sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Moçâmedes, Namibe. As festividades do Carnaval no tempo colonial...


Postal antigo de um Carnaval em Moçâmedes no início do século XX

Nada melhor do que a aproximação da quadra carnavalesca para colocarmos aqui  algo que nos remeta para o modo como os Carnavais foram acontecendo em Moçâmedes ao longo dos tempos.  foto acima, a mais antiga que conseguimos, do inicio do século XX, mostra-nos uma "dança de rua" de africanos do grupo social "quimbar" (1). Trata-se da  Rua dos Pescadores, onde se pode ver, ao fundo e à esquerda o edificio de 1º andar que pertenceu aos Zuzarte de Mendonça Torres. Mais próximo, e também à esquerda, moradores da mesma rua às janelas das suas casas, protegidos do sol por sombrinhas, apreciando o desfile. 

 
Postal antigo de um Carnaval de "quimbares", em Moçâmedes, no início do século XX


Segue-se outra foto das primeiras décadas do século XX, em Moçâmedes.  Este grupo de "quimbares"  apenas composto por elementos masculinos exibe-se com indumentárias muito europeias, algumas das quais ligadas à Marinha. À esquerda, envergandos chapéus pretos, dois africanos com casacos  brancos parecem sugerir as figura de dois "sobas" da região (Quipola e Giraúl?). Repare-se nos instrumentos musicais. Aqui a harmónica ou concertina convivem lado a lado com o tambôr e o pandeiro. Outros exibem paus que fazem lembrar a "Capoeira", expressão cultural brasileira, de origem africana, mistura de arte marcial, desporto, cultura popular e música, incluindo acrobacias em solo ou aéreas. Gilberto Freyre, o sociólogo brasileiro, encaixaria esta foto no quadro de uma concepção "lusotropical" da colonização portuguesa. Ou seja na ideia da“ especial capacidade de o português de se misturar com os povos dos tropicos trocar padrões culturais, e criar sociedades sincréticas e harmónicas...”

Muita gente era levada a acreditar que o  CARNAVAL como festa do povo foi uma invenção dos africanos, mas não, o Carnaval  português  tem origem europeia, recebeu a influência das "mascaradas" italianas, e ao emigrar para o Brasil, no contacto com os africanos  ganhou caracteristicas próprias, as mesmas que vamos encontrar no Carnaval angolano. 
 
Lancemos um olhar para o modo como o Carnaval de rua era festejado na década de 1950
entre os africanos, em Moçâmedes, como nos mostram as fotos que seguem, conseguidas através do espólio que "herdei" de minha sogra. Estamos perante o grupo que conhecemos por "quimbares", um grupo social (não étnico) , que se formou em Moçâmedes após a chegada dos 1ºs colonos fundadores, idos de Pernambuco Brasil, em 1849, que se fizeram acompanhar de seus serviçais. Os primitivos "quimbares de Moçâmedes" eram africanos descendentes de escravos , provenientes de vários pontos do território e de várias etnias, sobretudo ambundos, levados para o Brasil,  que nas terras de Santa Cruz, se miscigenaram, e  no contacto com seus patrões brancos,  adquiriram uma cultura própria, cristianizada, ainda africana,  mas eivada de usos e costumes luso-brasileiros.  Chegados a Moçâmedes eles distinguiam-se  dos mucubaes, dos mucurocas,  dos mucuisses, povos que habitavam junto às varzeas dos rios Bero  e Giraul, que andavam seminus, plantavam as suas lavras, pastoreavam seu gado. Os quimbares  vestiam-se com panos da cintura para baixo, com pequenas blusas cobrindo busto (as mulheres), calças e camisas (os homens). No Brasil tinham  aprendido a festejar o Carnaval, ao qual haviam dado um cunho próprio. 

 Concentração das danças de rua africanas no velho recinto de terra batida que era então o nosso campo de futebol... Foto de MariaNJardim



As danças do Forte de Santa Rita e do plateau da Torre do Tombo, nos anos 1950. Foto de MariaNJardim

Outra foto da concentração no velho campo de futebol de terra batida. Foto de MariaNJardim


Por essa altura eram quatro as chamadas danças de rua em Moçâmedes: a do plateau da Torre do Tombo, a do Forte de Santa Rita, a do Benfica e a da Aguada. A concentração começava cedo, e fazia-se no interior do antigo campo de futebol, ao lado da Estação dos Caminhos de Ferro de Moçâmedes, de onde partiam, desfilando pelas ruas da cidade durante os três dias em que decorria o Carnaval . À frente iam os reis e as rainhas, trajando carnavalescamente à guisa dos reis e rainhas europeias, com as respectivas corôas e os ceptros reais, corôas que nas rainhas eram colocadas em cima de véus que vinham até ao chão, fazendo lembrar as santas dos altares nas igrejas católicas.


Tudo servia de indumentária nesses três dias de paródia...Foto de MariaNJardim

Na década de 1950, com seus reis e suas rainhas, e damas de honor, festejando o Carnaval em Moçâmedes.



