segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A GUERRA EM ANGOLA

1. AS PRIMEIRAS OPERAÇÕES MILITARES EM 1914

Leito do Cacoluvar
A procurar água no leito do rio Cacoluvar

I. A FORÇA EXPEDICIONÁRIA. PREPARAÇÃO DAS OPERAÇÕES

A entrada da Inglaterra no conflito europeu, tornada pública com a declarado de guerra à Alemanha em 5 de Agosto de 1914, e a possibilidade de que, mais tarde ou mais cedo nos poderíamos encontrar envolvidos no mesmo conflito, levaram o governo português a pedir ao Congresso da República, em 7 do referido mês, «as faculdades necessárias para, em tal conjuntura, garantir a ordem em todo o país e salvaguardar os interesses nacionais, bem como para ocorrer a quaisquer emergências extraordinárias de carácter económico e financeiro».

Dada a nossa condição de potência colonial, cujas duas maiores possessões ultramarinas - Angola e Moçambique - confrontavam, ao tempo, com dois grandes territórios alemães - a Damaralandia e o Leste Africano - e tendo em atenção que eram sobejamente conhecidas as pretensões germânicas de compartilhar a posse daqueles nossos domínios, o Governo da metrópole, na previsão de futuros acontecimentos, resolve reforçar as guarnições provinciais com dois corpos expedicionários, um destinado a Angola, outro a Moçambique.

No dia 18 de Agosto, o general Pereira de Eça, Ministro da Guerra, convida o tenente coronel do Corpo do Estado Maior Alves Roçadas 1 a aceitar o comando do primeiro daqueles corpos, constituído por um quartel general, um batalhão de infantaria, uma bateria de metralhadoras, uma bateria de artilharia de montanha, um esquadrão de cavalaria, serviços de saúde, engenharia, administração militar, transportes e de etapas, e tendo por missão assegurar a obediência do gentio e vigiar a fronteira sul nos pontos importantes 2.

A partir do dia 20, e por intermédio do Ministério das Colónias, Roçadas expede ao governador geral ele Angola uma série de telegramas pedindo informações sobre os recursos existentes na província e mandando proceder a vários trabalhos, entre os quais a mobilização das unidades indígenas e europeias.

Passados dias, e depois de ter reunido os elementos que lhe foi possível colher em Lisboa, apresenta ao Ministério das Colónias um projecto de operações, no qual prevê o reforço do corpo do seu comando com unidades da guarnição da província de modo a constituir-se uma coluna de operações cuja composição e efectivo correspondessem à importância dos objectivos a atingir e que seriam: ocupação directa cio Cuanhama e oposição ao avanço de quaisquer forças, isoladas ou não, que pretendessem invadir o território da colónia.

Nos dias 10 e 11 de Setembro, a bordo cios vapores Cubo Verde e Moçambique, parte ele Lisboa o corpo expedicionário.

A 27 de Setembro e 1 de Outubro desembarcam em Moçamedes o Comando, as unidades de menor efectivo e os Serviços, continuando a bordo por alguns dias, e até que fosse escolhido e preparado o seu aquartelamento na cidade, o batalhão de infantaria 14.

Pouco depois da instalação do quartel-general em Moçamedes, e até 11 de Outubro, publicam-se as ordens e instruções para a organização do serviço de informações e dos serviços da retaguarda.

Para a organização do primeiro destes serviços, o Governador-Geral de Angola, Norton de Matos, ampliando as instruções confidenciais do Ministro das Colónias, determinava ao Governador do distrito de Moçamedes que cooperasse com o comandante do corpo expedicionário na instalação e funcionamento do referido serviço, ordenava aos chefes de concelho, de circunscrição e de postos da beira mar que se pudesse em contacto com as canhoneiras Save e Massabi, que estavam cruzando ao longo da costa de Moçamedes.

Cais de Moçamedes

Cais flutuante de Moçamedes

Ao Governador do mesmo distrito solicitava Roçadas que lhe transmitisse quaisquer informações que se referissem à acção de alemães ou indígenas nas nossas águas, no nosso litoral, no próprio território da Damaralandia e no interior do distrito; e aos capitães-mores do Cuamato, Evale e Baixo Cubango confia-lhes idêntico serviço a respeito do que se passar dentro da área das respectivas jurisdições e no país da Damaralandia, que interesse à nossa acção militar e política no sul da província.

