sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Districto de Mossamedes, Moçâmedes, Namibe, Angola: 1892





 
Carta de Angola de 1892 com a delimitação dos quatro distritos: Congo, Luanda, Benguela e Mossâmedes




O Districto de Mossamedes acha-se comprehendido entre os parallelos 13.0, 50' e 17.0, 25' de longitude austral. Confina ao norte com o districto de Benguella, a oeste com o Oceano atlântico, ao sul com as possessões allemáes, das quaes é separado pela porção do rio Kunene, cujo rumo segue na direcção les-oeste desde a Hinga até á foz e a leste estende-se até os limites ainda não difinidos da provinda de Angola.

A parte explorada do districto, a que é habitada pela raça branca, e por isso desperta o interesse descriptivo, abrange uma vasta extensão de território, que se prolonga na linha norte-sul desde o parallelo que passa pelo cabo de Santa Martha ao curso inferior do Kunene e na Unha les-oeste desde a costa maritima ao curso ascendente do mesmo rio até o Lucéke. E esta a zona que pelas suas benéficas condições de clima e riqueza geológica tem sido percorrida, habitada e colonisada pela raça europêa, e a unica que sob o ponto de vista da adaptação da raça branca merece ser conhecida.
O districto de Mossamedes divide-se em duas zonas bem distinctas: uma, que se prolonga de norte a sul com a costa marítima, é baixa, secca e arenosa; e outra, que se segue d esta e d'ella se separa pela cordilheira da Chella (Tyela), abrange toda a vasta bacia do Kunene, é alta, chuvosa e ricamente arborisada; constitue o plan'alto proveitosamente explorado pela raça branca, mercê da benignidade do clima e abundância de elementos de riqueza agrícola e commercial.

A estas duas zonas tão nitidamente separadas pelos seus caracteres geológicos correspondem modalidades climatéricas, que imprimem profundas modificações no modo de ser, nas cousas e nas pessoas.

Zona  baixa. Prolonga-se para o interior na extensão de 100 kilometros aproximadamente até os contrafortes da Chella e alarga gradualmente para o sul até o valle inferior do Kunene constituindo um vasto deserto arenoso. Esta zona eleva-se para o interior por modo insensível attingindo a altitude media de 500 metros nas proximidades da cordilheira da Chella. Distinguem-se n'ella duas fachas de terrenos, que correm com caracteres nitidos no sentido les-oeste: a primeira, litoral, formada por extensa planície de areia solta com alterações de relevo em dunas e ravinas, onde as chuvas são raras e de pouca duração; a segunda, interior, prolongando-se com a Chella, pedregosa, com vegetação que augmenta á maneira que se aproxima do planalto e que marca o limite das aguas permanentes que correm da zona alta.

Os terrenos que formam a zona baixa pertencem pelos seus caracteres geológicos á formação terciária. Encontram-se n'elles grande numero de géneros de conchas e algumas variedades de grés calcarifero com moldes de bivalvas e rochas formadas por uma aglomeração de conchas ligadas entre si por um cimento calcareo. Em muitos logares afastados da costa marítima e em altitudes superiores a 100 e 200 metros encontram-se calhaus rolados de calcareo silicioso e textura porphirica, que demonstram que esta zona em épocas remotas constituía um fundo do mar, que lentamente se foi elevando do seio do oceano. 

A rede fluvial da zona baixa comprehende os valles de S. Nicolau, Giraul (Dyraul), Bero e Koroká, cujos rios na maior parte do anno estão seccos; apenas levam agua durante alguns dias na estação pluvial, quando as chuvas torrenciaes do plan'alto, depois de encherem os afílu entes do Kunene, se despenham eminnumeras cataractas pela Chella abaixo. E' então que enormes massas de nuvens condensadas sobre? a região alta e açoutadas pelo impetuoso vento sueste são arrastadas para a zona baixa do valle de Kapangombe, onde se desfazem em catadupas, que conduzidas por milhares de regatos e ravinas formam enormes massas d'agua, que correm em rápidas e perigosas enchurradas, que enchem e alagam os terrenos marginaes dos valles por espaço de dias e mesmo horas.

Na facha arborisada de Kapangombe, liraitrophe da Chella, as aguas permanecem por alguns mezes por causa da dureza do terreno e por serem os rios na sua primeira porção alimentados pelo excesso das aguas do plan'alto. Na facha arenosa do litoral ellas desapparecem em pouco tempo por infiltração nas areias dos leitos dos rios. D estes o que conserva por mais tempo maior volume d'agua é o Bero, que ferti-lisa os terrenos de Mossamedes. Este rio é o primeiro a conduzir as aguas pluviaes da região alta e o que as conserva por maior espaço de tempo. Resulta esta circurastancia de ser o seu curso entre a Chella e o litoral mais curto e directo, formado em grande extensão por um leito de pedras e principalmente por ter a sua principal origem no plan'alto por intermédio de um a nascente que deriva para elleum grande volume de aguas colhidas na bacia do Jau(Dyau), durante a primeira parte da estação chuvosa do plan alto, de outubro a dezembro, quando ainda não teem cahido as primeiras chuvas na zona baixa; em quanto que os rios de S. Nicolau e Koroka são alimentados pelas chuvas que cahem sobre as vertentes occidentaes da Chella, o que só tem logar na quadra das grandes chuvas da zona alta, de janeiro a abril.