"Quimbares" ensaiam passos de dança no interior do campo de futebol de Moçâmedes. 

 
Uma dança passando junto às pérgulas e caramanchões da Avenida...


Nas danças de rua, imediatamente a seguir aos reis e às rainhas vinham os tocadores que utilizavam músicas compostas especialmente para aqueles dias, e instrumentos musicais de percussão para marcar a cadência rítmica que se fundia com as passadas inimitáveis da dança. Tudo servia: tambores, bombos, cornetas, reco-recos, marimbas, quissanges, apitos, latas, garrafas, ferrinhos.  Mais atrás seguiam os bailarinos, dançando, cantando, erguendo paus, cartazes, bandeiras e estandartes, com rostos pintalgados, panos garridos, lenços coloridos, capas, colares, soutiens, pulseiras, brincos, óculos, chapéus de abas largas, bonés, calças listadas, casacas ornamentadas com adornos representando postos de exército, etc. Outros exibiam-se semi-nús, com saia curta de sarapilheira,  penas na cabeça, simulando índios em suas lutas e rituais, azagaias, máscaras rudimentares de papelão, etc...  O ritmo da dança era comandado pelo apito do mestre que a comandava.
 
O Dominguinhos ceguinho, poeta muito conhecido e acarinhado em Moçâmedes, que aos sábados percorria a cidade de ponta a ponta em busca de esmolas, era quem compunha a música e a letra da «dança» do Forte de Santa Rita. O cozinheiro do ti Óscar Almeida, era sempre o rei da «dança» do plateau da Torre do Tombo. As letras continham críticas sociais, apontavam para assuntos na ordem do dia, temas como o alcoolismo, o endividamento, as mulheres de mau porte, os amores perdidos, achados, frustados e maculados... Mas também a crítica velada ao regime político vigente era tema para a letra das canções.

As danças ao desfilarem pelas ruas da cidade paravam em determinadas portas e faziam a sua exibição que terminava com uma vénia cortês do líder, que recebia um «matabicho», que se consubstanciava numa gratificação em dinheiro, ou numa garrafa de vinho e algo para comer,  o que vinha a calhar sobretudo quando a fome e a sede começavam a apertar... 

E a festa terminava em apoteose, quando ao fim do dia, no regresso a casa, já bem bebidos e excitados, fruto da colheita de vários donativos conseguidos pelas "danças" no decurso das exibições efectuadas às portas das casas, os nossos "quimbares", componentes de grupos rivais, se encontravam frente a frente, lá para os lados do Cemitério, e do encontro redundava numa autêntica batalha campal de luta corpo a corpo, que obrigava  por vezes à intervenção da polícia.

Este seria, pois, o substrato básico da cultura carnavalesca vivida em Moçâmedes no período apontado, em que se assistiu a uma contaminação de culturas, que nada nem ninguém jamais poderua travar. Não há culturas puras. Bastaria para tal verificarmos que dentro de cada um de nós existem culturas diversas. O multiculturalismo é muito mais antigo do que pensamos. Ser europeu, por exemplo, já é um produto histórico com muitas misturas! O povo quimbar de Moçâmedes, hoje NAMIBE, é simbolo dessa miscigenação de culturas, à qual só podem resistir os povos que persistem em se manterem isolados no seu etnocentismo.   O futuro não se compadece com exemplos tais. que estão condenados a desaparecer em prol de Angola unida e próspera! O povo quimbar de Moçâmedes, dada a sua miscigenação, não representa qualquer etnia, e por isso mesmo é simbolo da NAÇÃO ANGOLA!
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Saltemos agora para o modo como o Carnaval era  era festejado em Moçâmedes no seio da comunidade europeia, e segundo tradições europeias, igualmente trazidas da Metrópole e do Brasil. 


Testemunhos que passaram de geração em geração referem que os antigos Carnavais na forma de Entrudo  incluiam as tradicionais largadas  de combates de carro para carro, de início entre carroças boer de tracção animal,  numa verdadeira luta em que as armas eram os ovos, cocotes de farinha ou fuba, água de chafariz, água de cheiro, etc. etc.  Estamos a falar de finais do século XIX, inícios do século XX.  Também por essa altura teriam começado os primeiros bailes de máscaras,  concursos de trajes carnavalescos,  festas em casas particulares (assaltos), e, à noite, depois do jantar, como era costume entre algarvios,  uma das comunidades europeias  mais importantes da cidade,  a saída à rua das "mascarinhas".  Ou seja, pequenos grupos de pessoas de várias idades, à noite, disfarçadas com trajes improvisados no momento, que podiam ir do simples lençol  com dois buracos e um cajado na mão, simulando fantasmas, ou envergando qualquer veste ao alcance da mão,  calcorreavam as ruas, batiam de porta em porta, entravam e saiam, falavam com voz disfarçada, gesticulavam ou simulavam um qualquer defeito físico, tendo a brincadeira por objectivo o desafio ao reconhecimento dos mascarados, que de modo algum se davam a conhecer. Num tempo em que não havia à venda as requintadas máscaras dos dias de hoje, a improvisação era a saída. Eram paródias nocturnas e diunas com que as pessoas se divertiam  nesse tempo em que não havia luz eléctrica, a escuridão metia medo,  mas que se foram perdendo o brilho conforme se avançava para meados do século XX, e os ventos da modernidade que começavam a chegar até nós acabaram por diluir por completo.

