domingo, 3 de julho de 2011

Manifesto dos colonos fundadores sobre tráfico ilegal de escravos (1860)




Manifesto dos colonos fundadores de Moçâmedes sobre tráfico ilegal de escravos: 1860




"Vamos falar dos grandes, digo, dos graves danos e perigos que desde já ameaçam os moradores e donos das feitorias que ao longo desta costa se dedicam com os seus escravos aos valioso ramo da industria da apanha da urzela, danos e perigos estes, tanto mais a lamentar que por longe seriam provenientes de algum acaso imprevisto, ou vaivém de sorte, são, pelo contrário, expressamente causados pela vontade de criminosos manejos de um só indivíduo que no menoscabo da leis e convenienciais sociais com todo o descaramento exerce na costa o ilícito e nefando tráfico da excravatura com o qual ameaça de total ruina a maior parte dos estabelecimentos da apanha da urzela e pescaria."  

 Lopes de Xavier Botelho, publicista

"Ano passado no mês de Setembro, o Senhor Manoel José Correa, morador e proprietário do sítio denominado Carumjaba, valendo-se da sua posição isolada, e sobretudo contando com a total ausência dos cruzeiros nestas paragens teve a criminosa audácia de receber em seu posto um barco espanhol que por ele, Correa, expressamente convidado, vinha embarcar negros como de facto os embarcou, acima de duzentos, e com eles seguiiu para o reino de Havana."
 
"É sabido que muito bem tomadas que sejam as precauções dos interessados em semelhantes embarques de negros nunca se podem efectuar sem que isso desse nos olhos aos que mais ou menos de longe   estanciam do local onde neles se efectuavam, motivo por que os escravos das vizinhas feitorias viram com seus olhos o sito embarque dos negros que o Sr. Manuel José Correa fazia a bordo do dito barco espanhol por ser feito de dia claro. Por consequencia, todos os demais feitores logo tiveram conhecimento dele e quanto bastou para manifestar espanto e alvoroço entre estes vendo ter chegado outra vez o tempo de embarque de escravos e que eles também em breve tocavam a sua vez. Logo em seguida disso tiveram início nas feitorias as grandes deserções em massa. Foi então quando ao Sr. Narciso Francisco de Sousa que estava apanhando urzela em S. Nicolau fugiram de uma só vez mais de 30 escravos, e a Ladislau  A. Magyar,  na Lucira, sete. "   
https://silo.tips/queue/escravidao-e-revoltas-de-escravos-em-angola?&queue_id=-1&v=1610649963&u=OTUuOTQuMTcuMjMx


Em 1860, haviam decorrido já 11 anos após  a chegada a Moçâmedes das colónias de Pernambuco (Brasil), em 1849 e em 1850, fugindo à onda de anti-lusitanismo gerada pela revolução praeeira, quando os colonos começavam a ver alguns resultados do trabalho investido nas actividades económicas pelas quais haviam enveredado no campo da agricultura,  num manifesto endereçado ao Governador de Benguela pelos vários produtores de urzela (1), estes mostraram-se indignados com os prejuízos gerados pela tentativa de tráfico ilegal de escravos, levada a cabo por um "potentado" local (do Distrito) de nome Manuel José Correa.

Este caso, à primeira vista insólito porquanto se trata de uma manifestação formal de produtores de Moçâmedes contra o tráfico ilegal, algo que seria simplesmente impensável dez ou vinte anos antes, quando o tráfico fluía na legalidade, aconteceu porque a manifestação anti-tráfico dos produtores da urzela  do distrito de Moçâmedes deu-se na verdade quando já há muito os navios patrulha ingleses e  portugueses vigiavam a costa em busca de eventuais prevaricadores. Na realidade  desde  12 de Dezembro de 1836 o tráfico de escravos  dirigido para o Brasil e Américas fora abolido por Decreto , uma abolição proporcionada por um lado pela queda do absolutismo em Portugal, e o triunfo do liberalismo, numa fase em que Sá da Bandeira subira ao poder no quadro da revolução setembrista, e por outro, por influência de países fortemente industrializados como a Inglaterra,  ávidos por se expandirem,  que viam o tráfico como um entrave. Por esta altura a economia de Angola já transitara  para o comércio lícito e procurava enveredar para o trabalho livre,  ainda que nesta fase de transição dada a enorme carecia de braços de trabalho,  a solução encontrada pelo governo português passasse pelo encaminhamento de escravos libertados de navios negreiros aprisionados, para as diversas actividades económicas em formação, onde,  na condição de ex-escravos ou semi-livres, se obrigavam a trabalhar durante 10 anos para o avanço da economia de Angola.
 
Em finais dos anos cinquenta, sabia-se que o tráfico ilegal vigorava ainda na região do Congo (Angola). Havia notícia de que os embarques que antes eram legalmente efectuados a partir dos portos de Luanda e de Benguela, desde 1836 tinham passado a fazer-se em praias e pequenas enseadas entre o Ambriz e o rio Zaire, através de traficantes que operavam na clandestinidade. Contudo fazê-lo no sul de Angola, numa zona desértica, onde era escassa a população indígena, era uma verdadeira anomalia.  A verdade é que havia notícia da presença de  um  navio negreiro espanhol, que fazia o tráfico ilegal para Cuba, nas águas do Distrito de Moçâmedes,  situação que atemorizava tanto os serviçais escravos e ex-escravos como os proprietários. Aliás nesse tempo em que a fuga de ex-escravos recentemente libertados de navios negreiros aprisionados era enorme,  os agricultores corriam o risco de falência, pelo que  toda e qualquer suspeita de tráfico ilícito constituía um factor desestabilizador. Seria o caso dos proprietários das feitorias destinadas exclusivamente à colheita da urzela,  um musgo com aplicação tintorial muito procurado pelas industrias têxteis da Europa, pelo que  vários produtores de urzela do distrito de Moçâmedes mostravam a sua indignação ao sentirem-se grandemente prejudicados com a perda da mão de obra de serviçais indígenas de que necessitavam para manter activa  a exploração.

O perfil das operações de Manuel José Correa, o responsável pelos embarques ilegais em Moçâmedes, não revelava nenhum tipo de organização estruturada. Dir-se-ia que Correa actuava sozinho e não em rede como faziam os traficantes que actuavam a partir do rio Zaire. Ele era proprietário de uma propriedade no distrito de Moçâmedes. Afasta-se assim a hipótese de uma feitoria isolada para o tráfico ilegal na região. Correa não tinha barracões de escravos, nem agentes espalhados pelo sul de Angola. Antes de retomar o tráfico ilegal é provável que ele se dedicasse à colecta da urzela. Ora a verdade é que Correa era mais um dos produtores da região, tal como todos aqueles que iriam se indignar diante do embarque de mais de 200 escravos, organizado por ele em Setembro de 1859.

Visto pelos escravos de outras feitorias que temiam pelo retorno do tráfico ilegal, o embarque ilegal perpretado por Correa teve sérias consequências, porque não apenas levou a várias fugas das feitorias, o que mais afligia os produtores da urzela: perder a mão de obra que garantia a colecta da urzela. Tinha-se uma preocupação maior com os efeitos indirectos a partir das embarques ilegais na região: as fugas dos escravos.