É de notar-se que o regimen pluvial d'esta zona difere considerável mente do da zona alta. N'esta apparecem as primeiras chuvas em setembro e prolongam-se até dezembro, formando a primeira parte da estação chuvosa, chamada das pequenas chuvas. N'esta quadra, dominando os ventos moderados do nordeste, as nuvens formadas por condensação no plan'alto descarregam sobre elle não chegando á zona baixa. Apenas de janeiro a maio, que comprehcnde a quadra das chuvas torrenciaes e dos ventos impetuosos do quadrante do sueste, e que as chuvas attingem a zona baixa e chegam á facha arenosa do litoral produzindo innundações passageiras, que ainda assim são o único recurso para a fertilidade dos terrenos agricultados nas proximidades de Mossamedes, taes são: as hortas do valle do Bero e Cavalleiros e as fazendas agrícolas exploradas nos valles do Giraul, Koroka e S. Nicolau. Lançado no mar o excesso das enchurradas, fica no solo do leito dos rios uma certa humidade que se conserva por espaço de um e dois inezes e um deposito de detritos orgânicos, que constitue um rico adubo aproveitado pelos agricultores que sobre elle fazem as suas plantações em pleno leito dos rios.

Estas fazendas produzem variadas espécies de cultura, taes como: algodão, cana saccharina, cereaes, legumes, hortaliças e arvores fructiferas. Empregam no arroteamento dos seus terrenos, 29 maachinas a vapor e possuem 32 engenhos de moer cana, e outros tantos alambiques para a distillaçáo da aguardente.

Pela disposição natural da zona alta, a sua maior altura corresponde á cordilheira da Chella e d'ahi para o interior desce suavemente para o sul e leste, do que resulta que a maior parte das aguas pluviaes correm ao Kunene; deriva para a zona baixa uma pequena porção, que na quadra das grandes chuvas cae sobre as vertentes occidentaes da cordilheira, fertilisando os terrenos do valle de Kapangombe.

Sobre a facha arenosa do litoral de Mossamedes chove muito pouco, duas ou três vezes por anno. Na facha cultivada em frente á Chella chove durante dois a três mezes, emquanto que na zona alta a estação chuvosa com prebende seis mezes no anno.

Convém observar que tem havido profundas modificações no regimen pluvial da zona baixa, cujas causas são pouco conhecidas. Em épocas remotas chovia regularmente todos os annos em quantidade bastante para encher os leitos dos rios. Os antigos agricultores estabelecidos no valle de Kapangombe e Biballa e os primeiros colonisadores de Mossamedes faliam com saudade dos primeiros annos da sua installação n'este districto, annos de chuvas abundantes e regulares; d'então para cá ellas teem diminuído progressivamente a ponto de passarem períodos de quatro e cinco annos sem cahir uma gotta de agua.

Quando pela infiltração e evaporação desapparece a humidade no leito dos rios e bem assim durante os annos de estiagem, em que as aguas por successivas infiltrações nas areias não chegam a humedecer os terrenos cultivados, recorrem os agricultores á irrigação com agua extrahida de poços praticados a profundidade de 5 a 15 metros. Na villa de Mossamedes todas as casas teem poços, que fornecem agua necessária para os usos ordinários. Esta agua é de má qualidade, pesada, salitrosa, produzindo perturbações digestivas. A existência de uma toalha liquida subterrânea na zona baixa, cujo nivel se mantém constante apezar das vicissi- tudes do regimen pluvial, é um facto incontestável, que nos leva a suppor que cila mantém estreitas relações com a bacia fluvial do plan'alto, que a alimenta como uma parte importante das suas aguas por infiltração atravez de ca- madas porosas, que seguindo as vertentes da Chella se pro- longam e continuam com o sub-solo da zona baixa. E de importância capital para o desenvolvimento das fazendas agricolasdo valle de Kapangomb e investigar com apparelhos próprios e aproveitar por meio de poços artesianos este filão de agua, que todas as razões induzem a crer que tenha a sua origem no plan'alto, cuja altitude media sobre o valle de Kapangombe é de 1600 metros. A agricultura n'esta zona, que foi o principal elemento de prosperidade e riqueza nos tempos áureos do districto, acha-se actualmente em estado de lastimosa decadência por falta de aguas que irriguem os seus fertilissimos terrenos. Os annos de secca succedem-se uns apóz outros com insistência esmagadora espalhando o desanimo por toda esta riquíssima região, cujos agricultores vão rareando, ceifa- dos uns pela morte, e outros obrigados por falta de recur- sos a abandonar a.s suas propriedades, fructo de longos annos de trabalhos. Os mais favorecidos, que ainda assim mantem as suas fazendas a troco de penosos sacrifícios, são os que se estabeleceram nas vertentes da Chella, onde aproveitam as primeiras aguas de pequenos regatos per- manentes, que descem do plan alto e formam as origens dos rios da zona baixa.