Com o correr do tempo, o Carnaval em Moçâmedes passou a insinuar-se no interior dos salões dos clubes desportivos que iam surgindo pela cidade, primeiro o Ginásio  Clube da Torre do Tombo fundado em 1919, onde a partir dessa altura passaram a realizar-se animados bailes de máscaras que canalizavam para aquele bairro, gente de todos os cantos da cidade. Estou imaginando os primeiros bailes de Carnaval ali organizados, numa época em que o ritmo da dança passou a ser ditado pelo charleston, essa dança vigorosa em que as mulheres agitam os vestidos, balançando os longos colares e ondulando as plumas e os leques, cruzando e descruzando as mãos sobre os joelhos, mas também as marchinhas inspiradas pela cadência rítmica dos ranchos populares, pelas valsas e pelos tangos.
 

 Foto gentilmente cedida por Maria Etelvina Ferreira de Almeida datada de 1938, numa festa realizada no Ginásio em Moçâmedes.


Mas aconteciam também no Ginásio Clube da Torre do Tombo concursos de máscaras carnavalescas infantis e juvenis, para além de recitais, momentos de teatro, etc, que decorriam no pequeno palco da sala anexa ao salão de baile. 



Foto gentilmente cedida pelo Dr. Farrica, da Huila. Anos 1940.


Avancemos para meados do século XX. Durante os três dias de Carnaval tudo servia de paródia, inclusive imitar A ou B,  a silhueta de alguém demasiado gordo ou demasiado magro, capaz de desencadear o riso que a quadra suscitava. Na foto, a divertida moçamedense Regina Peixoto (proprietária da Papelaria Regina, na Rua da Praia do Bonfim) num Carnaval algures na década de 1940, vestida com o fato do Dr. Novais, o médico na época director do Hospital de Moçâmedes. A seu lado, a esposa do Dr Farrica. 

Tudo servia de paródia nestes dias hilariantes como se pode ver pela foto que segue:


                                                      Foto do livro de Paulo Salvador

Trata-se do auto-intitulado grupo "juventude rebelde" por volta de finais dos anos 1940, início de 50, cumprindo "rituais de iniciação" no antigo campo de futebol de terra batida ao fundo da Avenida. Entre outros, à esq. para a dt: José Adriano Borges, Amadeu Pereira, Norberto Gouveia (Patalim), Caála, ??, Mário Bagarrão, Helder Cabordé, Renato Sousa Veli, Artur Paulo Carvalho (Turra), ?? .

Era assim que o Carnaval, na sua forma semi-entrudesca, atingia o seu clímax em Moçâmedes, com as fustigantes "batalhas de cocotes" entre grupos "rivais", como mostra esta foto, tirada em 1955 nos jardins da Avenida da República, ali bem juntinho ao "Quiosque do Faustino. Estas "batalhas" tanto se desenrolavam no terreno, corpo a corpo, como a partir do cimo de camionetas de caixa aberta alugadas para o efeito e enfeitadas com folhas de bananeiras, que se deslocavam ao longo da Avenida da República,  entre as Ruas da Praia do Bonfim e a Rua Bastos, e ao se cruzarem davam origem a violentos e cruzados "bombardeamentos" de cocotes que deixavam durante três dias a cidade irreconhecível, tendo a Câmara Municipal de Moçâmedes que, logo pela manhã, mandar proceder à limpeza daquele local, que era o epicentro, a sala de visitas da cidade.


A Batalha da "cocotes" decorria normalmente na Avenida da República. Aqui a disputa fazia-se junto do "Quiosque do Fautino"- Foto do meu album.

Outra foto da "batalha da "cocotes" que fazia vibrar a juventude nos anos 1950. Esta também  junto ao referido.Foto do meu album.

                                                 
Cada grupo de véspera começava a confeccionar os ditos «cocotes» colocando pequenas porções de farinha de trigo dentro de quadrados de fino papel de seda de várias cores, e atando-os com linha de forma a produzirem pequenas bolas, prática possivelmente herdada dos chavaris medievais que incluiam zombarias, pancadarias simbólicas, enfarinhadas, seringadas e molhaças que decorriam nas ruas das cidades.