Correa segundo produtores de Mossâmedes roubava escravos para vender aos navios negreiros espanhóis. Não se sabe se tal crime foi a ele atribuido como um artificio para chamar a atenção das autoridades. Afinal, dizia-se, era seu "costume antigo"  o de "roubar e sonegar" escravos fugidos. Apesar disto, no entanto, nenhuma protecção fora antes escrita pelos produtores. Escravos que se julgavam réus de algum delito, procuravam por Correa para pedir "padrinho". Mais uma vez tem-se na conta a aplicação de um costume típico da escravidão. Como já vimos no interior através da fuga "chimbika", escravos insatisfeitos buscavam por outros donos. Aparentemente algo parecido aconteceu em Mossâmedes através dos escravos que buscavam Correa para pedir "padrinho".

" Temos que notar ilustradissimo Sr, que entre os desgraçados escravos que o tal Sr Correa levava a embarcar iam alguns roubados também - porque pelo que se sabe, há muito tempo, é costume antigo deste sr. roubar e sonegar parte dos escravos que nas suas fugas são capturados pela sua gente no sitio da Carumjaba e mesmo parte daquelas que das feitorias vizinhas para lá acodem a título de lhe pedirem "padrinho" por algum delito de que os ditos julguem serem réus (...) não falando dos muitos moradores de Mossâmedes que para sempre têm perdido os seus escravos, sendo embarcados nos navios negreiros dos quais este homem imoral é agente especial".

O ápice do circulo das revoltas escravas deu-se na propriedade de Manuel Paula Barboza. Sua feitoria tinha mais de cem escravos a desempenhar várias tarefas: colecta de urzela, pescaria, além de agricultura. O temor dos embarques ilegais também atingiram os escravos de Barboza. Assim, uma grande da revolta escrava aconteceu em sua feitoria, e a violencia extrema marcou este "holocautro". Após aguardar o anoitecer, os escravos de Barboza saqueram e incendiaram a casa do proprietário. Não o encontrando, em grande algazara, assassinaram o caixeiro de Barbosa, fugindo depois para a liberdade nas terras do interior.


"Porém o mais calamitoso de todos esttes desastres e até horroroso no seu efeito,  foi aquela fuga que o  Senhor Manoel Paula Barboza sofreu no Inamangando onde se achava estabelecido há um bom par de anos,  tendo empregados em diferentes misteres, como agricltura, apanha da urzela e pescaria, mais de 100 escravos, gente adulta, e de muitos anos de serviço. estes, então, que, por cúmulo da infelicidade tiveram ocasião de ver com os próprios olhos o embarque dos negros que se fazia a bordo do barco espanhol, no porto de Carunjaba, juraram desertar todos e até vingar-se do próprio senhor, pois supunham, e mesmo diziam,  que já não restava duvida alguma em que depois de longos anos de serviço, com que com mais certeza deviam contar e de serem embarcados para alem mar - o dito juramento eles cumpriram à risca: pos dee repente armaram-se, sublevaram-se e invadem à boca da noite a casa do seu senhor, saquearam, e incendiaram, procuraram entre gritos furiosos o Sr Paulo Barboza, que por felicidade achamdo se ausente salvou-se, porém em lugar dele o seu infeliz caixeiro foi vítima expiatória do furor dos amotinados - entre mil torturas expirou aos golpes de azagaias e ainda com isso não contentes os furiosos escravos separaram-lhe a cabeça do tronco, o mutilado cadáver entregaram-no às chamas da casa incendiada e qual demonios do inferno entoavam cantigas e danças de roda do terrível holocauto da infeliz vitima. Saciado desta maneira o furos canibalesco, todos, grandes e pequenos, de ambos os sexos, levantaram e tomaram o caminho para as terras gentilicas. Foi pois, esta forma que o Sr Manoel da Paula Barboza, por fazerem os outros embarques de escravatura na sua vizinhamça, teve que sofrer valiosa perda de uns poucos contos de reis alem da cruel e dolorosa lembrança que lhe resta e restará da sorte infeliz do seu caixeiro, no que deverasw nós também todos sinceramente acompanhamos."



 Na realidade o que os colonos pretendiam  com o Manifesto de 1860 contra o tráfico, era acabar com o tráfico ilícito,  mas manter  a possibilidade de recurso à mão de obra semi-livre de que tanto necessitavam, e que que em detrimento do tráfico, possibilitaria  o desenvolvimento da região,  nesses tempos  em que a fuga de escravos libertos era uma constante, ante o receio de novas capturas, situação que ameaçava de total ruína a maior parte dos estabelecimentos da apanha da urzela e das pescarias.

O caso da revolta de Mossâmedes demonstra que as relações entre escravos e senhores eram reguladas por compromissos segundo os quais os escravos tinham condições de conquistar certos espaços. Se quebrados tais compromissos podiam ter resultados desastrosos para os proprietários.  Tais compromissos eram provavelmente construidos a partir de referências que os escravos mantinham de suas sociedades de origem no interior da África Central.

 ORIGEM

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Nota à margem do texto:


Sobre o encaminhamento de escravos libertados de navios negreiros aprisionados, para as diversas actividades económicas em formação, onde,  na condição de ex-escravos ou semi-livres, se obrigavam a trabalhar durante 10 anos para as actividades económicas em formação.


A partir dos números levantados pelo historiador Roquinaldo Ferreira podemos visualizar a presença destes trabalhadores nas seguintes localidades: até a década de 1850, com maior força no centro-sul angolano, entre Luanda e Benguela; após este período, nas regiões do norte, como em Ambriz, nos vultosos empreendimentos promovidos por comerciantes do tráfico atlântico que passaram a negociar produtos como óleo de palma, café, borracha e amendoim; e ainda no sul, na região de Moçamedes, na coleta de urzela e nas plantações de algodão desenvolvidas nos anos sessenta, em tempos de guerra civil estadunidense.1

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Sobre o temor dos embarques ilegais também atingiram os escravos de Barboza:

Ou ainda, nos anos de 1860, na região de Moçamedes, as fugas seguidas de revoltas motivadas pelo temor de uma possível retomada do tráfico ilegal, porque "supunham (os trabalhadores) e mesmo diziam que já não lhes restava dúvida alguma, em como depois de longos anos de serviço, com que - com mais certeza deviam contar, é de serem embarcados para além-mar".2


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Sobre assassinatos ou tentativas de assassinatos de senhores por parte de seus escravizados:

 
 De cunho mais violento, tratam-se de casos de assassinatos ou tentativas de assassinatos de senhores por parte de seus escravizados: a morte por apunhalamento de "dois cidadãos respeitáveis", Mendonça e Prudêncio, de Luanda; na região de Ambriz, ferimento à bala de "um respeitável decano dos facultativos da província"; o assassinato do comerciante Mota de Kasanje e a tentativa de envenenamento por arsênico da família de um "fabricante" de Luanda, afora "referências sobre escravos que ameaçavam, na rua, diversos transeuntes".3


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 (1) Sobre a formação de Moçamedes na década de 1840 por migrantes portugueses oriundos do Brasil, Madeira e Algarve junto a uma sociedade africana composta de libertos do tráfico, engajados nos trabalhos agrícolas da região, ver: DIAS, Jill. Angola. In: ALEXANDRE, Valentim; DIAS, Jias. Nova História da Expansão Portuguesa: o império africano 1825-1890. Lisboa: Editorial Estampa, v.X, 1998. p.441-446.

