Procurando compreender o significado destas fotos... Foi-me dito que se trata da segunda e última tourada realizada em Moçâmedes. que aconteceu no início dos anos 1950 no campo do Sport Moçâmedes e Benfica, ainda em construção, por iniciativa de José de Sacadura Bretes ( que se pode ver na 3ª foto, ao centro) e teve a participação de profissionais vindos do Portugal metropolitano. Fotos acima foram colocadas por Lay Silva, in Sanzalangola, cedidas por João Inácio Tavares, bem como alguns dados que constam no pequeno relato que segue.
A primeira tourada tinha sido realizada alguns anos antes, no «Campo das Sereias», lá para os lados da Aguada, tendo-se destacado o aspirante a toureiro «Orlandini» (Orlando Teixeira), um filho da terra, e tendo o espectáculo redundado numa palhaçada, não só pelo toureiro, mas também pelo animal. Enquanto, o improvisado toureiro, Orlandini, aguardava "cheio de estilo" a investida da "fera" para exibir a sua faena, eis que surge inesperadamente no improvisado redondel um bezerro desemcabestrado que o derrubou.
Outra particularidade anedótica desta primeira tourada em Moçâmedes, foi o material que serviu de construção ao redondel, ou seja,este foi construido à base de fardos de palha, daí derivando que os touros em vez de investirem contra o toureiro, não deram luta, porque passaram o tempo a comer a palha, tornando-se o evento um verdadeiro fiasco.
Sobre José Sacadura Bretes que foi Comandante dos Bombeiros de Moçâmedes, era um grande aficcionado da arte do toureio, pessoa simpática e cheia de iniciativa, que conheci, mas não pessoalmente, e que recordo cavalgando, emproado no seu cavalo "alasão" pelas ruas de Moçâmedes, conta-se que tendo um dia recebido um cartão de "Boas Festas" do Governador onde vinham colocados todos os títulos deste, de Capitão de Mar-e-Guerra, etc, respondeu, assinando: "José de Sacadura Bretes, Director da Alfândega, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Moçâmedes, Juiz substituto, viajante do vapor Cuanza"...(*)
É incerta a origem da arte do toureio. Uns afirmam que surgiu na pré-história, outros, que as suas raízes remontam ao século III a.C, em Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um desporto popular. Contudo, as touradas tal como as conhecemos, tornaram-se uma febre durante todo o século XIX, especialmente entre os anos de 1910-1920, onde as arenas foram palco de grandes espectáculos que levantavam o público de seus assentos. Oriunda de Espanha, espalhou-se por Portugal (primeiro, no Ribatejo), em França e na América Latina (México, Colômbia, Perú, Venezuela e Guatemala), consistindo o essencial do espectáculo na lide de touros bravos, através de técnicas denominadas por arte tauromáquica, composta por toureio a cavalo, toureio a pé e pega, resultante da luta frente a frente entre o homem e o touro. A diferença entre a tourada portuguesa e a espanhola é que em Portugal, o touro não é morto na arena.
Sempre justificadas como tradição, as corridas de touros são na verdade um dos costumes mais bárbaros, espécie de entretenimento de um sector minoritário das sociedades onde ainda se praticam, redundando num espectáculo medieval e degradante, que, por detrás da suposta bravura dos intervenientes, esconde a triste e horrível realidade que é a perseguição, molestação e violentação dos animais, touros e cavalos que, aterrorizados e diminuídos nas suas capacidades físicas, são forçados a participar num espectáculo de carácter medieval, onde o sangue jorra, a arte é a violência e a tortura é a cultura. Em Moçâmedes jamais aconteceu um espectáculo deste género. Foram apenas dois, efectuados ao sabor do improviso que, como já foi referido, pelo menos un deles redundou em hiliariantes palhaçadas.
Foi talvez a necessidade de imitar aspectos do rincão natal para suprir a nostalgia da distância, que teria levado homens como Sacadura Bretes, a tentarem «touradas» como esta em terras de África. O mesmo se passou nessa década com o Concurso de Marchas Populares acontecido em Moçâmedes, em 1955 e creio que também em 1957. Porém tanto as touradas quanto as marchas não passaram de epifenómenos, ou seja, não vieram para ficar.