Com o fim de completar as informações relativas ao inimigo provável com as que diziam respeito ao terreno em que poderia vir a operar, manda ainda proceder ao reconhecimento militar do Baixo Coróca no litoral de Moçamedes, ao estudo do acesso possível às regiões de Otchinjou, através dos contrafortes da Chela, estudos estes cujo objectivo era encontrar uma posição militar que fechasse o acesso do Baixo Cunene a Porto Alexandre e Moçamedes e verificar se era possível pôr em ligação a força, que porventura viesse guarnecer aquela posição, com as futuras forças do sector de defesa do Pocolo.

Publica, a seguir, a organização dos serviços da retaguarda, estabelecendo como base dessa organização:

Zona do interior – Desde o litoral até o planalto da Huíla. Zona da retaguarda – Desde o planalto da Huíla até o Cuamato. Zona de operações – Desde o Cuamato até à fronteira alemã. Estação de reunião – Os depósitos de Moçamedes, na estação do caminho-de-ferro. Estação «terminus» – Estação do caminho-de-ferro de Vila Arriaga. Base de etapas – Lubango-Chibia. Testa de etapas -Forte do Cuamato.

Expede ainda as instruções para o serviço de etapas e, no dia 11 de Outubro, depois de ter verificado pessoalmente o estado de adiantamento dos alojamentos destinados às diversas unidades expedicionárias, ordena a concentração destas no planalto.

A 18, Roçadas tomava posse do governo da Huíla. A fim de ser facilitada a sua acção como comandante do corpo expedicionário, cujas operações militares deviam desenrolar-se em regiões pertencentes àquele distrito.

A 19, dá-se o primeiro incidente de fronteira, em Angola – o incidente de Naulila.

A caminho do embarque

1914 - O batalhão de marinha a caminho do embarque

O Dr. Vageler, ao terminar os seus estudos próximo do Cunene, pretendera passar para a Damaralândia, através da Hinga, mas detido pela nossa polícia nas proximidades da Dombondola e remetido para o Humbe, onde se encontrava por ocasião do incidente de Naulila, serviu de intérprete ao administrador daquela circunscrição na conferência que esta autoridade tentara realizar com o sargento alemão da escolta do Dr. Schultze Jena, junto ao Calueque, na manhã do dia 19 de Outubro, seguindo para a Damaralândia com a referida escolta, depois de ter exclamado: C'est la guerre.

O incidente de Naulila e a apreensão do comboio dos 11 carros boers levaram Roçadas, de acordo com o coronel Coelho, a mandar retirar a missão do distrito da Huíla, na previsão de dificuldades que poderiam advir à execução das medidas do governo com a permanência dos membros da mesma missão no interior.

A maioria destes encontravam-se rio Lubango, donde seguiram directamente para Moçamedes; mas Schubert, oficial de artilharia da reserva, que andara juntamente com Roma Machado, tendo pedido autorização para seguir pelo caminho do Chácuto, o que lhe fora concedido, desaparece de uma maneira singular na estação do caminho de ferro do Munhino, no intuito de seguir para a Damaralandia, o que lhe não foi consentido, e, ao ser preso na Chela pelo português Morgado, exclama: Já vem tarde.

Mais súbditos alemães, além daqueles a que acabamos de fazer referência, se encontravam espalhados pelos distritos de Benguela e Huíla, exercendo, aparentemente, as profissões de negociantes, colonos agrícolas, exploradores de terras e empregados em oficinas particulares, mas, segundo todas as probabilidades, desempenhando o papel de espiões informadores.

A ordem de expulsão do território do distrito da Huíla dada aos membros da missão de estudos é mandada aplicar, como era óbvio, a todos os súbditos de raça germânica e ainda àqueles que, estrangeiros ou nacionais, fossem considerados suspeitos, tornando-se extensiva ao vice-cônsul Schoss e família logo após o conhecimento do massacre do Cuangar.