(2) Representação dos produtores de urzela de Mossamedes contra o tráfico ilegal de escravos, em 24 de março de 1860, examinada por FERREIRA, Roquinaldo. Dos sertões ao Atlântico, p.85-89.         [ Links ]

 
(3) Estas ações mais violentas de resistência de escravizados e libertos foram analisadas de modo diferente pelo historiador João Pedro Marques, que acredita na impossibilidade da interferência dos casos de resistência sobre o avanço do processo abolicionista português. Cf.: MARQUES, J.P. Quatro assassinatos e um retrocesso, p.107.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

A deportação do Conde de Bonfim, José Lúcio Travassos Valdez e a revolta em Mossâmedes, Moçâmedes, Angola, em

Ficheiro:GP Conde de pd-bonfim.jpg


Na foto: José Lúcio Travassos Valdez . Primeiro, Barão (1835), e desde (1838), Primeiro Conde do Bonfim.
 
A deportação e o degredo foram nos séculos XIX e XX uma poderosa arma ao serviço dos regimes políticos. Em todo o mundo foi evidente a utilização desta forma de migração forçada como meio para impedir a acção dos opositores políticos. A prática não é recente sendo uma constante do processo histórico desde a Grécia e a Roma antiga, e poderá ser assinalada a partir de 1797 com a ida dos opositores da Revolução Francesa para a Guiana, prática que os franceses mantiveram a partir de 1852 com as chamadas ilhas presídio, como foi o caso das ilhas do Diabo, Caiena, e de Saint-Laurent-du-Maroni. Estevepois ligado aos colonialismos.

Em Portugal a conjuntura politica oitocentista post revolução liberal provocou migrações forçadas por força de perseguições políticas para as ilhas da Madeira, Açores, Cabo Verde e Angola, que serviram de espaços de deportação de alguns políticos e militares menos gratos aos diversos regimes políticos ou grupos com controlo do poder.

Após a independência do Brasil, em 1822, Angola tornou-se o principal destino para os condenados pelas leis lusitanas, tendo chegado a receber centenas deles anualmente. O periodo das mudanças porque passou todo o continente africano nos finais do século XIX, foi marcado pelo aumento da presença europeia e a conversão económica a partir da abolição do tráfico de escravos. Em 1864, os degredados somavam praticamente um terço da população de Angola.

Os degredados não foram passivos, eles actuaram no território angolano, na politica imperial portuguesa e na História de Angola. Foram usados -grupo marginal- no contxeto de transformação, com o impulso crescente colonial. Foram importante sinstrumentos como povoadores e tomaram parte no processo de de embate e diálogo cultural, intensificado na segunda metade do século XIX.

Para milhares de degredados a segunda metade do seculo XIX, Angola foi um lugar de castigo. As sentensas que lhes orientavam para quela região baseavam-se na tese de que não havia pena mais severa do que forçar a moradia nos espaços conflituosos e incertos da nova «joia da corôa» apos a independencia do Brasil. 
No dia 6  de Maio de 1847, a Angra do Negro,  em seguida denominado Mossâmedes, teve a honra de receber um degredado muito especial. Era o conde do Bonfim, José Lúcio Travassos Valdez,  que na batalha de Torres Vedras em 22 de Dezembro de 1846, no decurso do governo de Costa Cabral, fora feito prisioneiro e  enviado, com outros deportados políticos, no brigue "Audaz" para Luanda,  onde chegara, a 25 de Março. Chegado alí, o conde de Bonfim foi impedido de desembarcar, ante o receio de uma revolta, tendo sido metido a bordo da corveta "Relâmpago", com os seus dois filhos, rumo a Mossâmedes, onde a temida revolta acabaria por ter lugar, a seu favor e da Junta do Porto. Face ao acontecido, mais uma vez  o conde do Bonfim, José Lúcio Travassos Valdez teve que partir, então para a Ilha de Santa Helena tendo a escuna  em que viajava sido abordada à saída da baía por um brigue de guerra inglês que a conduziu a Luanda, onde o conde e seus filhos foram apresentandos ao governador. Para mais pormenores, seguem dois textos sobre o assunto, o primeiro retirado de Wikipédia, o segundo, do digilivro "O Conde do Bomfim: noticia dos seus principaes feitos":
                                                            