E' de urgente e inadiável necessidade proceder a estes estudos, pois que o bom êxito dos poços artesianos é im- portante medida de salvação para em breve espaço de tempo elevar ao primitivo apogeu a agricultura em Mossamedes, única fonte de riqueza da população branca do districto, que se acha abatida e depauperada nos seus re- cursos por tão longa estiagem sem esperança de melhores tempos. O primeiro ensaio a fazer-se deve naturalmente incidir na zona de Kapangombe por estar mais próxima da Chella e oíferecer por isso maiores probabilidades de bom êxito. Se d'esta tentativa sortir o desejado efeito, fácil será por suceessivas investigações animadoras estabelecer um systema de poços artesianos, que colloque a zona agricultada ao abrigo das vicissitudes de um regimen fluvial inconstante, o que concorrerá para desenvolver as propriedades existentes com valiosas culturas, crear novos centros de producção agrícola e animar os proprietários a converter os seus capitães em produetiyas fontes de receita. Esta falta d'agua torna-se sobremodo sensivel na facha de terreno sobre que assenta a estrada que parte de Mossamedes para o plan'alto, passando pelos sitios denominados: Pedra Grande, Pedra do Major, Providencia, Moninho e Kapangombe. Esta estrada é percorrida pelos vagons loers que fazem o transporte das mercadorias e productos agrícolas entre o plan'alto e o litoral, e vice versa; pelos viajantes, car- regadores e manadas de gado para consumo e exportação. Nos annos ordinários, em que não chove, não se encontra uma gotta d'agua nem pasto na maior extensão d'esta facha desde o valle do Giraul até o Moninho, do que resulta morrer á sede e á fome grande numero de bois que pucham os carros e dos que são enviados do plan'alto para exportação e consumo. Cada vagou é conduzido por 20 a 30 bois, dos quaes um terço e ás vezes metade succumbe por falta d'agua — 20 — durante os 10 ou 12 dias de viagem ftitigante por este deserto arenoso, atravez do qual os pesados veliiculos carregados com 100 a 150 arrobas de carga são penosa- mente arrastados pelos pobres bois famintos e sequiosos por entre densas nuvens de suffocante poeira. Está calculado que morrem annual mente n'este deserto 400 a 600 bois, o que representa iim enorme prejuízo para os seus proprietários, que para compensar tão grave dam- no elevam cada vez mais o preço do transporte. Basta saber-se que o preço do transporte de uma arroba de carga do litoral para o plan'alto importava, ha três annos, em I$000 réis e actualmente com a persistência das seccas e mortalidade no gado elevo u-se a 2$200 réis. Independente da perda material do boi, ha a accrescen- tar a perda da somma de trabalho que o boer dispende para amansa-lo e sujeita-lo ao serviço da canga. O boi bravo comprado nos centros productores dos Gam- bos e Humbe importa em 10 ou 15 mil réis e depois de amansado e ensinado vale 25 a 30. Calcule-se do desanimo que lavra entre os boers e portuguezes que vivem do aluguer dos seus carros para o transporte das mercadorias, sabendo-se que durante a estiagem rara é a viagem, em que não fiquem orlando a estrada os cadáveres de um terço ou metade dos seus bois a servir de festim ás hienas e lobos que infestam estas paragens. Para de algum modo atenuar tamanho prejuízo, que ameaça aniquilar a exportação de gado por via de Mossa- medes, pelo excessivo preço a que chegou, e que fere de morte os interesses commerciaes e agrícolas do plan'alto pela exhorbitante carestia e difficuldades de transporte, ordenou o governo o aproveitamento de uns tanques na- turaes cavados em uma grande rocha no sitio da Pedra Grande, a dois dias de viagem de Mossamedes, mandando construir uns paredões que conduzem para elles toda a agua das chuvas que cae sobre a enorme pedra que dá o nomc! a este sitio.

Existe n'este ponto uma casa do governo que serve de pousada aos via.jantes, um curral para abrigo do gado e algumas cubatas, em que residem os soldados do destaca- mento. Os tanques cavados na rocha são quatro e tem bastante capacidade. Quando sobre a rocha caem chuvas torrenciaes, os tanques enchem-se d'agaa, que se conserva por bastante tempo. E' d'esta agua que bebem os viajantes e o gado. Quando ella diminue e seguem-se annos de estiagem o governo só permitte que se tire a porção indispensável para uso dos viajantes, prohibindo que seja dada ao gado e para cumprimento d'estas ordens e vigilância dos poços tem ali um destacamento militar. O que fica dito para a Pedra Grande applica-se ao ponto denominado — Pedra da Providencia, com a diferença de não haver casa para viajantes nem destacamento militar. Encontra-se agua em cavidades das rochas e poças, quando chove; fora d'estas ccmdições anormaes a monotonia do terreno prolonga-se em desesperadora aridez até ao valle do Moninho, em cujas fazendas se encontra agua em cacimbas, que servem para a rega dos terrenos de cultura. A vegetação n'esta facha é rachitica, compõe-se da welvitchla miníbilis, falso cedro, algumas euphorbiaceas, espi- nheiros e acácias, que vegetam nos valles, ravinas e leitos dos rios seccos. Xa faciía de terrenos arborisados, que correra paralle- los aos contrafortes da Chella, a agua existe com abundan- dancia durante a estação das chuvas; nas épocas de estiagem não chega a irrigar a vasta área de terrenos cultivados. O districto de Mossamedes abrange uma arca de 176:250 kilometros quadrados, duas vezes a superficie de Portugal. Divide-se em sete concelhos, dois na zona baixa, que são: os de Mossamedes e Kapangombe, e cinco no planalto: os da Humpata, Lubango, Huilla, Gambos o Humbe, dos quaes os três primeiros formam a área de coloiiisação europêa, que explora os seus férteis terrenos; e os dois últimos, que pelas suas condições de clima nào se prestam á adaptação da raça branca, formam a área de exploração commercial com os indígenas e são os centros de permutação do gado bovino, cuja creação constíitue a principal occupação das raças indígenas, que povoam a riquissima zona do sul do planalto.
Continua...



FONTE "O Districto de Mossâmedes, J. Pereira do Nascimento, 1892


...........................................................................................................................................................


Vimos já que podemos considerar o Sul d'Angola dividido em quatro zonas orographicas, a cada uma das quaes corresponde um systema hidrographico. Indiquemos a traços largos, embora, o que se encontra mais saliente e característico em cada uma delias.