Dias depois, quando se procedia à detenção de um alemão, que se verificara ser oficial da reserva e era empregado nas oficinas do Almeida da Chibia, foi-lhe apreendida uma carta da Damaralandia, onde estava traçado a lápis o itinerário com a indicação das etapas que mais tarde seguiram as forças que de Outjô, e sob o comando do major Frank, vieram atacar Naulila (18 de Dezembro).

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sábado, 25 de outubro de 2008

Vila de Mossâmedes 1840 - 1955





Refª ao livro "Viagens "Na Africa E Na America. XIX. 1854", in O Panorama: semanario de litteratura e instruccão, Volume 11 pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos, podemos ler a seguinte descrição: 

"...Por fins do anno de 1840 aportei eu a Mossamedes. Haviam apenas ali algumas palhoças, em uma das quaes morava o commandante do prezidio, e estava começada a fortaleza de S. Fernando. Foi a guarnição do nosso brigue que levantou a primeira casa de pedra e cal n'aquelles areaes, e que cultivou com successo uma pequena horta, perto do rio, a qual todavia foi fatal a mui tus dos agricultores.  Hoje é diferente. Com a chegada dos colonos de Pernambuco em 1849, e ulteriores providencias do governo da metropole, tem não só crescido consideravelmente o numero de habitações, e o commercio de marfim, gado, urzella, rêra, e gomma copal com o interior, mas as communicações com o sertão tera-se tornado mais frequentes, e os proprios colonos avançam as suas plantações de assucar, algodão e mandioca até 35 leguas distante de Mossamedes com feliz resultado; o café é que não produz bem n'este terreno.



Postal histórico,  datado de 26 de Junho de 1904, onde de vêm as primeiras edificações da Vila, na praia do Bom Fim hoje conhecida por praia das Miragens. Por decreto de 26 de Março de 1855, e por carta régia expedida a 7 de Maio do mesmo ano, Mossâmedes subiu à categoria de Vila..Praia do Bom Fim - Praia das Miragens




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Postal histórico da Vila de Mossâmedes  datadao de 1904.
Fortaleza de S. Fernando.




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Postal histórico datado de Janeiro de 1904,  representa a fortaleza de S.Fernando construida em 1884, pelo então Governador Geral da Província de Angola - Manuel Eleutério Malheiros e que continha 26 canhões.
E ao longo da praia anexa à fortaleza se edificou a partir de 1880 e anos seguintes a Vila de Mossâmedes.

Mossâmedes 1840 / 1855


Imagem do Forte mandado construir em 184o pelo então Governador Geral da Província de Angola e concluido em 1884, iniciando-se a ocupação militar de Mossâmedes.

Moçâmedes 1954


Fotografia do jardim tirada do Forte de S. Fernando, construído em 1884


Moçâmedes 1954



Mossâmedes 3 / 6 / 1939



Mossâmedes 3 / 6 / 1939



Vista panorâmica da cidade em  3 / 6 / 1939


Mossâmedes 3 / 6 / 1939


Edificio da Alfândega Mossâmedes 3 / 6 / 1939


Vista da cidade pelo lado do mar.

Mossâmedes 3 / 6 / 1939


Vista do deserto para a cidade

Moçâmedes - Vista da Aguada a 3 / 6 / 1939


Na recolha das fotografias da família encontrei oito fotografias tiradas de avioneta e oferecidas pelo meu avô materno, José Pereira Craveiro, natural de Mossâmedes, às suas filhas Maria de Lourdes Craveiro Nóbrega e Maria Delfina Craveiro Coimbra, ambas também nascidas na cidade. Todas elas datam de 3 de Junho de 1939.

Moçâmedes 1935 / 1940


Mocâmedes 1935 / 1940

Carregar na imagem para ver em tamanho 1520 x 2250.

"No Sul d'Angola

1. O tenente Aragão dando banho aos cavalos no rio Cunene junto ao Capelongo. -- 2. Chana do Mufilo (campo do silencio), local onde estão depositadas as ossadas dos militares mortos em 1907 e onde o capitão Martins de Lima deu a carga conhecida por carga de Mufilo. -- 3. O tenente Aragão n'um dongo passando o Lussuco (vau onde os Cuanhamas passam para as razias). 4. Auxiliares cuamatas recebendo carne em pagamento de serviço prestado a um destacamento comandado pelo tenente Aragão, o glorioso comandante dos dragões de Mossamedes, morto no combate de Naulila."

