e bebendo para compensar o jejum. Mas, aos poucos, o ritual foi se tornando bruto e grosseiro e atingiu o máximo de violência e falta de respeito em Portugal nos séculos XVII e XVIII, com homens e mulheres a atirarem água suja e ovos das janelas dos velhos sobrados e balcões, enquanto nas ruas havia guerra de laranjas podres e restos de comida e se cometia todo tipo de abusos e atrocidades.


Ficam mais estas recordações.
(ass) MariaNJardim



(1)  O deserto do Namibe era maioritariamente povoado pelo povo etnolinguístico Herero, Helelo, ou Ovahelelo, entre os quais se destacam os subgrupos Cuvales, Dimba, Chimbas, Chimucuas, Cuanhocas e Quendelengos. Eram povos insubmissos, resistentes à integração, que preferiam deambular pelas margens dos rios Bero, Giraúl, Vintiaba/Bentiaba, por toda uma zona que abrange uma área que se estende pelas encostas da Serra da Chela, e chega muito perto do Chiange, mantendo o seu estatuto de tradicionais pastores/criadores de gado, e praticando uma vida nómada, devido à constante procura por pasto e água de que o Deserto do Namibe, o habitat onde vivem, carece, por falta de chuvas.

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