Zona do litoral

Na vertente do Atlântico, ou zona baixa do litoral, a rede fluvial é constituída por um certo numero de linhas d'agua que, originarias nas faldas ou contrafortes da serra da Chella, seguem para oeste e a curta distancia da costa inflectem o seu curso sensivelmente para noroeste, devido talvez á constituição e movimentos do terreno, dunas d'areia movediças em geral, açoitados pelo vento sudoeste. Todos elles são de corrente periódica ou curso intermitente, correndo permanentemente a agua apenas até alguns kilometros das suas origens, na quadra secca, até onde a evaporação ou a infiltração de terrenos permitte conserval-a, emquanto no restante curso até ao mar estão seccos, pelo menos á superfície, se bem que alguns conservem grossa toalha liquida sob as areias ou terrenos permiaveis.

Na quadra pluviosa, ou seja devido ás chuvas do planalto ou á natureza do terreno e formações da base da serra, os numerosos afluentes, ravinas e depressões enchem a trasbordar e, lançando-se nos rios. produzem enchentes rápidas e perigosas, alagam os terrenos marginaes, levando a enchurrada até ao mar. Terminadas as chuvas ou passada a trovoada, as aguas baixam e ficam reduzidas a pequenas correntes superficiaes, para em breve, prolongando-se a estiagem, seccarem de todo. E os arroios ou regatos formados do excedente das aguas da infiltração do planalto, delle descem em cascatas, sómem-se a alguns kilometros depois de entrarem na zona arenosa, ou depois de lhe faltar o terreno rochoso e impermiavel. Devemos notar que o regimen das chuvas tem aqui grande influencia na conservação das aguas destes rios. Emquanto na vertente oriental da Chella começa a chover em meados de setembro, alimentando logo as linhas de agua e as nascentes dalgumas que descem para occidente, na zona baixa só depois, de janeiro a maio, é que as nuvens formadas por fortes condensações na parte alta são impellidas pelo vento sueste para a zona litoral, provocando as chuvas que produzem algumas enchentes. O que parece, porem, não sofrer duvida é que o excedente das aguas do planalto se escoa por uma camada inferior para o litoral, atravez dos leitos desses rios e que, chegados á zona litoral, formam extenso lençol sub-arenoso. E é por isso que escavando alguns metros no litoral, ou até decimetros, nos rios, se encontra sempre agua. De todas essas linhas dagua as mais importantes e de curso independente, a começar pelo norte, são: o Carunjamba, Monaia-Cangando, S. Nicolau, Cuto ou Piambo, Giraul, Bero, Guroca e Tchiambala.

Carunjamba — O Carunjamba e o Monaia descem do nó montanhoso da Cavira na Chella e em rápido curso, declivoso e atravez de terrenos pedregosos, lança-se no mar, tendo agua apenas na epocha das chuvas.

S. Nicolau "...O S. Nicolau recebe todas as águas da vertente occidental da Chella desde o nó montanhoso da Cavira á portela da Quillemba pelos numerosos afluentes — Bentiaba, Cabia, Nongihue, Caniço, Mongonde e Maluco. Todos estes se conservam correntes duranle a maior parte do anno, seccando nalguns troços em Setembro, conservando, porem, agua todo o anno em represas naturaes ou escavações fundas das rochas. Depois da juncção destes afluentes o S. Nicolau conserva água permanente em numerosos pegos e fundões, quando não corre, o que nalgumas secções raras vezes deixa de acontecer. O curso deste rio e dos seus afluentes é declivoso e rápido, cheio de cascalho ou grandes pedras, enfragado e encaixado quasi sempre entre altas serranias. São hoje muito habitadas as margens dos seus afluentes no curso superior


 
Giraul— O Giraul recebe as aguas do ponto mais elevado da cordilheira da Chella, na sua ver- tente occidental, desde a Biballa ao Hokc, pelos S2US afluentes Munhino, Jimba, Sanla There:[a íLeba e Bruco), Bumbo (Banja) e Ovelundo. A' excepção do ultimo, estes rios descem mesmo do vértice da Chella e correm constantemente até á base da mesma serra, e nalguns annos até se lan- çarem e confundirem no Giraul. Entretanto em todo o seu percurso se encontra agua permanente retida em grandes escavações em rocha atulhadas de pedras e areias, ou correndo mesmo por sob estas. Nalguns sitios encontra-se sempre a descoberto, noutros em pequenas nascentes e em todo o seu leito se encontra agua á superfície, bastando escavar alguns decimetros para se descobrir, como Rio Nene até fazem os próprios animaes que vivem nas suas margens, — as cabras, antílopes, etc. Todo o seu curso é bastante declivoso e, serpentiando atravez de altos morros e em terrenos pedregosos, atulha o leito com grossos pedregulhos e areias. O Giraul é habitado junto da foz e em toda a sua bacia superior até alturas da «Nascente» onde actualmente vive muita gente. 
 