                                                              Foto do livro de Paulo Salvador
 
 
"Bilibaus e Tragateiros" num Carnaval em Moçâmedes em 1955, antes das "batalhas de cocotes" . Foto do livro de Paulo Salvador. São, da esq. para a dt., em cima: Leão da Encarnação, Mário de Figueiredo, ?, António Ferreira (Penha), Amadeu Pereira, Fernando Peçanha, Anatálio Pereira, ?, ?, ?, Norberto Gouveia e António Barbosa. Embaixo: Albertino Gomes, José Adriano Boorges, João Bernardinelli, Wilson Pessoa, Edgar Aboim, ?, João António Guedes, ? , Renato Sousa Veli, Artur Paulo de Carvalho (Turra) e Mário Júlio Peyroteu...

Foto do meu album
                                                                                   
Outro grupo participante na "batalha de cocotes", este do bairro da Torre do Tombo. . 1955. No topo: Zequinha Esteves, ? e Amilcar Almeida. De pé: Arménio Jardim, José Patrício (aviador), ?, Nelinho Esteves, Bulunga, Eduardo Faustino (gémeo) Lopes, Fernando Pessanha, Armando Esteves (Trovão), José Carlos Lisboa (Lolita), Manuel Cambuta, João António Bagarrão Pereira (John), Mário Ferreira e Gabriel. De joelhos: ?, Pedro Eusébio, Joaquim Gregório, Bernardino (Noca), Zeca Carequeja, ?, Eugénio Estrela, Dito Abano e Rui Carapinha. À frente ?.


Desfile de carros alegóricos: "O Tragateiros" . Foto do meu album (espólio da mina sogra).

A evolução do Carnaval permitiu um novo tipo de exibição: o desfile de "carros alegóricos" que em Moçâmedes foi inaugurado nesse fabuloso ano de 1955, e que decorreu, como não podia deixar de ser em volta da longa Avenida da República,  pelas Rua da Praia do Bonfim e Rua Bastos. Nesta foto, podemos ver o grupo "Os Tragateiros" empurrando  um veículo transformado numa enorme pipa de vinho.



Desfile de carros alegóricos em 1955. Foto do meu album.

Aqui podemos ver o carro alegórico representativo do "Bairro da Torre do Tombo" a passar junto do edifício dos Correios que então ainda era de constrição recente. Integam este carro: Osvaldo Correia, Óscar, José Duarte, Eurico, Nidia Almeida, Eduarda Bauleth Almeida, Celisia Calão, Ricardina Lisboa, Manuela Bodião, Salete Braz e Francelina Gomes (quase todas as componentes femininas faziam parte da equipa de basquetebol do Ginásio Clube da Torre do Tombo).

Neste Corso realizado no ano de 1955 participaram mais de uma dezena de carros, do cimo dos quais grupos de foliões, rapazes e raparigas, em brincadeira animada com os que os observavam  a partir da Avenida, ou acompanhavam a pé o cortejo, trocavam confetis, serpentinas, flores, etc. 

Foi o Corso possível, nesses tempos em que só o engenho e a arte podiam suprir a carência de materiais disponíveis no mercado moçamedense, fruto da reprovável política de import/export então prosseguida pela Metrópole em relação a Angola que durante muito tempo impedira a colónia de progredir. A verdade é que este Corso ficou para sempre na memória daqueles que na época viviam em Moçâmedes, nesses tempos anteriores a 1960 e à explosão populacional que a partir daí se verificou em toda a Angola, quando ainda todos nos conheciamos e "todos eram primos e primas"...


O carro alegórico representativo do Banco de Angola, passando junto da sede do referido Banco. Foto do meu album (espólio da mina sogra).

Foto do meu album (espólio da mina sogra). 
 
O carro alegórico representativo do Banco de Angola passando junto do edifício onde ficava a Papelaria Regina...
Foto do meu album (espólio da mina sogra). 
 
O carro alegórico representativo do Grupo Desportivo do Banco de Angola foi o mais requintado e por via disso, o vencedor!


  Foto do meu album (espólio da mina sogra).
 
Este carro alegórico representava a firma João Pereira Correia, Lda. (de João Pereira Correia e José Duarte), representantes em Moçâmedes das máquinas de costura Oliva.

Parodiantes eram adultos jovens, destemidos, provocadores, irrequietos, mas cujo comportamento se transformava radicalmente, quando, ao anoitecer, começavam as matinées dançantes nos clubes da terra (ao tempo, no Aero Clube, no Atlético Clube de Moçâmedes, mais tarde também no Clube Nautico), e após o jantar os animadissimos bailes que duravam a noite inteira  até o amanhecer,  ~Como alguém disse rebelde mas sabendo ser romântica, quando as circunstâncias convidavam a tal...