Ilustração Portugueza, No.475, March 29 1915 - 8a

Ilustração Portugueza, No.475, Março 29 1915 - 8

Publicada por Mariana

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Bochimanes do Sul de Angola



Por causa desta notícia, na Survival International, sobre os bosquímanos (os povos Khoisan), que conheci na Handa (região da Mupa, Angola), releio Estermann*:

 «Como é sabido, estes primitivos devem o nome, por que são conhecidos, aos colonos Holandeses do Cabo, que os denominaram “Bosjesmannen” (em inglês “Bushmen”), que quer dizer “homens da floresta”. [...] A maioria dos Bochimanes do Sul de Angola pertence à tribo !Kung (! é o sinal gráfico para o clique gutural). [...] Embora não sejam precisamente “vermelhos”, como os negros dizem, a cor da pele é muito mais clara do que nos Bantos. É acastanhada, às vezes até amarelada, duma amarelo claro. [...] As mulheres gozam duma grande independência [...] a monogamia era imposta aos homens pelas mulheres, que não tolerariam rivais. [...] não praticam a circuncisão. [...] para eles o “Ente Supremo” se chama //Gaua (// é o sinal para o clique lateral). [...] Gaua, que é sempre invocado nas necessidades. “Todos os dias pedimos-lhe assim” - disse um velho- “paizinho, deixe-nos ficar fartos hoje!” [...] os Negros julgam inútil ou indigno falar a língua dos “selvagens”. Todos os homens da raça bochimane, mais raras vezes as mulheres, falam uma língua banta. Mas, o que é afinal que nos faz parecer cómica a língua bochimane? É o emprego dos cliques ou estalinhos. [...] Os Bantos da região chamam estes povos pelo nome de Ova-kwankala [...] os do caranguejo. [...] empregando-o indistintamente para Bochimanes e Hotentotes. [...] O termo empregado para designar os Negros em oposição aos Ova-kwankala é Ova-yamba, que quer dizer - os que possuem bens, os ricos.»
Que será deles hoje? Estermann calculava, estimativamente, 4000 a 5000 em 1939.

* Estermann, Carlos, Etnografia de Angola, vol. 1, IICT, Lisboa, 1983, pp. 35-43.
Foto
+ 220 fotos (Namíbia, 1993)

domingo, 5 de outubro de 2008

O farol da Ponta Albina albergava um hóspede de peso

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Porto Alexandre

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Era a maior povoação digna desse nome,a mais a sul de todas.Angola terminava com o farol da Ponta Albina,e mais abaixo, de raspão junto à fronteira,a Baía dos Tigres finalizava-a mesmo.Paragens desertas e inòspitas.O farol da Ponta Albina albergava lá um hóspede de peso, era em simultâneo faroleiro e preso ao mesmo tempo.Paradoxo dos paradoxos,mas Angola ao tempo era rica em paradoxos.A creatura para ali estava naquela imensidão e ainda por cima com mordomias do estado.Vièmos a saber depois que se tratava do Sr.Simão Toco,este senhor era nem mais nem menos que um poderoso patriarca religioso que, aglutinava ao tempo milhares e milhares de seguidores,pràticamente em todo o norte de Angola,e até para lá da fronteira pois os povos das duas zonas eram os mesmos Quicongos.Quem estava em Angola ao tempo sabia bem o que era o tocoismo.O que é curioso é que o homem estando preso,era em simultâneo funcionàrio do estado português com a categoria de faroleiro.Os mantimentos faziam-se-lhe chegar da seguinte maneira.No período das marés vivas e em plena vazante,o jipão fazia-se à praia e era vê-lo com o prego a fundo a calcurrear a distancia que nos separava do farol.O cabelo flanava qual bandeira em desfralda, o peito ao léu recebia os ventos marítimos como um bàlsamo, contrariando o ar seco e abafadiço do deserto; foram tempos de vida em plenitude.as trocas eram feitas e raramente se podia fazer a viagem de regresso na mesma vazante esperando pois pela seguinte.O homem à despedida abriu-se-nos, num sorriso franco,e bom.E lá fomos.

publicada por drakemberg

E ASSIM NASCEU MOÇÂMEDES...