Bero. — O Bero recebe as aguas duma grande extensão da vertente oeste da Chella e ainda de uma grande parte do seu platcau. Estas derivam da Bata-Bata pelo Calombo, Bcmgolo e Cangalombe formando o Chacuto, do Jau e Onaheria pelo Quambambe e Munhere que formam o Tampa, e do Panguero pelo Tchipeio. Todos estes conservam corrente permanente até alcançarem o sopé da serra, depois de se terem despenhado pela vertente. Alem destes, outros afluentes de cursos periódicos, torrenciaes com as grandes trovoadas, formam o Bero, taes como o Hoke e Elephanlc que originam o Saiona e se lança nelle apenas no seu terço inferior. O Cambunga, Metaca, e outros que, seguindo para norte até se unirem ao Tampa, desviam depois para noroeste. O curso deste em tudo similhante ao Giraul e S. Nicolau, é de todos os da zona do litoral aquelle que conserva maior volume d'aguas correntes e estas se 14 manifestam até mais próximo do mar. E isso é devido não só ao facto do seu curso ser também o mais directo entre a serra e o litoral e á grande quantidade de aguas que constantemente recebe do planalto, mas ainda á natureza dos terrenos em que abre o seu leito, o qual, sendo rochoso e duro, está atulhado de pedras e areias, não permit- tindo a infiltração nem facilitando a evaporação. No terço inferior, porem, alastra sob extensa camada arenosa, formando lençol, até ao litoral da vasta bahia de Mossamedes e a agua, a não ser nas enchentes, só pode descobrir-se cavando na areia. O Bero é habitado no seu curso inferior junto aos Cavalleiros, e em todas as margens dos seus afluentes no curso superior até á confluência do Saiona, sendo nalguns pontos muito densa a população como em Bata-Bata, Ongheria e Tchipeio. 
 
 Curoca. — O Curoca, rio torrencial, intermitente e impetuoso nas cheias, tem as suas origens também no alto da Chella e é de todos o que offerece maior percurso. Recebendo as aguas dos terrenos dentre as duas cumeadas da Chella, que se separam a sul de Vana-Velombe, por vá- rios afluentes de curso quasi constante, dirije-se abertamente para oeste e depois de entroncar com a Damba dos Car- neiros, a uns 5 o kilometros do mar, inflecte para no-nor oeste até Passagem do Cunene na Hinga que, recebendo Outras dambas nas alturas de S. Bento, corta directamente para o Atlântico, formando a bahia de Pinda. No seu curso inferior apresenta o leito uma largura média de 5o a 6o metros por 3 de profundidade. Os afluentes principaes que canalisam as aguas do plateau, são: o Taca prove- niente do Panguero, o Mahipanjôo que vem do Pocólo, o Evero e Tiipembe, que se- guindo todos para sul se vão lançando no Otchinjau que vem de leste, e, depois de se precipitarem na Ompupa, formam o Curoca. Este recebe ainda um outro afluente de importância na quadra das chuvas e originário da Chella, o Luaia, e algumas dambas e córregos que canalizam as aguas torrenciaes nas epochas das grandes trovoadas. O Curoca é habitado no curso inferior e em todos os seus afluentes da bacia superior até á Ompupa e com grande densidade, especialmente no Panguero e Pocolo. Vertente interior da Ciíeiia Cunene. — A região interior e a leste da Chella e contigua á mesma constitue, como já vimos, a bacia hidrographica do Cunene, cujas aguas recolhe por numerosos afluentes convergindo nas duas margens. 
 