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José Lúcio Travassos Valdez (Elvas, 23 de Fevereiro de 1787Lisboa, 10 de Julho de 1862), primeiro barão (1835) e desde 1838 primeiro conde do Bonfim, foi um estadista e político português no tempo da monarquia
Em sua juventude, o futuro conde do Bonfim estudou  Direito na Universidade de Coimbra e participou a partir de 1808 da revolta portuguesa contra a ocupação napoleónica da sua terra. Ele serviu como voluntário sob o comando de Gomes Freire de Andrade e participou das batalhas da Roliça (17 de Agosto de 1808) e de Vimeiro (21 de  Agosto de 1808) contra os franceses.  
Até ao fim da Guerra Peninsular entrou em muitas batalhas, dando sempre provas de grande energia e coragem. Mesmo depois da expulsão dos franceses, Bonfim permaneceu no Exército português. Em Junho de 1821 foi promovido a coronel  e em 1823, quando em Trás-os-Montes se deu o levante absolutista, promovida pelo conde de Amarante, foi nomeado comandante da divisão ligeira, perseguiu os revoltosos, e entrou na Espanha chegando até Astorga, León e Gradefes. 
Voltando para Portugal foi dirigir uma coluna de operações na Beira, sendo escolhido para marchar à frente das forças destinadas a opor-se à insurreição de Vilafrancada liderada pelo infante D. Miguel  nos últimos dias de Maio de 1823. Tendo D. João IV  aderido ao movimento iniciado por seu filho, foi dissolvida a coluna do coronel Valdez, e este intimado a residir em Mora, de onde conseguiu, com o auxílio de alguns dos seus amigos e antigos companheiros de armas, ser transferido para Setúbal. Só depois de promulgada a Carta Constitucional de 1826, sendo ministro da guerra o general Saldanha, é que ao coronel Valdez se deu novamente o comando de um regimento. Mandado com o seu regimento e outras forças combater o movimento absolutista que aparecera em Bragança, e tendo sido obrigado pelos revoltosos, depois de duro combate, a recolher-se ao castelo da vila, viu-se forçado a capitular no dia 26 de Novembro de 1826, e foi conduzido para Miranda e depois para Moncorvo. Sabendo que existia ali um depósito de armas, tratou com os seus companheiros de se apoderar delas e tentar cruzar o rio Douro a fim de juntar-se às tropas fieis à Carta, sendo porém acossado pelas numerosas guerrilhas que então infestavam a província deTrás-os-Montes teve de atravessar a fronteira, e as autoridades espanholas  o mandaram para Salamanca e depois para Valladolid. Passado alguns dias retornou ele a Portugal, chegando a Lisboa pediu um conselho de guerra para se justificar da capitulação de Bragança, e sendo-lhe a sentença não só favorável mas até honrosa, Valdez foi pouco depois nomeado, em 7 de Abril  de 1827, governador e capitão-general da Madeira e Porto Santo. Dedicou-se então aos melhoramentos materiais e agrícolas daquelas ilhas, e nestes trabalhos ficou sabendo dos motins ocorridos em Lisboa e dos projetos do infante D. Miguel, de se apoderar da regência do reino, declarando-se rei absoluto. Valdez havia fundado um jornal,   "A flôr do Oceano", e no dia 22 de Junho publicou um manifesto protestando contra aqueles projetos, cuidando imediatamente de se prevenir para a defesa da ilha, se acaso D. Miguel a mandasse atacar pela sua esquadra, e comunicou o ocorrido ao duque de Bragança, aos ministros de Portugal e Brasil, em Londres, bem como ao embaixador desta última potência em Viena de Austria.  Pouco depois destes acontecimentos chegou à Madeira o novo capitão-general nomeado por D. Miguel, mas não tendo podido desembarcar regressou a Lisboa. Ao mesmo tempo saíram deste porto uma corveta e dois navios  de guerra para bloquearem a ilha, e por fim o capitão-general Valdez recebeu no dia 16 de Agosto  de 1828 uma intimação para se render ao comandante de uma esquadra, composta de uma nau, duas fragatas, duas corvetas, dois brigues e duas charruas. Valdez não desanimou, apesar de ver a grande força dos inimigos, tendo estes, porém, conseguido apoderar-se do porto de Machico reconheceu a impossibilidade da resistência, e entrou em acordo com o vice-almirante por intermédio do cônsul inglês residente na ilha. Partiu então para Inglaterra com sua mulher e filhos, e ali esteve lutando com inúmeras dificuldades, chegando a passar privações, até 1832,  em que partiu para a ilha Terceira no arquipélado dos Açores, e apenas desembarcou em Angra do Heroismo, foi-lhe dado o comando da 1.ª companhia do batalhão sagrado, batalhão só composto de oficiais, e com ele fez a guarda avançada do exército libertador quando marchou do Mindelo para o Porto (Desembarque do Mindelo) ; mas depois, foi mandado pelo imperador para o quartel general do duque da Terceira, para que este o informasse dos movimentos do inimigo, sendo em 21 de Julho de 1832, escolhido para ajudante general. Em 6 de Agosto seguinte foi promovido a brigadeiro, continuando como ajudante do duque da Terceira, até que e D. Pedro IV assumiu o comando-em-chefe, passando nessa ocasião Travassos Valdez a servir de chefe do estado-maior. Quando o imperador saiu do Porto ficou ali o brigadeiro Valdez como chefe do estado-maior de Saldanha, e no combate de 18 de Agosto de 1833  comandou a ala esquerda, e a 20 de Agosto seguiu para a capital com o regimento de infantaria a bordo da fragata "D. Maria II". Tomou parte na defesa das linhas de Lisboa, ficando gravemente ferido no ataque de 5 de Setembro o que o obrigou a afastar-se do serviço por muito tempo; acompanhando porém já D. Pedro para Santarém nos princípios de 1834, e regressando depois com ele a Lisboa, quando em seguida a batalha de Asseiceira se formaram dois exércitos de operações sob o comando dos generais duque da Terceira e Saldanha.
Quando da morte de D. Pedro IV e a dissolução do  estado-maior imperial, o brigadeiro Valdez ficou desempregado até que eclodiu a revolução de 9 de Setembro de 1836,  em que se proclamou uma nova constituição. No dia 16 do referido mês foi nomeado membro do Supremo Conselho de Justiça Militar. Em outubro teve o comando do exétciro do sul , que se formou para evitar a invasão dos cartistas e em 14 de Dezembro  seguinte foi nomeado comandante da 7.ª divisão militar, continuando naquela comissão. Eleito deputado no congresso constituinte de 1837  pelo distrito de Leiria, quando surgiu a tentativa cartista da Ponte da Barca, foi Travassos Valdez, já, então agraciado com o título de Barão do Bonfim, encarregado do comando em chefe das forças do sul do reino, recebendo plenos poderes sobre todas as autoridades civis e militares. Apaziguado o Alentejo, o Barão do Bonfim juntou-se a Sá da Bandeira, e em 28 de Agosto de 1837  deu aos marechais a ação do Chão da Feira, seguindo depois para Almeida  e para o Douro para conversar com o conde de Antas  que voltava da Espanha e logo a seguir terminava a revolta cartista  ganhando a ação de Ruivães. 
Regressando à capital, foi nomeado ministro da marinha e interino da guerra em 9 de Novembro de 1837 , conservando-se no ministério até 9 de Março de 1838, voltando a encarregar-se da pasta da guerra desde 20 de Abril até 18 de Abril de 1839 . Foi deputado nas legislaturas de 1839 e de 1840, sendo eleito por vários círculos do continente do reino, e em 1839 pelo de Goa. Em 26 de Novembro de 1840  entrou novamente no ministério, com o encargo da presidência do gabinete e as pastas da guerra, e interino da marinha e estrangeiros. Apresentou então às câmaras importantes e notáveis relatórios, tomou medidas enérgicas quando em fins de 1840 estiveram para se romper as boas relações de Portugal com a Espanha, dirigiu as negociações para o reconhecimento do governo português pela Santa Sé e pelos Países Baixos, fundou o presídio que depois se transformou na vila de Moçâmedes, e finalmente em 9 de Julho de 1841, querendo sustentar a instituição dos batalhões nacionais e encontrando resistência, pediu a exoneração em 9 de Junho de 1841, sendo substituído pelo ministério presidido por Joaquim António de Aguiar.

Em 1842 combateu sempre na câmara alta o governo de Costa Cabral, depois marquês de Tomar, até que decidida a revolta pela oposição, partiu para o Alentejo. O conde do Bonfim, título com que fora agraciado em 1838, pôs-se à frente do movimento iniciado pelo regimento de cavalaria em Torres Novas no dia 4 de Fevereiro de 1844, e com esse corpo, infantaria  e caçadores marchou sobre a Guarda. Malogradas ainda outras combinações, seguiu para Almeida e ali sustentou o cerco, emigrando depois para Espanha, França e Inglaterra. Voltou a Lisboa em 9 de Junho de 1846, vindo da Inglaterra a bordo do vapor "Mindelo", sendo em 29 de Junho  nomeado comandante da guarda nacional, e em 22 de Agosto, comandante da 1.ª divisão militar, lugar de que foi exonerado em consequência do golpe de Estado de 6 de Outubro. Partindo para Évora foi pela junta, formada nessa cidade, nomeado comandante em chefe das forças do sul e logo depois presidente da mesma junta. Na batalha de Torres Vedras em 22 de Dezembro de 1846  foi prisioneiro, sendo conduzido a Lisboa, de onde passou a bordo de diferentes navios do Estado, e por último para o brigue "Audaz", que saiu da barra em 2 de Fevereiro de 1847 com destino a Angola.
Chegando a Luanda em 25 de Março, os presos políticos foram levados para diversas prisões, mas o conde do Bonfim e dois filhos que o acompanhavam, Luís e José, ficaram a bordo da corveta "Relâmpago". Receando-se alguma revolta, a corveta levantou âncora e seguiu para Moçâmedes, onde chegou em 6 de Maio. No dia 20 deste mês começou em Moçamedes uma revolução a favor da Junta do Porto, o conde saiu no dia seguinte, com os dois filhos, para Santa Helena, a bordo de uma velha escuna, que foi abordada por um brigue de guerra inglês que nessa ocasião entrava no porto de Moçâmedes, levando-a para Luanda, apresentando ao governador o conde do Bonfim e seus filhos. Desse modo, o conde foi novamente encarcerado na corveta "Relâmpago", seu filho Luís em outro navio, e José mandado para Benguela, ficando nesta situação até 23 de Agosto, data em que chegou a Luanda a fragata "Terrible", que em consequência da convenção que pusera termo à guerra civil, trouxe os deportados para Portugal, onde chegaram em 9 de Outubro. Depois de ter estado em comissão até Dezembro de 1852, foi nomeado membro do conselho de justiça militar, cargo que desempenhou até falecer.
In Wikipédia
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Do Livro: "O Conde do Bomfim: noticia dos seus principaes feitos"