 

A BAÍA DE MOÇÂMEDES NAS ANTIGAS CARTAS E ROTEIROS 


A Baía de Moçâmedes, entre os ingleses a "Little Fish Bay" (Pequena Baía dos Peixes), figurava nas antigas cartas e roteiros de navegação sob a designação de "Angra do Negro". assim designada porque dizia-se então, por ela, como por todas as baías, angras e enseadas de Angola, se fazia larga exportação de escravos (A derrocada, 1913 - O Distrito de Moçâmedes, nas fases de origem e da primeira organização - 1485-1859, pág. 27, de Manuel J.M.Torres).

AS PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES PARA O CONHECIMENTOS DO TERRITÓRIO DE MOÇÂMEDES

O desvairo do comércio de escravos impediu que durante três séculos se procedesse a um reconhecimento proveitoso da costa e dos sertões ao sul de Benguela. A primeira exploração regular só pode efectuar-se em 1785. Ordenou-a o Capitão-General de Angola, José de Almeida Vasconcelos Soveral e Carvalho, Barão de Moçâmedes. Organizaram-se, então, em Benguela, duas expedições, que deveriam seguir para a "Angra do Negro", uma por mar e outra por terra. A direcção da primeira foi confiada ao tenente-coronel Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado e a da segunda ao Sargento-mor Gregório José Mendes.

EXPEDIÇÃO DE PINHEIRO FURTADO - VIA MARÍTIMA. A expedição Marítima, com Pinheiro Furtado, embarcou na fragata Luanda, sob o comando do Capitão-tenente António José Valente. A fragata era ainda acompanhada duma outra chamada Paqueta real, e partiram de Luanda a 25 de Maio de 1785 e chegaram ao Novo Redondo a 7 de Junho do mesmo ano. Cinco dias depois, ou seja, dia 12 de Junho, os navios seguiram para Benguela onde fundearam no dia 22 de Junho. De Benguela, a fragata sob o comando do Capitão-Piloto Manuel José da Silveira, tendo saído para o sul, fundeou em Angra dos Negros em 3 de Agosto de 1785. MUDANÇA DA DESIGNAÇÃO DE ANGRA EM PORTO DE MOÇÂMEDES Pinheiro Furtado durante sua navegação para Angra dos Negros enfrentou ventos de Sudoeste, soprados pela proa e fortes correntes de feição contrária que os obrigou a navegar sempre á vista de terra, observando minuciosamente, palmo a palmo, toda a costa. Ao chegar ao destino (Angra dos Negros) e após fundear, Pinheiro Furtado exprimiu o desejo de prestar justa homenagem ao ilustre titular que ordenara a exploração tendo solicitado por escrito ao Capitão-General de Angola, nos seguintes termos: "Seja sua Excelência servido permitir que, nos mapas, o novo porto ele o denomine de Moçâmedes".

