sábado, 15 de dezembro de 2018

Acontecimentos que tiveram lugar na Fortaleza de Moçâmedes, em Angola: As guerras do Nano


As guerras do Nano


"....Ainda antes de Março de 1860, outra guerra do Nano, com uma força entre 15.000 e 30.000 homens , desce para o sul e pilha tudo por onde passa, Huíla, Jau e Humpata; até as terras de serra abaixo e os moradores de Moçâmedes são visados, os quais, para escaparem com vida, se refugiam no porto daquela localidade. Na Huíla, o próprio comandante da fortaleza é morto e decapitado numa refrega a dois quilómetros da fortaleza, com mais sete brancos, num sítio que ainda hoje é conhecido pelo “Corta - Cabeça”. Divididas por várias praças – Moçâmedes e Huíla, Gambos e Humbe – as forças portuguesas não foram em número suficiente para deter o avanço desta guerra do Nano. Os portugueses chegam mesmo a desconfiar que Binga, o seu já conhecido hamba dos Gambos, tivesse estado por trás desta guerra do Nano. Cerca de um ano depois, ainda antes de Março de 1861, Binga é deposto, mas consegue mandar assassinar o seu rival e inicia uma guerra sem quartel contra os portugueses. Para além disso, começam a soar outra vez os alarmes de novas guerras do Nano. E o tempo vai passando conturbado, mas sem nada de muito grave. Talvez por isso, em Julho de 1863, os portugueses decidam abandonar a região, retirando os seus destacamentos do Humbe e dos Gambos. Binga sente-se finalmente mais à vontade, mais senhor das suas terras.


Acontecimentos que tiveram lugar na Fortaleza de S. Fernando, em Moçâmedes, Angola: A Revolta do Conde de Bonfim




Tavares Valdez.o 1º Conde de Bonfim, uma vez vencido em Torres Vedras pelo General Duque de Saldanha, em 22 de Dezembro de 1846, na Revolução Maria da Fonte, foi em 2 de Fevereiro do ano seguinte deportado para Angola, com dois filhos e outros fidalgos. Estes ficaram em Luanda, mas o Conde de Bonfim e os dois filhos, Luis e José, seguiram para o Sul. Após uma pequena estadia em Benguela, foram encarcerados na Fortaleza de S Fernando, em Moçâmedes, onde chegaram a 6 de Maio. Porém Bonfim, ajudado pela população local, pela tropa e pela guarnição da Escuna de guerra portuguesa "Conselho", fundeada na baía, planeou e iniciou a sua fuga a bordo da mesma Escuna. No entanto essa fuga foi de pouca dura. Nessa altura entrou na baía um navio de guerra inglês , o brigue Flying Fish, que a pedido do Comandante da Fortaleza, Soares Andrea, levantou ferro e foi intercepotar a Escuna portuguesa onde ia Bonfim, em pleno mar, levando-o com a sua comitiva para Luanda, onde foram muito mal pelo Governador Geral, Pedro Alexandrino da Cunha. A notícia causou indignação em Londres, sendo levada ao Parlamento britânico, onde igualmente provocou certo escândalo.


Este caso que apaixonou a opinião pública das gentes de Benguela e de Moçâmedes, ocorreu a 20 de Maio de 1847, e ficou conhecido pela revolta do Conde de Bonfim.

Portalegre, Elvas23.02.1787 Lisboa, Lisboa10.07.1862  https://www.revistamilitar.pt/artigo/170https://www.revistamilitar.pt/artigo/170

Acontecimentos na Fortaleza de S. Fernando, em Moçâmedes: Insubordinação do Batalhão de Caçadores 3





Insubordinação na Fortaleza de S. Fernando


Dos vários episódios que marcaram o passado desta Fortaleza, conta-se que em 1869 estava ali aquartelado um contingente de 100 praças pertencentes ao Batalhão de Caçadores 3, na sua quase totalidade criminosos de delitos graves, que ali cumpriam as suas penas, e que na noite de 14 de Novembro daquele mesmo ano, essas praças amotinaram-se para protestarem contra os serviços violentos a que eram obrigados, contra os castigos rigorosos que sofriam, e contra os descontos excessivos que eram feitos nos seus prés. Acusavam o capitão Miranda como responsável de toda aquela situação.

Avisado o então chefe do Concelho, Major Joaquim José da Graça, do que se estava a passar, este dirigiu-se à Fortaleza, onde, perante o seu espanto, os soldados amotinados já pegavam em armas, e chegaram mesmo a alvejá-lo,  com um tiro de pistola, ainda que sem consequências. O oficial em causa conseguiu dissuadi-los dos seus intentos, e prometeu recebê-los no dia seguinte na secretaria do Concelho, a fim de apresentarem as suas queixas, o que de facto aconteceu.