 
      Foto do livro de Paulo Salvador
 
Momento da eleição dos reis de Carnaval num baile realizado em Moçâmedes em 1955

A foto acima mostra-nos o momento da eleição do Rei e da Rainha num baile de Carnaval realizado no salão do Atlético Clube de Moçâmedes em 1955. A Rainha eleita tinha sido a Maria Julia Maló de Abreu (Pitula), filha de Moçâmedes, à época basquetebolista no Sporting Clube de Moçâmedes. O Rei, escapa-me o nome, sei que trabalhou na Casa das Noivas, que corria na maratona de fim de ano em Moçâmedes, e nada mais. A entrevistar os eleitos, o chefe de produção do Rádio Clube de Moçâmedes, Carlos Moutinho, tendo a seu lado Oliveira (Maboque). À esq. Lalai Jardim, por detrás da "Rainha", Silvestre, e mais à dt, Arnaldo Matos?, Renato Veli, Mário de Sousa; um pouco baixo, Simão. Ao fundo, elementos do animado conjunto musical "Os Diabos do Ritmo", que na foto a seguir surge em pleno, e do qual fizeram parte, nesta noite, o pianista e acordeonista Albino Aquino (Bio), Albertino Gomes, Frederico Costa e Marçal. Faltava aqui o Lico Baía (acordeonista).

Recordar os bailes de Carnaval em Moçâmedes, com máscaras ou sem máscaras, é recordar momentos inesquecíveis vividos primeiro nos salões do Ginásio Clube da Torre do Tombo e do Aéro Clube (até finais de 1940), nos salões de festas do Atlético Clube de Moçâmedes e do Clube Nautico (Casino), após 1950, e  também  no velho Ferrovia, que tinham com ponto culminante a eleição do Rei e a da Rainha da festa, recaindo a escolha, infalivelmente, nos mais divertidos da noite. Mas é também de recordar as histórias contadas pelas nossas avós de um tempo em que não existiam clubes nem salões e as festas decorriam ao ar livre, dançando-se em cima de estrados de madeira montados para tal, ou em casas particulares e no interior de antigos barracões.


Foto do meu álbum pessoal

Esta foto foi tirada num baile de Carnaval de 1954, no Clube Nautico (Casino). O meu primeiro baile! Entre outros, da esq. para a dt, Rui Bauleth de Almeida (RCM) e a inesquecível e irrequieta Octávia de Matos, Nídia e Arménio Jardim, Marta e Gabriela, Antunes Salvador (fotógrafo) e Justina Salvador, à esq. Um pouco atrás, à esq., Monteiro, Cristão (Quitólas) e Artur Homem da Trindade (desenhou as vivendas e os edifícios mais bonitos de Moçâmedes).

Eram bailes onde todos se divertiam em conjunto, pais, filhos, tios e primos, e até avós. A década de 1950 foi uma década de transição entre duas épocas. Dançava-se ainda, e muito, os clássicos e muito solicitados tangos e valsas («Comparcita», «Caminito», Danúbio Azul, Valsa dos Patinadores, etc.), dançavam-se baiões, marchas, passodobles, rumbas, slows, boleros, etc., apeesar de já terem começado a entrar em cena modernos rock-and-roll e o twist. Mas eram sobretudo as marchinhas brasileiras, os animados baiões, os passodobles e as rumbas que nos Carnavais predominavam. Uma marcha que nunca podia faltar nos bailes de Carnaval em Moçâmedes, sobretudo nesses tempos em que actuavam os "Diabos do Ritmo", era a marcha brasileira "Você pensa que cachaça é água...". Era com ela que geralmente encerravam os bailes de Carnaval. E também passodobles... e tangos, como a imortal «Comparcita» de Carlos Gardel, o tango eleito dos namorados, pelo prazer da proximidade física por instantes socialmente tolerada, e pelo romantismo que o género musical tangos acarreta. "Por instantes socialmente tolerado", sim, porque nos anos 1950 ainda as raparigas eram alvo fácil para a crítica social muitas vezes demolidora, que punham em causa a sua reputação... A verdade é que ninguém parava até ao raiar do dia, e quando o baile chegava ao fim, toda a gente pedia mais uma musiquinha... Ninguém saia dalí cansado! Terminado o baile, era comum os rapazes sairem dos salões directamente para uns refrescantes mergulhos na Praia das Miragens. Era o tempo dos grandes calores.   E a partir das 17hs do novo dia, lá estavam todos de novo, caidinhos, para a matinée dançante! Acontecessem no Casino ou no Atlético, fossem bailes de Carnaval ou Reveillons de passagem de ano, ou em outras quaisquer datas, a lotação das mesas sempre esgotava, restando aos mais jovens, do sexo masculino, ficar de pé junto ao átrio de entrada do salão, enquanto as raparigas, as jovens senhoras e os casais mais idosos ocupavam o conjunto de mesas que rodeavam os salões.

     Foto do livro de Paulo Salvador

O conjunto musical os «Diabos do Ritmo» era na década de 1950 o grande animador das festas da cidade de Moçâmedes, pelos animados bailes que proporcionou, que se prolongavam pela noite fora até ao raiar do dia, e pelas matinées dançantes aos domingos à tarde, que acabavam impretrivelmente às 20 horas. Segue um poema dedicado por Neco Mangericão a este Conjunto Musical:

"DIABOS DO RITMO

Às meninas do meu tempo
Acabei de ouvir a história dum violão
Uma coisa tão linda assim,
trouxe-me a velha recordação
de um grupo folião e seresteiro,
de malta pobre e sem dinheiro
mas com muita, muita vocação.