EXPEDIÇÃO DE GREGÓRIO MENDES - VIA TERRESTRE A expedição terrestre, chefiada por Gregório Mendes, compunha-se de: Escolta de mil pessoas, sob seu comando; Vinte soldados, comandados pelo porta-bandeira Luís Cardoso; Miguel Pinheiro, Francisco Rodrigues (antigo tenente de artilharia) e do Piloto Manuel Pires da Cruz. Gregório Mendes e seus homens partiram de Benguela com rumo Sul-sueste, em 30 de Setembro de 1785. No primeiro dia chegaram a Quipupa. Em 1 de Outubro chegaram ao Dombe de Quizamaba atravessada pelo Rio Cupororo onde ficaram até dia 3 de outubro para se proverem de água, mantimentos e gados. Em 4 de outubro chegaram a libata Malicalunga, onde permaneceram a explorar a bacia do Cupororo até dia 6. Em 7 de Outubro chegaram ao Mocuio. E assim prosseguiram a marcha até que em 3 de novembro pelas 3 horas da tarde chegaram ao Porto de Moçâmedes onde assentaram campo. Depois prosseguiram marcha, até que em 7 de Novembro chegaram em bentiaba. Em 24 e 25 de Novembro chega em Dombe de Quinzamba onde fecha o círculo de sua digressão. Volta á Benguela, donde tinha partido, e onde chega a 29 de Dezembro de 1785. Pinheiro Furtado e Gregório Mendes instaram, o governo geral, para que se erguesse um presídio na Baía, para que se mantesse eficazmente o domínio português e se intensificasse o tratado iniciado com os povos que aí habitavam. Mas o Barão de Moçâmedes, não obstante a entusiástica descrição de Gregório Mendes e a particular estima que votava a pinheiro Furtado, afora o patriótico desejo de fazer boa administração, não pode realizar tal empreendimento por haver deixado, pouco depois, o Governo da Província de Angola. No entanto, o esforço despendido pelos dois exploradores tivera resultado auspicioso, embora demorado, porque só em 1839 os portugueses continuaram a fazer expedições dos territórios Sul-angolanos. Antes, um explorador francês chamado João Baptista Douvallier em 1827 fizera uma viagem para Angola, tendo solicitado ao Ministro das Colónias o seu interesse em fundar em Moçâmedes um presídio para degregados. Esta solicitação do explorador francês evidenciou a urgência da ocupação por parte de Portugal dos territórios sul angolanos. Assim é que em 1839 recomeçaram as explorações com expedição de Pedro Alexandrino, por mar, e Francisco Garcia, por terra. Pedro Alexandrino saiu de Luanda a bordo da corveta Isabel Maria em 9 de Agosto de 1839, passou por Benguela e dia 23 de Setembro chegou a Cabo Negro. Em 4 de Novembro chegou á Baía de Moçâmedes, onde, como eles descreve em seus relatórios, "as espécies itiológicas são muito variadas e em muita quantidade. Determina a posição da Baía a 15º 10.0´ de latitude Sul, e 012º 5.0´ de longitude Este. Francisco Garcia saiu no dia 17 de Agosto de 1839 de Benguela, tendo chegado á Baía de Moçâmedes em Setembro.

OCUPAÇÃO DE MOÇÂMEDES 1 - Ocupação Militar Feitos os estudos da costa e dos sertões, em 1840, o então Governador Geral da Província de Angola, Manuel Eleutério Malheiros, ordenou em Fevereiro de 1840 que se levantasse um forte na Baía de Moçâmedes, tendo se iniciado a ocupação militar de Moçâmedes. Em 1844 o forte foi construído. 2 - Ocupação Económica Da fundação do presídio e Estabelecimento de Moçâmedes e da celebração do pacto amistoso e mercantil entre autoridade portuguesa e os sobas derivou a criação, na Baía, de feitorias, casas de negócios que foram se instalando ao longo da praia entre 1840 e 1849.

CHEGADA DOS PRIMEIROS COLONOS A MOÇÂMEDES A primeira feitoria foi montada por António Joaquim Guimarães Júnior, sendo considerado, o primeiro morador branco de Moçâmedes. No entanto os corajosos esforços dos primeiros moradores dos presídios e estabelecimentos de Moçâmedes, representavam tentativas persistente, mas isoladas, de poucos, e não podiam originar uma colonização em forma razoável, com razoáveis probabilidades de êxitos. Foram os lastimosos acontecimentos de Pernambuco (Brasil), ocorridos em 26 e 27 de Junho, que determinaram a partida para Moçâmedes, em 1849 e 1850 de dois grupos de Portugueses, residentes naquela cidade, numerosos e seleccionados, que formaram as chamadas "Primeira e Segunda Colónias" Assim, em 23 de Maio de 1849 partiu de Pernambuco (Brasil) a Barca Brasileira «Tentativa Feliz», capitaneada pelo Brigue de Guerra Nacional "Douro" com 166 colonos no total tendo chegado a Moçâmedes no dia 4 de Agosto de 1849, sendo considerados os primeiros colonos e fundadores do distrito .