O rio Cunene, o maior de toda a região oriental de Angola do Sul, nasce no montanhoso nó do Cahululo (Jamba) no Huambo, districto de Benguella, e segue para sul com varias inflexões ora a sueste ora a sudoeste, entrando com esse rumo no dis- tricto de Huilla; depois de receber o Caculovar, inflete um pouco para su-sudoeste até formar as primeiras cataratas ao attingir os primeiros braços da serra da Chella. Correndo depois para oeste, despenha-se atravez de cachoeiras, rápidos e outras cas- catas, curvando para noroeste, e, depois de ter transposto por completo a Chella, segue para oeste até se lançar no Atlântico. i5 Todas as aguas da vertente interior da Chella até ás suas origens são suas tribu- tarias; na esquerda a sua bacia é limitada pela cumeada da serra do Sambo á Ntata que a separa do Cubango até ás origens do Cuveiay na serra Encoge e dalli para o sul as serras Cassinga, Capella e a linha de alturas em que se prolongam para sudeste e a separam da bacia deste ultimo rio, não recebendo depois mais afluente algum na margem esquerda, antes elle cede agua na época das grandes cheias por varias mulolas e chanas que vão unir-se ás formadas com as provenientes do Cuveiay no Etocha. O leito do Cunene na sua parte superior até entrar no districto da Huilla é alter- nadamente de pedra e arenoso, apresentando varias quedas e rápidos. Depois da foz do Quê é quasi sempre arenoso, apresentando no entanto muitos afloramentos rochosos até ao Quissuco, formando vários rápidos e cachoeiras, os quaes se repetem ainda umas tres vezes até quatro horas a montante do forte do Mulondo e uma a jusante do Quiteve, mas em que a pedra só attinge metade do leito ficando a Barco de casca d'arvore — Cunene no Quissuco outra livre; mais tarde tornam a apparecer, mais abundantes e compactas, em grandes desniveis, a tres horas para sul da Dongoena, formando as cachoeiras do lacavalle, os rápidos de Nanguari, varias cascatas e a catarata Ruacaná ou Kambelle pelas quaes as aguas se despenham. Para jusante o leito é quasi sempre em rocha com pequenos tra- tos cobertos de areia, forma vários rápidos e cachoeiras, até que, despenhando-se nas quedas Montenegro, entra novamente em leito arenoso e cheio de grandes blocos de ro- chas soltas para no curso inferior e já perto do mar quasi se sumir nas areias. As suas margens são altas e aprumadas nos troços em que o leito é pedragoso; são baixas e planas, nas partes de fundo arenoso. Depois de entrar no districto, as margens são alagadiças, formando estreitas chanas, alternando com terrenos em declive e ondulados até ao Mulondo. Deste ponto ao Quiteve a margem direita é elevada, quasi sempre a prumo sobre o rio, emquanto a esquerda é quasi sempre plana e alagada. Para jusante deste ultimo ponto dá- se o inverso, sendo a margem esquerda elevada, apenas com pequenas chanas de onde em onde, emquanto na direita se en- contram as maiores planuras. Para jusante da Dangoena as duas margens são sempre elevadas, nalguns pontos encaixadas entre serras, e somente a uns i oo kilometros da foz ellas abaixam e alargam, cobrindo-se de areias e tornando-se mal definidas. O desnível no curso superior, isto é, até entrar no districto é de 400 e tantos metros, e a corrente é rápida, á excepção de alguns fundões onde estagna. No curso médio o desnível é insignilicante, de 260 metros entre o Capelongo e lacavalle (Dongoena) e a corrente fraca, pelo que é amplamente navegável no regimen d'aguas médio e máximo, a jusante dos rápidos de lacavalle até 3o kilometros a montante do Mulondo Passagem a nado de um carro atrellado — Cunene e sendo também susceptível de o ser, desde que se façam os melhoramentos projecta- dos até ao Quissuco (córte e limpeza de pedras), muito perto do Capelongo, num per- curso total superior a 820 kilometros. O curso superior e inferior não podem ser aproveitados para navegação. A largura é variável e, depois de entrar no districto de Huilla, conserva-se entre 70 e I I o metros. Tem varias ilhas no curso superior, algumas habitadas, entre Mulondo e Capelongo, bastante extensas, e de que a maior, a do Muholo, tem uns 2:3oo metros de comprimento por 1:200 na sua maior largura. Para jusante do Mulondo apparecem ainda algumas ilhas, mas todas pequenas, baixas, deshabitadas e cobertas de caniço. A profundidade varia bastante com as quadras e com os locaes, no entanto na época da estiagem nunca apresenta no seu curso navegável menos de o'", 7 de pro- fundidade. Na época das chuvas enche muito, trasborda, alagando os terrenos marginaes, attingindo nalgumas várzeas mais de 4 kilometros de largura ; e o nivel sobe a mais de 4 e 5 metros, mal deixando sobresahir as cristas das arvores das chanas e mattas marginaes. Quando a sua corrente recolhe ao leito normal, no meio das campinas ficam varias lagôas, algumas bastante extensas e fundas e de nivel inferior ao do leito do rio e com 17 o qual muitas communicam permanentemente por meio de canaes. Em vez de lagôas formam-se muitas vezes nuilolas que não são mais que compridas e fundas lagôas nas curvas do rio e com o qual ligam por pequenos canaes de fundo mais elevado, quando as aguas sobem, constituindo como que um encurtamento, ou falsos rios, em cul-de-sac, no mesmo sentido ou em sentido opposto, largos, profundos, de correntes alternadas ou aguas paradas, como de pequenas lagôas. As margens do Cunene são muito habitadas até ao Capelongo; daqui para sul a população concentra-se nas ilhas do Quissuco e na margem direita, do Mulondo á Dongoena, especialmente no Quiteve, Camba, Cafuntuca e Dongoena. Na margem esquerda da Cafuntuca até perto das cachoeiras de Nanguari. Quê. — Entre os afluentes do Cunene na margem direita, no território da Huilla, temos em primeiro logar o Qiié, limite sul do districto de Benguella. Ilhas do Quissuco — Rio Cunene O Que nasce no nó montanhoso do Cavira na serra da Chella, marcha directa- mente para su-sueste e, depois de receber vários afluentes na sua margem esquerda, provenientes da mesma serra, e de que os mais importantes são o Cassesse e o Caencué, vae lançar-se no Cunene, constituindo limite norte do districto. O seu volume daguas, grande na quadra pluviosa, baixa bastante na estiagem, havendo alguns pon- tos em que deixa de correr. No entanto nunca secca. E' todo povoado. O rio Sinde ou Calonga nasce na serra da Numpaca e, dirigindo-se para su-sudeste até á confluência do Quicungo, segue depois para leste até desaguar no Cunene. Não tem afluentes importantes, mas convergem nelle muitas mulolas. 