Ai que saudade sinto em mim
desse tempo pioneiro
em que vos tiravam da cama
acordes que subiam em chama
numas canções apaixonadas,
tocadas e em coro e cantadas
pelo Jaime Nobre, o Albertino
pelo Neco, o Cerieiro, o Bino (*)
e o Lito Baía, viola fenomenal,
e, ainda, pelo barbeiro Marçal

Assim passávamos o verão,
entre capoeiras assaltadas,
serenatas e churrascadas,
ou caranguejadas e afins,
lá na Aguada, no Martins,
que as fazia, a troco de nada.

E o tempo tudo levou.
Tudo passou e acabou
Aquela malta boa e temerária
seus instrumentos arrumou,
eu já não tenho o meu bandolim,
e a nossa voz p'ra sempre voou,
tal como também se acabou
aquela Banda extraordinária
que "Diabos do Ritmo" se chamou,
e que o nosso grupo formou.

Não se voltou a ver outra assim...
Quem se lembrará hoje dela?

(*) Desculpa lá Bio, pus Bino só para rimar NECO

(João Manuel Mangericão)



A propósito, os "Diabos do Ritmo" tinham por hábito fazer serenatas à porta das casas das raparigas. Acontecia de quando em quando, no Verão, aos fins de semana, por volta da meia noite, quando a cidade já dormia, deslocavam-se para o efeito em camionetas de caixa aberta que transportavam os instrumentos musicais (por vezes até o piano). Eram serenatas umas vezes efectuadas por iniciativa dos músicos, outras encomendadas por namorados que se juntavam aos músicos e até participavam do côro. E nem todas as raparigas as recepcionavam de igual modo. Umas, com mais à vontade e desinibição, vinham às janelas das suas casas oferecer sorrisos e agradecimentos e até algo de comer/beber. Outras, mais tímidas, limitavam-se a observar e a escutar as românticas canções, embevecidas, espreitando encobertas por detrás de cortinas... Todas felizes com a genial ideia!

     Foto do livro de Paulo Salvador

Muita gente conhecida nesta foto, para além de Maria Lidia e Arlindo Cunha (pequeno comerciante pa praça), os reis do Carnaval 1954, no Atlético. Entre outros, da esq. para a dt, por detrás dos eleitos: Renato de Sousa Veli, ?, Tó Zé Carvalho Minas, Carlos Moutinho (chefe de produção do RCM), Jesuina Almeida Carvalho, Carla Almeida Frota, Beatriz Almeida Frota, Alvaro dos Santos Frota e José Adriano Borges (o popular tio Alegria dos programas infantis das manhãs de domingo no RCM, e treinador, fundador e jogador de hóquei em patins do Atlético Clube de Moçâmedes) .

Foto gentilmente cedida por Maria Lidia, a rainha do Carnaval deste ano, e uma grande cantora dos Programas da Simpatia

Esta é a foto de um dos mais animados baile de Carnaval , o ocorrido  no Salão do Clube Nautico (Casino), i clube mais "IN" da cidade, em 1954. E como não podia deixar de ser, foi também abrilhantado pelos famosos "Diabos do Ritmo". Através da foto podemos ver o acto da coroação do Rei e da Rainha da festa, ou seja, da Maria Lídia e do Arlindo Cunha, os mais dados à paródia. Maria Lídia foi em 1954 a merecida «Rainha» deste baile de Carnaval, senhora de uma vivacidade contagiante, para além disso cantava lindamente e emanava uma simpatia que não podia deixar de prender aqueles que com elas tiveram o privilégio de contactar. Arlindo Cunha, o «Rei», marcava pela seu modo de ser e de estar, pela sua simplicidade e boa disposição, era um homem apaixonado pelas coisas de que gostava, dinâmico e empreendedor, e um grande amigo e mecenas do Atlético Club de Moçâmedes.

Havia ainda os "Assaltos de Carnaval" levados a cabo em qualquer outro salão, como o do Hotel Central, ou em casas particulares, em garagens, etc, por grupinhos organizados e devidamente mascarados, que entre si  se combinavam para o efeito.

Carnaval de rua em Porto Alexandre (Tombwa), imitando as danças indígenas. Fotos cedidas por Álvaro Faustino

Por esta altura (anos 50/60), na vizinha Porto Alexandre (actual Tombwa), a sua juventude não deixava em mãos alheias as festividades do Carnaval. Para além dos animados bailes de salão, podemos ver aqui, como no seio daquela comunidade europeia, à semelhança das chamadas "danças indígenas", aconteciam também danças de rua. Era como que uma interpenetração de culturas que estava em marcha, fenómeno aliás deveras interessante.