Feita a capitulação foi o conde do Bomfim conduzido prezo para Belem, com os seus officiaes, chegando alli na tarde de 25 de dezembro e foram mandados embarcar a bordo da fragata Diana, donde foram transferidos para a fragata Rainha, onde foram conservados debaixo de grande vigilancia e rigor em consequencia das ordens do governo, a ponto tal que só era permittido fallarem as pessoas de suas familias quando para isso obtinham licença especial do governo, que eram obrigadas a apresentar ao commandante fallando aos prisioneiros só na presença de um empregado do governo civil.—Que vergonha, e que horror fazer-se isto ao conde do Bomfim, que foi sempre, como o narrámos, generoso e egual para com todos os partidos, propondo amnistias á Rainha, e dando empregos e honras aos seus proprios inimigos e vencidos!
Mas, como se isto ainda não fosse bastante, o conde do Bomfim e seus dons filhos mais velhos, o general Celestino Soares, o conde de Villa Real, D. Fernando, o coronel Forman, o patriota Jaime (commandante do batalhão de Vizeii), o tenente coronel Alves (hoje marechal de campo reformado), e mais vinte e tantos bravos officiaes, foram mandados inopinadamente durante a noite de 27 de janeiro de 1847 passar para bordo do brigue de guerra « Audaz, » sem se lhes dizer qual era o (im desta transferencia, e conservados assim no maior aperto, sem se lhes proporcionarem quaesquer comímodidades, e para não estarem sujeitos só á ração do porão apenas se lhes permittia que recebessem a comida que as suas familias e amigos lhes mandavam de terra.
Neste estado de incerteza do seu destino havendo-se espalhado que iam para Angola, o nobre marquez do Fayal (hoje duque de Palmella), filho do illustre e generoso duque do mesmo titulo, herdeiro das suas virtudes, foi elle mesmo a bordo certificar-se do que precisavam aquellas illustres victimas do patriotismo, e logo que obteve a indispensavel licença, mandou-lhes para bordo um rico e abundante rancho, appropriado a pessoas da classe da sociedade a que pertenciam, para que não fossem só sujeitos ás rações de bordo, embora houvesse toda a idéa (como depois se verificou), que o benefico e generoso capitão tenente Victorino Rodovalho, e depois o capitão tenente Antonio Sergio de Sousa (hoje ajudande de ordens do senhor infante D. Luiz), que commandaram o brigue Audaz, e os seus offlciaes fariam quanto estivesse ao seu alcance para mitigar a sorte e soffrimentos d'aquelles que contra todas as leis, sem sentença, e contra todos os uzos, eram assim degradados para tão mortifero clima, apesar de haverem capitulado com as honras da guerra, saindo o navio para Angola no dia 2 de fevereiro de 1847.

Chegaram a Loanda em 25 de março, e foram successivamente mandados para prisões em terra todos os companheiros do conde do Bomfim, excepto elle que foi mudado para a corveta Relampago, e seu filho segundo o capitão (hoje major) Luiz Travassos Valdez, tão conhecido pelos seus interessantes Almanachs, e outros importantes escriptos; sendo mandado o seu filho primogenito o major José Bento Travassos Valdez (hoje conde do Bomfim, José), com o major (hoje coronel e commandante militar da Ilha da Madeira), José Herculano Ferreira de Horta para a mortifera cidade de Benguella.

Depois disto havendo-se excitado extraordinariamente os animos na tropa e habitantes de Loanda a favor dos prezos politicos, a ponto de se recear que houvesse uma revolta para os libertar, tal era a opinião publica em toda a parte a favor do conde do Bomfim e da causa que elle defendia, foi a corveta Relampago mandada sair repentinamente, e passando por Benguella tomou a seu bordo o filho primogenito do conde do Bomfim, desembarcando-os e ao filho segundo em Mossamedes no dia 6 de maio; — mas infelizmente para os que os opprimiam tão injustamente, esqueceram que a opinião publica, a que queriam fugir, era a mesma em toda a parte—ainda mesmo n'aquellas areias Africanas—e o que é mais, inconsideradamente não reflectiram ao menos, que nem todos são ingratos neste mundo l e cahiram em deportar o conde do Bomfim e seus dous filhos mais velhos justamente para Mossamedes, cuja povoação via nelle o seu fundador, como dissémos que o foi, quando ministro da marinha e ultramar em julho de 1840.

Com effeito no dia 20 de maio de 1847, como era de suppor teve logar uma revolução em Mossamedes a favor do conde do Bomfim e da Junta do Porto, cujo governo foi immediatamente proclamado; mas, como a força que alli existia fosse mui diminuta para resistir à qualquer ataque dos navios do cruzeiro portuguez naquelles mares, e todos desejassem vir ajudar em Portugal a causa que defendiam, trataram desde logo de se aprovisionar, preparar e embarcar em uma velha escuna de guerra de que tinham tomado posse apenas haviam feito a revolução, na intenção de partirem no dia seguinte para a ilha de Santa Helena, apesar do mau estado da embarcação e do grande risco de serem encontrados pelos navios do cruzeiro portuguez. Mas, entrando nesse dia na bahia de Mossamedes o brigue de guerra inglez Flying Fisli, coramandado pelo capitão Dike, aconteceu, que, contra toda a expectativa este official apresou no dia 2i a escuna de guerra Conselho, em que o conde do Bomfim e seus companheiros estavam já a fazer-se de véla, o que era tanto mais inexperado que ainda na vespera o capitão Dike, perguntando-se-lhe se te-' ria duvida em receber a bordo alguns dos c'ompromettidos, ou emfim lhes dar alguem da sua guarnição para dirigir a navegação da escuna portugueza até á ilha de Santa Helena, visto que os officiaes da escuna não abraçaram a revolução a favor da Junta do Porto; mostrou-se disposto ao pedido que se lhe fez. Sendo certo que é do direito das gentes, ou uso e costume, não se negar os soccorros indispensaveis para a navegação e salvação das vidas quando quaesquer navios, que se encontram, os requerem, o que sabemos o conde do Bomfim fez ver ao capitão Dike, e que as esquadras britannicas não interferiam então na guerra civil de Portugal, tratando com a mesma egualdade os navios do governo e da Junta do Porto, que aliás todos uzavam da mesma bandeira da nação e reconheciam a rainha. Devemos notar, que além d'isso, o conde do Bomfim lembrou ao capitão Dike, que a generosa e hospitaleira nação britannica jamais deixou de se prestar, com grande gloria do seu pavilhão, a dar abrigo ao infortúnio em casos politicos, do que lhe apresentou exemplos bem publicos, taes foram: que o capitão Canning da corveta Aligator o recebeu a elle mesmo conde do Bomfim a seu bordo, e a sessenta e tantos refugiados para os salvar da furia de seus inimigos, e isto no meio de uma esquadra que fazia violentas reclamações nas aguas da ilha da Madeira em 1828, quando o conde do Bomfim se acolhera áquella bandeira por estarem acabados todos os meios de defeza da ilha em nome da Rainha e da Carta Constitucional, como o narramos. Que outro tanto aconteceu em Hespanha em 1842 quando uma nau ingleza salvou em Cadix a Espartero, duque da Victoria e o levou para Inglaterra quando aquelle illustre general foi derribado da regencia de Hespanha em consequencia de uma revolução geral naquelle reino. Que por occasião de uma revolução em Galiza em 1846 havendo-se o brigue de guerra hespanhol Nervion declarado por ella, e vendo depois, que havia sido suffocada, dirigiu-se para Gibraltar, e apesar das reclamações do governo de Madrid, o governador de Gibraltar entregou o brigue, mas conservou, como refugiados, o commandante e mais pessoas que nelle iam entregandolhes as suas bagagens. Que em summa, não ha exemplo de Inglaterra haver negado protecção ou entregado refugiado algum, que por motivos politicos estivesse ao abrigo da sua bandeira.