2 i8 Embora o seu percurso seja relativamente pequeno, attinge grande volume de aguas na quadra das chuvas, dreinando toda a vasta região do Quipungo de difficil travessia nessa quadra. Corrente quasi todo o anno, na parte inferior conserva sempre depósitos de agua ou fundões permanentes no restante do seu percurso. O seu leito é fundo, bem definido, em pedra ou argila e de margens ligeiramente inclinadas, na maior parte planas e alagadiças e onde correm mulolas que entram ou sahem do seu leito. Algumas dessas mulolas ou linhas de agua suas tributarias conservam também Rio Cunene - A ilha Caheke no Quissuco depósitos ou pequenas lagoas permanentes, onde os habitantes se abastecem na quadra da estiagem. Toda a bacia é densamente povoada. Caculovar. — O Caculovar é o maior afluente do Cunene e, recolhendo na época pluviosa grande volume de aguas, da vertente interior da parte mais elevada da Chella, na quadra secca não lança uma gotta d'agua naquelle grande rio. Tendo as suas origens da Qiiilcmba ao Carueke, segue com varias inflexões para sudeste ao longo da diagonal da vertente interior da Chella, que se curva, rebai- xando-se ligeiramente para lhe formar o leito, seguindo assim a linha de maior declive até entrar no Cunene, duas léguas a sudeste do Humbe, no fim de 340 kilometros de percurso. O seu curso pode ser dividido em tres partes caracterisadas não só pela oro- graphia, numero e importância dos afluentes que recebe, mas ainda pela altitude e natureza dos terrenos que atravessa. No curso superior forma a bacia do Lubango, nos seus dois ramos originários, o Macufe e Mapunda, e as do Munhino e Huilla ou LupoUo, como seus afluentes na margem direita, e Mupaca e Capunda na margem esquerda. Tanto as cabeceiras do Caculovar como estes seus afluentes nascem dos altos morros da Chella ou dos seus contrafortes, em ásperos declives, com leitos fundos e estreitos e aguas correntes em todo o anno até alguns kilometros das nascentes e nalguns annos até se lançarem no Caculovar, o qual neste troço raros são também aquelles em que deixa de correr. Este 19 e os seus afluentes recebem outras linhas d'agua mais pequenas, por córregos e ravinas que entrelaçam os morros, colinas e outeiros de que está eriçada a região, canalisando as aguas pluviaes a trasbordar nos seus leitos, provocando as inundações e alagamentos dos terrenos marginaes, das suas pequenas veigas, — caracteristicas das grandes chuvas. O conjunto de toda esta rede Huvial forma o troço superior da bacia do Caculovar delimitado pelas curvas das serras Nampaca, Huilla, Pituaco, Chaungo e Lufinda, numa altitude de i:8oo a i:5oo metros, fértil, temperada e muito própria á fixação da raça branca. O seu leito é quasi sempre fundo e em rocha, areia ou argila, margens planas ou ligeiramente inclinadas, apenas no Bicange e Lufinda se apresentam muito ásperas, mas de tahveg sempre bem pronunciado, leito fundo e ribanceiras altas e aprumadas. Na épocha das chuvas attinge um volume extraordinário d'aguas, paralizando as com- municações durante algum tempo nos vários pontos de travessia, á excepção da Kihita onde se construiu uma ponte que dá passagem a carros de bois carregados, em todas as quadras. Na estiagem, pelo contrario, deixa sempre de correr, especialmente no curso inferior que secca por completo, emquanto na parte superior e média, e mesmo até ao Passagem do rio Sinde Chicusse, quando por acaso deixa de correr, conserva sempre bastos fundões ou poços onde a agua fica represada. No curso inferior para se obter agua na quadra secca cavam-se no seu leito, cacimbas de i o a i 5 metros de profundidade que, quando não dão agua de nascente, se deixam ficar de uns annos para outros, tapadas com madei- ras e areias grossas, emquanto corre, e onde fica a agua armazenada. No curso médio, do Chaungo ao Chicusse, á parte varias mulolas ou pequenas linhas d'agua torrenciaes e de enormes volumes na quadra das chuvas e que na seca deixam de correr, recebe na sua margem direita o Chimpumpunhime que é por assim dizer um duplo Caculovar ainda mais extenso e percorrendo uma região mais caracte- 20 ristica. Nasce na parte mais elevada da cordilheira da Chella, na serra da Neve, e d'alli com o nome de Neve segue para sudeste direito á povoação da Humpata, rece- bendo vários alluentes do mesmo tamanho e natureza que elle, e depois de encurvar para sul e voltar novamente a leste e receber muitos outros afluentes importantes, es- pecialmente na margem esquerda, como o rio da Figuira e o da Palanca, atravessa Travessia do rio Mapunda — Lubango todo o plateau da Humpata com o nome de Nene, atravessa o contraforte sul do planalto entre as ásperas encostas do Munhere e Chinkerere numa direcção quasi sul, e tomando depois para sudeste passa ao pé da Chibia e vai lançar-se no Caculovar, 5 kilometros alem do Chaungo. Como dissemos, as condições deste rio, assim como as dos afluentes que recebe, são inteiramente as mesmas que as do curso superior do Caculovar, descendo todos de altos morros e passando em fundos valles e gargantas apertadas, mas com mais abundância d'agua na quadra da estiagem, em que poucas são aquellas em que deixa de correr. Os terrenos para jusante da Humpata são mais abertos, chatos e planos, especialmente na margem direita. Os leitos são igualmente bem definidos, fundos, ribas elevadas e quasi sempre em rocha ou fina areia. Apenas da confluência do Figuira ao Palanca as margens são alagadiças e argilosas. Da Chibia para jusante recebe apenas mulolas, seccas na estiagem, mas canali- zando grande volume d'aguas na quadra das chuvas. Raros são os annos em que o Chimpunpunhime deixa de correr ; e, quando tal succede, sómente na sua parte inferior conserva sempre grandes depósitos d'agua represada. Muitas das mulolas e algumas das linhas d'agua que por acaso seccam, conservam também varias represas com agua ou nellas se cavam cacimbas com um a dois metros de profundidade. Quanto a terrenos, atravessa duas zonas distinctas: a do plateau da Humpata e a da Chibia, ambas próprias á fixação da raça branca. 2 I Das mulolas que o Caculovar recebe no seu curso médio ha algumas de impor- tância como são as da Catumba, Hae, Cakete, Tunda — um verdadeiro rio na quadra das chvas — e Camelenguena na margem direita e Muker (Cha-Capora), da Areia, do Tchiapepe — pequeno regato — , do Binguiro, Cavallaua e Irocuto ou Chiaíiá (In- bondeiro das pedras). Todas ellas se podem dividir em dois troços: o superior de leito fundo, margens altas, como verdadeiros rios; e o inferior, plano, margens alagadas, emfim como verdadeiras mulolas em quadra de chuva, difficilimas de atravessar, não só pelo grande volume de aguas, mas pela natureza das terras que, sendo muito argilosas, se tornam em verdadeiros lamaceiros. Todas deixam de correr na quadra secca ; algu- mas conservam depósitos d'agua ou fundões, noutras abrem-se cacimbas de nascente, emquanto noutras se fazem verdadeiros reservatórios de i 2 e 1 6 metros de profundi- dade, tapadas com madeira, pedras e areias e se enchem por infiltração na quadra das chuvas. O leito do Caculovar neste troço ora atravessa grandes várzeas, ora se encosta a morros altos e pedregosos, ora corre encaixado entre colinas de ásperas vertentes. Neste troço deixa de correr quasi sempre em toda a sua extensão, mas conserva gran- des lagoas e reservatórios d'agua, muitos em rocha, que chega não só para os usos dos habitantes mas até para a irrigação de campos que são dos mais ricos e férteis, embora pouco próprios á permanência dos europeus. Baixa de 1:450 a 1:100 metros. No curso inferior o Caculovar atravessa terrenos essencialmente planos e o seu leito cavado em argila sécca todos os annos, embora nalguns pontos conserve agua até bastante tarde. Recebe na margem direita os afluentes Colubango e M'bungo e na margem Vau do Caculovar na Kihita esquerda as mulolas Chiaíiá e a Mucopa, que conduzem na epocha das chuvas o exce- dente das aguas da lagoa Afi e do próprio Cunene que trasborda abaixo do Capelongo, alem das que recolhem directamente nos seus longos percursos. O desnivel desta parte do rio é muito insignificante, apenas de uns 5o metros. Todo o curso do Caculovar e seus afluentes são densamente povoados. 22 Iabos, Chabicua, Cacuio e Elefantes. 
 