Carnaval de rua em Porto Alexandre. Foto cedida por Álvaro Faustino

Em Porto Alexandre, Carnaval sem Gigantones e cabeçudos não era Carnaval...Foto cedidas por Álvaro Faustino
Baile de Carnaval em Porto Alexandre. Foto cedida por Álvaro Faustino
Baile de Carnaval em Porto Alexandre. Foto cedida por Álvaro Faustino

Divertidos como era os alexandrenses, também os bailes do Recreativo (anos 50, 60, 70...) eram inigualáveis, pela alegria e pela camaradagem com que se desenrolavam. Aliás o que se poderia esperar de uma festa onde o casal Álvaro Faustino e Elizabete Pessanha estavam presentes? Paródia, paródia e mais paródia!


No Clube Nautico em 1960, crianças num concurso de máscaras infantis: Fernanda Alves, ?, ?, Graciete Vaz Pereira e Tita Vaz Pereira
Foto cedida por uma moçamedense
Mas o Carnaval em Moçâmedes tinha ainda outras facetas que não devem ficar esquecidas. Eram os concursos de máscaras de Carnaval dedicados aos mais novos que decorriam quer no Cine Teatro de Moçâmedes, quer mais tarde no Cine Esplanada Impala, ou ainda nos salões do Atlético e do Clube Nautico (Casino).


Nesta foto, Bellany Veiga Baptista faz a sua apresentação no Clube Nautico?, vestida de nazarena. À dt. Albertino Gomes (a dt.), o "endiabrado" baterista do conjunto musical "Diabos do Ritmo». Foto de Bellany.


Leninha Jardim Vilaça, vencedora num dos Concursos Infantis de Carnaval realizado no Impala Cine, no incio dos anos 1970 Foto da Leninha Jardim

                  Ana Paula Jardim. Foto do meu album


Outro Concurso Infantil, onde se evidencia a  pequenita Carla Branco Câmara (Caly). vestida de "boneca" no interior de uma caixa de papelão. Estava-se no ano 1970. Foto da Caly



Voltemos  mais uma vez ao Carnaval de rua dos africanos que teve o seu grande "apagão" em 1961, em consequência dos massacres selvaticamente perpretados pela UPA (União dos Povos de Angola, mais tarde FNLA), afinal contra gente trabalhadora e indefesa, europeus e africanos, que ganhavam o seu pão a trabalhar duro nas fazendas do norte de Angola.  Como em todos os tempos e em todas as situações, os sistemas políticos criam problemas e as pessoas é que pagam.  1961 foi  em consequência o ano do início da luta armada do "exército português" contra os movimentos de libertação que só terminaria com o golpe militar do 25 de Abril, em 1974.

Foi a partir de então que, com a proibição de ajuntamentos e  manifestações de rua,  que acabaram as "danças indígenas"  em Moçâmedes , as animadas danças que durante três dias desfilavam, cantando e batucando pelas ruas da cidade.  A grande festa do povo acabara, abruptamente. Acabaram as exibições de máscaras, e até as animadas batalhas de «cocotes» que deixavam a Avenida da República e as ruas laterais todas desarrumadas e cobertas de farinha chegaram ao fim.  Deixámos de ver desfilar em torno da Avenida da República os corsos de carros alegóricos, uma prática recente patrocinada pelos clubes e pelos jornais da terra, que dava oportunidade para competições,  fazia jus a prémios patrocinados por casas comerciais aos carros melhor ornamentados, imprimiam à festa as caracteristicas de um Carnaval europeu. 

A quadra carnavalesca a partir de 1961 perdeu a graça e a alegria que havia proporcionado durante décadas à juventude da nossa terra, e a todos quantos na festa se queriam incorporar. Durante o interregno que se seguiu  - o qual foi mais prolongado em Moçâmedes que em outras cidades de Angola, como o Lobito e Luanda - , as festas passaram a ser realizadas no interior dos salões dos Clubes desportivos da cidade e em casas particulares, através de Bailes e "assaltos" de Carnaval, ou de um ou outro concurso de máscaras juvenis, e pouco mais. Tenha-se em conta   que, com o início das comemorações das "Festas do Mar" em 1961, muito do brilho do Carnaval foi desviado para as essas festas, cujas datas eram muito próximas.

Saltemos então uns anos adiante. Eis-nos em 1974, mês e meio antes do golpe militar de 25 Abril que veio depôr o Estado Novo, e instaurar a democracia em todo o Portugal.  Ou seja, a pouco mais de ano e meio para independência de Angola. Os desfiles voltaram, não tão rapidamente como se esperava , nem com o deslumbramento que veio a adquirir em cidades como Luanda Lobito, que apresentavam já  com uma certa organização, regulamentos próprios e um novo tipo de promoção que incluia desfiles cada vez mais grandiosos com trajecto previamente demarcado, etc, transformando-se em cartaz turístico.





Fotos cedidas por um moçamedense

Nesse derradeiro Carnaval de Moçâmedes assistiu-se a um desfile  mais organizado em torno da Avenida da República que teve a participação de jovens africanas e jovens europeias como estas duas fotos testemunham, numa delas jovens africanas brasileiramente vestidas, com sedas e setins alaranjados, brincos, colares, turbantes, etc., noutra, jovens europeias exibindo trajes que evocavam usos e costumes da cultura greco-romana, raiz da cultura europeia, onde não faltava o coche, símbolo do poder monárquico dos séculos XVII e XVIII europeu. 