Apesar das energicas "reclamações e protestos do conde do Bomfim, ao capitão Dike em nome do paiz, no seu proprio, assim como no dos seus companheiros de infortunio, victimas da prepotencia daquelle commandante de um navio de guerra britannico, que não só manchou a gloriosa bandeira da sua nação, mas tambem indignou a briosa corporação a que pertencia, levando o conde do Bomfim e seus companheiros para Loanda a bordo do brigue do seu commando, havendo-os obrigado a passar para o seu navio só com o fato que tinham no corpo, sem lhes consentir que levassem cousa alguma das suas bagagens e do que tinham a bordo da escuna Conselho, que o capitão Dike fizera occupar pela guarnição que lhe approuve, ficando a bordo da dita escuna, como sabemos, alem das bagagens e de um rico e abundante rancho com que se haviam preparado para seguirem viagem para a ilha de Santa Helena, uma consideravel somma de dinheiro que o conde do Bomfim já antes da sua sabida de Portugal, á custa de muitos sacrifícios seus, de sua familia e amigos, bem como depois alguns negociantes em Angola haviam reunido de antemão .para se habilitarem assim a fazer face ás despezas que se tornassem indispensaveis para poderem salvar-se d'Afrioa: — donde com effeito se teriam salvo a não ter sido aquelle inqualificavel e atroz procedimento do capitão de um navio de guerra inglez, — procedimento em fim que, segundo somos informados, acabou de completar a ruina dá fortuna do conde do Bomfim, sua familia, e outras daquellas victimas do referido attentado, pois que, chegados a Loanda no dia ,30 de maio, só com o fato que tinham no corpo, foram de novo entregues ao governador geral de Angola, o qual mandou o conde do Bomfim outra vez para bordo da corveta Relampago, seu filho segundo para outro navio, e o filho primogenito novamente para a mortifera cidade de Benguella; e tendo acabado de ancorar no porto de Loanda a escuna Conselho, a bordo da qual dissemos tinha ficado tudo que lhes pertencia, o conde do Bomfim reclamou immediatamente a sua bagagem, mas unicamente lhe foi entregue a Cama e as suas mallas arrombadas com alguma roupa dentro, Perdendo-se Tudo o Mais. 

Depois de mil difficuldades, o conde do Bomfim, que ficou incommunicavel, pode fazer chegai' ao conhecimento do honrado almirante Sir Charles Hotham, commandante em chefe da marinha britannica naquejles mares, um detalhado relatório a respeito do atroz procedimento do para sempre famoso capitão Dike, pedindo-lhe que se interessasse com o seu governo a favor de victimas entregues á discrição dos seus inimigos politicos, depois de haverem estado (bem que muito contra sua vontade!) debaixo da bandeira britannica. O brioso almirante inglez, apenas recebeu aquella notír cia na ilha de Santa Helena, mandou a Loanda a fragata Acteon, do commando do distincto capitão Mansel, para communicar ao governador geral de Angola e ao conde do Bomlim, que tinha já mandado prezo para Inglaterra o capitão Dike para responder pelos seus procedimentos; e para outro-sim fazer constar ao governador geral de Angola e ao conde do Bomfim, que elle almirante intendia que o conde do Bomfim e seus companheiros tinham direito á protecção da bandeira britannica, e que embora não reolamasse desde logo a sua entrega, esperava ordens nesse sentido, e portanto contava tambem que o governador geral de Angola se absteria de tomar qualquer medida que pudesse ser contraria ao bem-estar ou á consideração devida ao conde do Bomfim e seus companheiros.

Emfim, estamos informados de que o cavalheirismo, generosidade e philantropia daquelle distincto almirante chegou a tal ponto, que mandou offerecer ao conde do Bomfim pelo capitão Mansel, o seu dinheiro e quaesquer objectos que precisasse, juntando o referido capitão honrada e briosamente analogos offerecimentos da sua parte até onde elle pudesse: ao que o conde do Bomfim agradecendo cheio de reconhecimento, sabemos que respondeu com a nobreza e independencia que lhe é natural, que acceitava a offerta da sua protecção em que muito confiava, mas que não podia acceitar as outras suas offertas, que aliás agradecia tanto como se acceitasse, porque seria offender a generosidade com que os principaes habitantes de Loanda — especialmente o seu generoso amigo Francisco Barbosa Rodrigues, presidente da camara municipal — lhe proporcionava tudo que necessitava, e a seus dois filhos mais velhos; alem de que, tanto o benemerito commandante da estação naval portugue/a, o capitão de mar e guerra Cardoso (actual inspector do Arsenal da Marinha de Lisboa), como o capitão de fragata João de Rodovalho, commandante da corveta Relampago, e bem assim o capitão tenente Escrivanis, que succedeu ao capitão de fragata João de Rodovalho no commando da corveta Relampago, e o capi'tão tenente Freire, commandante da charrua Príncipe Real, e em geral toda a officialidade da marinha portugueza que se achava naquella estação naval, faziam tudo que estava ao seu alcance para lhes suavisar a penosa situação em que se achavam, mostrando-lhes a sua sympathia.