— O Cunene recebe ainda na sua margem direita os dois pequenos Jabos, os últimos da vertente interior que desaguam próximo da cataracta Ruacaná, a montante, e os Chabicua, Cacuio e dos Elefantes que correm a sul no comprido plateau de entre as duas cumeadas da Chella, na sua parte meridio- nal, e se lançam normalmente no Cunene, na zona em que e!le galga a mesma cordilheira. Ainda no seu curso inferior, já na zona das areias, recebe o Cunene algumas clambas na margem direita, de que a mais importante é a das Viboras, e que quando chove lhe levam bastantes aguas. São completamente despovoadas. Pesca no Caculovar — Cahama Bambe, Cubangue, Occi e Ochitanda, — Dos afluentes do Cunene, na margem es- querda, temos em territórios da Huilla e na sua parte superior os rios Bambe, Cubangue e Occi e afluentes — Camucuio e Halo — , e o Ochitanda, Colui ou Calonga e seus afluentes. Todos estes rios descem das terras altas do Dongo e Mussinda e forte- mente encaixados em estreitos e fundos valles correm a sudoeste até se lançarem no Cunene. Todos elles acumulam de per si e pelos seus afluentes grandes volumes d'agua na epocha das chuvas, deixando todos de correr nos dois terços inferiores, na quadra da estiagem. Conservam no entanto poços e fundões com muita agua permanente. Os seus leitos são pedregosos e arenosos, nalguns troços cavados em argila. A corrente é rápida no percurso superior, de margens elevadas e declivosas, pelo contrario de corrente fraca e terrenos marginaes planos e alagadiços formando mulolas ou pequenas lagoas no curso inferior. De todos estes o Ochitanda merece-nos ainda referencia especial, não só pela sua grande extensão e volume d'aguas que reúne, deixando raras vezes de correr, e apenas nalguns pontos, como ainda pelos afluentes que recebe dos quaes mencionaremos os Quinuangombe, Espinheiro e Elefantes na margem direita e o Calonga e Camene na esquerda. No curso inferior, depois de receber o ultimo afluente, o leito afunda e alarga não ofterecendo vau, o que junto aos terrenos marginaes alagadiços e cobertos de altas gramíneas o tornam intransitável. 23 Da confluência do Ochitanda para jusante, isto é, depois do Quiteve, não recebe o Cunene mais afluente algum, antes, como já dissemos, delle se desprendem nas gran- des enchentes as mulolas Muír, Ovalé e Okipoco que, atravessando respectivamente o Cuanhama e Cuamato, se vão perder na Donga ou reunir ás que prolongam o Cuvelay e formam a Etocha, devendo porem frizar-se, que, embora se dividam em muitos ramos, se não dá o retrocesso das aguas como com os macaricaris , pois o terreno, ainda que levemente, desce para sul. Zona alta intermédia Cuvelay. — Saindo da bacia do Cunene entra-se na do Cuvelay. Este rio com a sua bacia encravada entre a do Cunene e a do Cubango, no ponto em que estes dois grandes rios deixam de ser sensivelmente parallelos para seguirem em direcções quasi oppostas, nasce na serra do Encoge a leste de Cassinga, dreina todo o plateau dos Amboellas, e, depois de seguir algum tempo para sul, inflete para oeste até á Handa aproximando-se extraordinariamente do Ochitanda, voltando novamente para sul e en- trando pelo Evale onde forma o Cariango e até onde se apresenta com leito definido e corrente quasi todo o anno. Com volume d'aguas relativamente grande na quadra pluviosa, na estiagem diminue muito, chegando a seccar em vários pontos, mas conservando sempre compridas lagôas ou fundões onde a agua fica depositada.  Continua.... AQUI:

Full text of "Sul d'Angola; relatório de um govêrno de distrito (1908-1910)"

https://archive.org/stream/suldangolarelatr00alme/suldangolarelatr00alme_djvu.txt