segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A Fundação de Mossãmedes (A Provincia de Angola, artigo de J.T.)


A Fundação de Mossãmedes
(A Provincia de Angola, artigo de J.T.)

Que Mossâmedes foi fundada em 04 de Agosto de 1849, ninguém o ignora. A Câmara Municipal até escolheu esse dia para o distinguir como  feriado da cidade.
Foi na data acima citada que, vindos do Brasil, aportaram à Angra do Negro os primeiros colonos, chefiados por Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro, português de boa têmpera e bastante culto, que por sinal fez jornalismo em terras de Santa Cruz.
Das vicissitudes e trabalhos por que passaram esses esforçados pioneiros da nossa colonização, talvez nem todos tenham conhecimento, e os que já ouviram falar em tal não podem sequer conceber a admirável grandeza da luta que eles tiveram com as doenças, com as feras e até com os indígenas, para aqui cravarem mais um marco glorioso, testemunho épico da fantástica cavalgada portuguesa através do Mundo imenso.
Houve, a agravar ainda a triste situação dos primeiros colonos, uma falta quase absoluta de recursos de toda a espécie, falta que bem podemos classificar de autêntica pobreza «franciscana».
Foi assim que esteve quase a perder-se, ingloriamente, o trabalho hercúleo desses heróis, avós dos mossamedenses de hoje.
Socorros, auxílios, um pouco de assistência social não lhes foram prestados, e Mossâmedes esteve por um triz  a constituir uma falhada tentativa de colonização, o que seria impróprio de uma raça de colonizadores como a nossa.
Mas, pela mesma razão que os primeiros colonos tinham abandonado o Brasil, outros de lá partiram para Angola com a intenção de lá se fixarem: - nas terras de Além-Atlântico rugia pavorosa e cheia de ódios a campanha nativista e esses obscuros patriótas lusitanos, preferiram, então, abandonar as suas fazendas  e vantagens já adquiridas por entenderem  que a sua Pátria estava acima de tudo. Vieram para Angola, com o fim de desbravar terra portuguesa com o solo ainda inculto. E como aqui, neste cantinho do sul apenas encontraram um inóspito e desolador deserto, a barrar-lhes o caminho do interior,  voltaram-se para o Mar, e esse Mar – a eterna fascinação dos portugueses – foi a sua salvação ! Fundou-se a mais importante colónia de características  marítimas de que nos podemos orgulhar.
Ora, os novos colonos que vieram na peugada dos que haviam chegado em 1849, desembarcaram nestas despidas e calcinantes areias, sob a chefia de José Joaquim da Costa, em 26 de Novembro de 1850.
Sem a segunda colónia, que trouxe  alento, cooperação e  auxilio, a primeira não teria suportado  as durissimas inclemências que a atormentavam.
Depois, os seus esforços conjugados, o seu trabalho árduo e incansável,  valorizado ainda pela vinda de outros mais colonos , chegados anos depois, a pouco e pouco,  permitiram que, passado quasi um século,  Mossâmedes seja uma cidade que ocupa em Angola sob todos os pontos de vista um lugar de extraordinário relevo.
Boletim Geral das Colónias . XIX - 213
Nº 213 - Vol. XIX, 1943, 216 pags.