Aproveitando pois o conde do Bomfim a promettida protecção, pediu que seus dois filhos mais velhos fossem mandados para ao pé de si, e que os seus outros companheiros, que estavam presos no porão da Charrua a bordo da qual o conde do Bomfim estava preso e incommunicavel, gosassem ao menos de tanta liberdade como a que elle tinha, pois que se elles eram criminosos por se terem querido libertar, elle conde do Bomfim era o principal.
Reclamou outro-sim que a -respeito dos prisioneiros que se achavam em differentes pontos houvesse com elles ao menos analogas medidas, especialmente a respeito daquelles que o governador geral de Angola tinha mandado deportar para o sertão.
Com effeito o capitão Mansel foi immediatamente reclamar do governador geral de Angola no referido sentido, e effectivamente foram dadas as ordens exigidas em nome do almirante britannico.
Que reclamações violentas e pesadas indemnisações não pagariamos nós á Inglaterra (sempre prompta a exigirnol-as), se mutatis mutandis, estes procedimentos tivessem sido feitos por um official da marinha Portugueza a quaesquer subditos inglezes por insignificante que fosse a sua posição na sociedade!
A fragata Acteon conservou-se fundeada no porto de Loanda (para observar se as ordens eram cumpridas) até que no dia 23 de agosto de 1847 alli chegou a fragata a vapor ingleza Terrible do commando do distincto e cavalheiro capitão Ramsey, que foi buscar o conde do Bomfim e seus companheiros, que tão atrozmente haviam sido deportados para Angola, sendo aquelle magnifico e grande navio, — então talvez o melhor de Inglaterra—, mandado expressamente a Loanda para aquelle fim em virtude de debate e do desejo do parlamento britannico, e das ordens do governo Inglez querendo que em consequencia do Protocolo de 21 de maio de 1847 pelo qual a França, Hespanha e Inglaterra, pela força d'armas puzeram termo á guerra civil em Portugal derribando a Junta do Porto; fossem reintegrados nos postos, honras e condecorações, de que haviam sido deraitticlos por um decreto por se terem declarado a favor da causa popular ou contra-revolução de 9 de outubro de 1846 no Porto, contra o golpe de estado e reacção em Lisboa na noite de 6 de outubro do mesmo anno.
Saiu de Loanda o conde do Bomfim no dia 8 de setembro de 1847, e chegou a Lisboa a 9 de outubro desse aono.
IX Desde a Regeneração proclamando a Carta Reformada em abril de I SI» l até á presente época (Junho de l SOO.) Desde que o conde do Bomfim, depois da amnistia de 1847, chegou a Lisboa a 9 de outubro desse anno, voltando do degredo injusto que soffreu em Angola, nunca mais tornou a ser empregado, até que só em 21 de dezembro de 1852 depois da RegeneraÇÃo em abril de 1851 sendo ministro da guerra o nobre marechal duque de Saldanha, foi nomeado membro do Supremo Tribunal de Justiça Militar, logar que não devia ter sido privado de exercer desde que o Protocolo de maio de 1847 restituiu todos os funccionarios do estado aos seus cargos, como os foram exercer os juizes dos outros tribanaes depois que se publicou a amnistia de 1847; e tanto mais isto é assim relativamente ao caso do conde do Bomfim, quanto é certo que depois que voltou em junho de 1846 a Portugal da emigração pelos successos de Torres Novas e Almeida em 1844, foi logo occupar o seu logar no Supremo Tribunal de Justiça Militar havendo-se publicado uma amnistia em 1846 como a que se publicou em 1847, pois que era membro do referido Tribunal, e os seus membros segundo a Carta Constitucional não podem ser demittidos, porque são juizes, e os juizes são inamoviveis;'a lei é egual para todos, e os militares não podem portanto ser julgados por juizes de commissãol


O conde do Bomfim, desde que chegou de Angola, até agora tem-se occupado em pugnar com a maior energia constantemente na camara dos pares sobre muitos objectos de interesse publico, appresentando importantissimos projectos de lei para a organisação das tropas no ultramar, e da armada, exigindo a egualdade da applicação da lei a todos os Portuguezes de todos os partidos, pedindo a aprovação do contracto do caminho de ferro para a sua provincia (Alémtejo), exigindo o cumprimento da amnistia de 1847, e tratando com argumentos irrespondiveis e a maior mestria de obter na camara que se fizesse finalmente justiça aos direitos não só dos officiaes progressistas mas tambem dos officiaes da maioria do exercito que ficaram prejudicados e offendidos em consequencia de haverem sido promovidos os que entraram na revolução pela qual fora proclamada a RegeneraÇÃo de abril de 185Í; vindo este procedimento a tornar-se um castigo para àquelles que se conservaram lieis ao governo legitimo e que consequentemente não entraram na referida revolução; querendo o conde do Bomfim que se fizesse justiça para todos (segundo a mesma Carta Constitucional) e apresentando como poderoso argumento a lei que anteriormente restituiu as suas antiguidades e direitos os officiaes que se tinham compromettido na revolução cartista em que entraram e que fora aniquillada em 1837.

Chegou o zelo e firmeza do conde do Bomfim sobre esta questão, a ponto que na commissão de guerra da camara dos pares, composta de grandes notabilidades do exercito foi elle o ttnico que sustentou triumphantemente, e por modo irrespondivel, os direitos da officialidade, offendidos pôr quaesquer movimentos politicos, embora o projecto de lei, que na camara dos Deputados havia passado quasi com unanimidade, quando foi para a dos Pares fosse regeitado n'aquella occasíão.
Não obstante porém ser o conde do Bomfim, como mostrámos, o tenente general mais antigo dó exercito, estar coberto de honrosas cicatrizes, ter feito distinctos serviços, baver começado a sua carreira militar desde o principio da guerra Peninsular, servindo no estado maior do invicto duque de Wellington a cujas ordens esteve nas memoraveis batalbas da Roliça e Vimeiro, e depois durante o resto da campanha no quartel generel do marechal Beresford, assistindo como seu ajudante general na gloriosa batalha de Salamanca, entrando durante aquella guerra em 9 batalhas, 45 acções de primeira ordem, 6 sitios, 5 assaltos e muitos combates, escaramuças, etc. sendo o unico general portuguez que existe, além do illustre marechal duque de Saldanha, condecorado por S. M. F. com a cruz de ouro por 6 campanhas da guerra Peninsular, e condecorado por S. M. B. com medalha de distincção por commando na mesma guerra; e sobre tudo ter tido depois a honra de haver sido ajudante general e chefe do estado maior imperial do immortal Libertador durante as gloriosas campanhas do Porto e Lisboa, servindo ao lado de S. M. I. até á sua fatal perda; haver sido por differentes vezes ministro da rainha a senhora D. Maria n, presidente do conselho, e lhe ter feito importantes serviços e á nação no gabinete, no parlamento, c no campo, como deputado, como par do reino e como general: é para sentir termos de dizer que observámos, com magoa, que ainda depois de quanto acabamos de referir, foi esquecido o conde do Bomfim, já pobre e endividado, e tendo apenas a mais pequena e insignificante gratificação das que vencem os generaes do exercito quando servem como membros do Supremo Conselho de Justiça Militar; e se deu injustamente o commando em chefe do exercito com a sua pingue gratificação de quatrocentos mil réis mensaes ao tenente general conde da Ponte de Santa Maria, que era major quando o conde do Bomfim era general e chefe do estado maior do Imperador, sendo pois o conde da Ponte de Santa Maria mais moderno do que o conde do Bomflm, embora aquelle general seja muito honrado e digno de toda a consideração pela sua bravura e outras circumstancias, mas que ninguem deve dizer que tem serviços tão extraordinarios como os do illustre e bravo general conde do Bomfim, o qual tambem ninguem dirá, que não fosse merecedor de confiança, ou que não estivesse no caso de ser encarregado do referido commando, tanto mais que, 'com satisfação, vemos agora que se lhe começa a fazer justiça — e, mais vale tarde do que nunca. — pois que ainda ha pouco o joven e justo monarcha que felizmente nos rege, houve por bem dirigir-lhe uma honrosa Carta Regia em 8 de março de 1860 enviando-lhe a Grã Cruz da Ordem de S. Bento de Aviz, para lhe conferir um testimunho publico da sua real consideração e apreço em que tem os seus serviços; e sendo em seguida nomeado em 4 de junho do presente anno, commandante da setima divisão militar, sua provincia.
Concluiremos pois, que embora as parcialidades dos diversos partidos politicos, continuem a inculcar como vultos dos maiores serviços, etc., só os Homens De Que Mais GosTam («// riy a que nous et nos amies!») tambem nós continuamos a esperar que se continuará a fazer a justiça que pertence ao conde do Bomfim.