Após um diálogo apaziguador, o Major Graça retirou-se, parecendo tudo estar debelado, porém os soldados voltaram a sublevar-se e, convencidos de que os habitantes da vila se preparavam para os dominar pela força, armaram-se de novo, carregaram as peças, e apontaram-nas para a vila, prontos a fazer fogo, e mesmo a destruir a povoação e incendiar as casas de seguida, levando os moradores apavorados, receosos de toda a espécie de atrocidades, a abandonaram as suas habitações e a  procuraram refúgio nas Hortas, que ficavam a três quilómetros do aglomerado populacional.

Foi então que o inesperado aconteceu. No meio de tão dramática situação, quando parecia estar tudo perdido, que a Sra D. Maria do Carmo Lobo de Ávila, esposa do chefe do Concelho, "saiu resolutamente da sua casa, encaminhou-se ligeira para a Fortaleza, e confiada, corajosa, varonil, aparece de improviso perante a turba arrogante e impetuosa dos revoltados. A gentileza senhorial do seu porte e o excesso prestigio das suas virtudes, contiveram os rancorosos impulsos dos amotinados, que, tomados do espanto que o imprevisto lhes causara, e , confundidos pela severidade que lhes transmitira o nublado rosto da dama, receberam-na com todo o respeito, formaram fileiras, e apresentaram-lhes armas. Perante a atitude de acatamento das praças, a  Senhora pôde desempenhar a nobre missão que se lhe impusera: a de os vencer pelo sentimento. Para o conseguir, mostrou-se dominada por irreprimível eloquência, fez-lhes sentir a hidiondez do crime que iam cometer,  dirigimdo-se-lhes com uma inflexão de voz tocantemente angustiosa, suplicas ardentes e afervoradas. Os revoltosos, em cujos olhos borbulhavam lágrimas de arrependimento, comoveram-se, e assumiram em seguida inteira obediência. O Chefe do Concelho, que estivera sempre junto de sua esposa, ordenou-lhes então, como lhe cumpria, que descarregassem as peças e as espingardas e recolhessem a pólvora. Tinham-se entregado. A vila estava salva. O espírito de rancor, de violência e de rebeldia que desorientara as praças, que por pouco as não levou à destruição da vila, fora inteiramente subjugado pela palavra enternecedora duma dama fraca e delicada. .."(1)
(1) Passagens retiradas do livro Moçâmedes, de Mendonça Torres, obra cit 2 vol pp. 201 a 206
Cecilio Moreira : "Fortalezas, Fortes, Fortins e Fazendas de Moçâmedes no Sul de Angola". Subsidios para a História de Portugal em Angola. Separata n.8 da Revista Africana Universidade Portucalense, Porto, 1991



Factos notáveis ocorridos da Fortaleza de S. Fernando, em >Moçâmedes: O Capitão Schubert






O Capitão Schubert


No ano de 1914, antes do inicio da 1ª Guerra Mundial, Portugal tinha em Angola uma Missão de delimitação de fronteiras com o Sudoeste Africano (actual Namibia), chefiada pelo coronel Carlos Roma Machado Faria e Maia, que tinha o seu acampamento perto do rio Cunene. Desta Missão faziam parte dois alemães, o Dr Schubert e o Dr Vagler. Logo que a guerra deflagrou, como a missão estava isolada, sem quaisquer meios de comunicação com o exterior, o Governador da Huila mandou dar a notícia ao chefe da Missão, por estafeta, informando-o do início das hostilidades, entre a Alemanha e os aliados. Nessa mesma noite os dois alemães, ao saberem do início da guerra, desapareceram, levando o cavalo do chefe da Missão.

O Dr Vagler (que levou o cavalo), seguiu para o sul, enquanto o Dr Schubert seguiu para norte (1), acabando por ser preso no Chacuto, por Alvaro Morgado, de Moçâmedes, a duzentos quilómetros da cidade. A este alemão foi-lhes encontrado um mapa do Sul de Angola, que tinha sido eleborado pelo General João de Almeida, o único mapa correcto e o mais completo que existia na altura.

Schubert foi levado para a Fortaleza de S. Fernando, onde ficou preso, a aguardar a organização do processo, no qual declarou ser neto do compositor austríaco Schubert, ser oficial do Exército alemão, capitão da guarda militar do Imperador , e que tinha vindo a Angola com a finalidade de obter informações militares.

Após a organização do processo Schubert foi enviado para Luanda. Foi intérprete na elaboração do processo de Schubert, Serafim de Figueiredo, natural de Moçâmedes, que pouco antes tinha regressado da Alemanha, onde fizera os seus estudos secundários.

(1) Santos, Ernesto Moreira dos (ten). Cobiça de Angola, Guimarães, 1957, pp. 40 e 41.