Mas também desfilarem carros alegóricos que transportavam em sí outras mensagens, como o  da JAEA  (Junta Autónoma de Estradas de Angola), a sugerir a nova Angola progressiva e multirracial que se pretendia para o futuro... 

Alexandrenses parodiando o seu último Carnaval em terras do Namibe. Foto de Alvaro Faustino.


1974, no recinto do Ferrovia. Foto de Alvaro Faustino
 
 
Ainda aqui, a situação mantinha-se calma nas cidades  litorâneas do sul de Angola, e nada parecia perturbar ou demover a vontade das gentes de Moçâmedes e de Porto Alexandre de se manterem em Angola e de se divertirem.
 
 Por esta altura o panorama social tinha mudado. Graças ao fruto da nova política  de um assimilacionismo acelerado, levada a cabo pelo Estado Novo,  a partir de 1960. Já muitos africanos ocupavam lugares de destaque um pouco por toda a Angola, sobretudo no funcionalismo público. O Estado Novo nunca concedeu o mínimo de autonomia aos Governadores Gerais e as gentes das colónias progrediam de acordo com as directivas do terreiro do Paço.

Esta  é a memória de um tempo que nos apraz aqui registar, um tempo que não volta mais, o tempo da nossa infância e adolescência descontraída e feliz, o tempo da 1ª década da nossa vida adulta, a fase mais transformadora, decisiva e definidora, no decurso da qual me vi forçada a mudar o rumo da minha caminhada.

 

Ocorrida a independêcia de Angola, as tradicionais "danças indígenas" voltaram em força. Já não às ruas de Moçâmedes, mas às ruas da cidade do Namibe. "Danças de rua" esta, genuinamente africana nas suas raízes mais populares, mais primitivas, como que sobrepujando o formalismo "pomposo" do desfile de carnaval à europeia...

Cantando, dançando e batucando,  este 1ºo Carnaval pós independência, possibilitava de novo  o extravazar de emoções por demasiado tempo contidas na alma do povo.

 


Fucam estas recordações!

MariaNJardim


                                                
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AINDA SOBRE O CARNAVAL


O Carnaval começou há mais de 4 mil anos antes de Cristo, no antigo Egipto, com determinados rituais de cariz religioso e agrário na época das colheitas, tais como as festas de culto a Ísis. A partir de então as pessoa pintavam os rostos, dançavam, bebiam, divertiam-se, libertavam tensões acumuladas. Há também indícios que o Carnaval tem origem em Roma em festas pagãs, rituais de orgia e danças em homenagem ao Deus Pã e Baco. Eram as chamadas Lupercais e Bacanais ou Dionísicas. 

Na Idade Média, predominavam os jogos e disfarces. Em Roma havia corridas de cavalos, desfiles de carros alegóricos e divertimentos inocentes como a briga de confetes pelas ruas. O baile de máscaras foi introduzido pelo papa Paulo II, no século XV, mas ganhou força e tradição no século seguinte, por causa do sucesso da Commedia dell'Arte. As mais famosas máscaras era e ainda são as confeccionadas em Veneza e Florença, muito utilizadas pelas damas da nobreza no século XVIII como símbolo máximo da sedução.

Com o advento da Era Cristã, a Igreja para conter os excessos decidiu-se pela inclusão do período momesco no calendário religioso, e o Carnaval ficou sendo uma festa que termina em penitência na quarta feira de cinzas. Mas estas acentuavam no período que antecedia a Terça-feira Gorda (o último dia em que os cristãos comiam carne antes do jejum da quaresma), no decurso do qual haveriam que ter també abstinência de sexo e até mesmo das diversões, como circo, teatro ou festas. De acordo com o calendário gregoriano, o Carnaval é uma festa móvel cuja data é indicada pelo domingo de Páscoa, também para que não coincida com a páscoa dos judeus. regra,segundo a qual o domingo de Carnaval cairá sempre no 7º domingo que antecede à Páscoa.

Na Europa um dos principais rituais de Carnaval foi o Entrudo, termo latino que significava a abertura da Quaresma, existente desde 590 d.C., quando o carnaval cristão foi oficializado. O povo comemorava comendo e bebendo para compensar o jejum. Mas, aos poucos, o ritual foi se tornando bruto e grosseiro e atingiu o máximo de violência e falta de respeito em Portugal nos séculos XVII e XVIII, com homens e mulheres a atirarem água suja e ovos das janelas dos velhos sobrados e balcões, enquanto nas ruas havia guerra de laranjas podres e restos de comida e se cometia todo tipo de abusos e atrocidades.





MariaNJardim 
 
Nota: Respeitem este trabalho. Se vierem aqui retirar algo, não esqueçam os créditos referenciando este blog.