 Ver tb aqui; https://books.google.pt/books?id=TMONAmot-qYC&pg=PA117&lpg=PA117&dq=deportados+mossamedes&source=bl&ots=WRqHDt6gyX&sig=ubHbFNl5uFTrWocTvVr65OHxuFw&hl=pt-PT&sa=X&ved=0CC4Q6AEwA2oVChMIqJPjzZCExgIVR7QUCh1cMwDv#v=onepage&q=deportados%20mossamedes&f=false

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Corrida de Touros em Moçâmedes (hoje Namibe), Angola. Início da década de 1950






Procurando compreender o significado destas fotos... Foi-me dito que se trata da segunda e última tourada realizada em Moçâmedes. que aconteceu no início dos anos 1950 no campo do Sport Moçâmedes e Benfica, ainda em construção, por iniciativa de José de Sacadura Bretes ( que se pode ver na 3ª foto, ao centro)  e teve a participação de profissionais vindos do Portugal metropolitano. Fotos acima foram colocadas por Lay Silva, in Sanzalangola, cedidas por João Inácio Tavares, bem como alguns dados que constam no pequeno relato que segue.

A primeira tourada tinha sido realizada alguns anos antes, no «Campo das Sereias», lá para os lados da Aguada, tendo-se destacado o aspirante a toureiro «Orlandini» (Orlando Teixeira), um filho da terra, e tendo o espectáculo redundado numa palhaçada, não só pelo toureiro, mas também pelo animal. Enquanto, o improvisado toureiro, Orlandini, aguardava "cheio de estilo"  a investida da "fera"  para exibir a sua faena, eis que surge inesperadamente no improvisado redondel um bezerro desemcabestrado que o derrubou.

Outra particularidade anedótica desta primeira tourada em Moçâmedes, foi o material que serviu de construção ao redondel, ou seja,este foi construido à base de fardos de palha, daí derivando que os touros em vez de investirem contra o toureiro, não deram luta, porque passaram o tempo a comer a palha, tornando-se o evento um verdadeiro fiasco.

Sobre José Sacadura Bretes que foi Comandante dos Bombeiros de Moçâmedes,  era um grande aficcionado da arte do toureio, pessoa simpática e cheia de iniciativa, que conheci, mas não pessoalmente, e que recordo cavalgando, emproado no seu cavalo "alasão" pelas ruas de Moçâmedes, conta-se que tendo um dia recebido um cartão de "Boas Festas" do Governador onde vinham colocados todos os títulos deste, de Capitão de Mar-e-Guerra, etc, respondeu, assinando: "José de Sacadura Bretes, Director da Alfândega, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Moçâmedes, Juiz substituto, viajante do vapor Cuanza"...(*)

É incerta a origem da arte do toureio. Uns afirmam que surgiu na pré-história, outros, que as suas raízes remontam ao século III a.C, em Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um desporto popular. Contudo, as touradas tal como as conhecemos, tornaram-se uma febre durante todo o século XIX, especialmente entre os anos de 1910-1920, onde as arenas foram palco de grandes espectáculos que levantavam o público de seus assentos. Oriunda de Espanha, espalhou-se por Portugal (primeiro, no Ribatejo), em França e na América Latina (México, Colômbia, Perú, Venezuela e Guatemala), consistindo o essencial do espectáculo na lide de touros  bravos, através de técnicas denominadas por arte tauromáquica, composta por toureio a cavalo, toureio a pé e pega, resultante da luta frente a frente entre o homem e o touro. A diferença entre a tourada portuguesa e a espanhola é que em Portugal, o touro não é morto na arena.

Sempre justificadas como tradição, as corridas de touros  são na verdade um dos costumes mais bárbaros, espécie de entretenimento de um sector minoritário das sociedades onde ainda se praticam, redundando num espectáculo medieval e degradante, que, por detrás da suposta bravura dos intervenientes, esconde a triste e horrível realidade que é a perseguição, molestação e violentação dos animais, touros e cavalos que, aterrorizados e diminuídos nas suas capacidades físicas, são forçados a participar num espectáculo de carácter medieval, onde o sangue jorra, a arte é a violência e a tortura é a cultura. Em Moçâmedes jamais aconteceu um espectáculo deste género. Foram apenas dois, efectuados ao sabor do improviso que, como já foi referido, pelo menos un deles redundou  em  hiliariantes palhaçadas.

Foi talvez a necessidade de imitar aspectos do rincão natal para suprir a nostalgia da distância, que teria levado homens como Sacadura Bretes, a tentarem «touradas» como esta em terras de África. O mesmo se passou nessa década com o Concurso de Marchas Populares acontecido  em Moçâmedes, em 1955 e creio que também em 1957. Porém tanto as touradas quanto as marchas não passaram de epifenómenos, ou seja, não vieram para ficar.

É preciso distanciarmo-nos um pouco para compreendermos que por essa altura o sentido de portugalidade  encontrava-se tão difundido e propagandeado pelo regime, que os organizadores destes eventos, geralmente recém chegados da Metrópole, que  transportavam consigo usos e costumes do seu torrão natal,  não tardavam a pô-los em prática, e conseguiam arrastar as novas gerações, ávidas de folguedos, filhos e até netos e bisnetos de pais e avós já ali nascidos, que jamais havia pisado solo metropolitano, a desfilar com arquinhos e balões, socas e canasta à cabeça, imitando nazarenas, e rapazes de barrete verde e vermelho, quais  campinos do Ribatejo, a cantar e a bailar, acompanhados ao acordeão e  à concertina, numa imitação folclórica daquilo que se passava na terra de seus e nossos antepassados.

Na realidade foi gente da índole de Sacadura Bretes que fundou associações, organizou clubes, festas, romarias, peregrinações, peças de teatro, récitas, arraiais, bailes da pinhata, assaltos de Carnaval, desfiles automóveis (corsos), marchas populares, cantigas de roda à volta da fogueira, e que na década de 50, pela primeira vez  organizou as "touradas" aqui referenciadas .







Temos aqui uma foto onde podemos ver na tribuna, ao lado do Governador de Moçâmedes e esposa,  e do Comandante Fragoso de Matos, José Sacadura Bretes (o 3º a partir da esq.). Encontravam-se aqui outras caras nossas conhecidas tais como Francelina Gomes (capitã do Ginásio da Torre do Tombo) a receber a taça, o treinador, José Pedro Bauleth,  mais à dt. o Figueiras (das ameijoas) , Julia Castro, e Cabral Vieira (de chapéu) e esposa. 
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José Sacadura Bretes desfila no seu cavalo (à dt.) num concurso de carros alegóricos, por ocasião das festividades do Centenário da cidade de Moçâmedes, a 04 de Agosto de 1949. Foto de Antunes Salvador tirada no interior do velho campo de futebol.


Ainda sobre touradas, acabei de conseguir este postal que é um testemunho vivo de uma tourada acontecida em Moçâmedes em 1905, em homenagem ao Governador Geral de Angola, Eduardo Costa, grande aficcionado da modalidade, que se encontrava de passagem pela vila, numa época em que decorriam as Campanhas Militares de Pacificação do Sul de Angola


Pesquisa e texto de MariaNJardim