É preciso distanciarmo-nos um pouco para compreendermos que por essa altura o sentido de portugalidade encontrava-se tão difundido e propagandeado pelo regime, que os organizadores destes eventos, geralmente recém chegados da Metrópole, que transportavam consigo usos e costumes do seu torrão natal, não tardavam a pô-los em prática, e conseguiam arrastar as novas gerações, ávidas de folguedos, filhos e até netos e bisnetos de pais e avós já ali nascidos, que jamais havia pisado solo metropolitano, a desfilar com arquinhos e balões, socas e canasta à cabeça, imitando nazarenas, e rapazes de barrete verde e vermelho, quais campinos do Ribatejo, a cantar e a bailar, acompanhados ao acordeão e à concertina, numa imitação folclórica daquilo que se passava na terra de seus e nossos antepassados.
Na realidade foi gente da índole de Sacadura Bretes que fundou associações, organizou clubes, festas, romarias, peregrinações, peças de teatro, récitas, arraiais, bailes da pinhata, assaltos de Carnaval, desfiles automóveis (corsos), marchas populares, cantigas de roda à volta da fogueira, e que na década de 50, pela primeira vez organizou as "touradas" aqui referenciadas .
É preciso distanciarmo-nos um pouco para compreendermos que por essa altura o sentido de portugalidade encontrava-se tão difundido e propagandeado pelo regime, que os organizadores destes eventos, geralmente recém chegados da Metrópole, que transportavam consigo usos e costumes do seu torrão natal, não tardavam a pô-los em prática, e conseguiam arrastar as novas gerações, ávidas de folguedos, filhos e até netos e bisnetos de pais e avós já ali nascidos, que jamais havia pisado solo metropolitano, a desfilar com arquinhos e balões, socas e canasta à cabeça, imitando nazarenas, e rapazes de barrete verde e vermelho, quais campinos do Ribatejo, a cantar e a bailar, acompanhados ao acordeão e à concertina, numa imitação folclórica daquilo que se passava na terra de seus e nossos antepassados.
Na realidade foi gente da índole de Sacadura Bretes que fundou associações, organizou clubes, festas, romarias, peregrinações, peças de teatro, récitas, arraiais, bailes da pinhata, assaltos de Carnaval, desfiles automóveis (corsos), marchas populares, cantigas de roda à volta da fogueira, e que na década de 50, pela primeira vez organizou as "touradas" aqui referenciadas .
Temos aqui uma foto onde podemos ver na tribuna, ao lado do Governador de Moçâmedes e esposa, e do Comandante Fragoso de Matos, José Sacadura Bretes (o 3º a partir da esq.). Encontravam-se aqui outras caras nossas conhecidas tais como Francelina Gomes (capitã do Ginásio da Torre do Tombo) a receber a taça, o treinador, José Pedro Bauleth, mais à dt. o Figueiras (das ameijoas) , Julia Castro, e Cabral Vieira (de chapéu) e esposa.
Ainda sobre touradas, acabei de conseguir este postal que é um testemunho vivo de uma tourada acontecida em Moçâmedes em 1905, em homenagem ao Governador Geral de Angola, Eduardo Costa, grande aficcionado da modalidade, que se encontrava de passagem pela vila, numa época em que decorriam as Campanhas Militares de Pacificação do Sul de Angola
Pesquisa e texto de MariaNJardim
1 comentário:
Se gostas de compreender a vida e a sociedade aconselho-te a dares uma olhada no movimento sociocultural que pretende revolucionar o mundo.
O movimento Zeitgeist analisa os actuais problemas sociais e apresenta soluções para um futuro sustentável e mais justo para todos.
Dífícil de aceitar para muitas mentes mais conservadoras o movimento não destingue partidos, raças, religiões ou outro tipo de ideais, olha sim para a humanidade como um todo e reconheçe a Terra como uma casa comum a todos os seus habitantes.
Experimenta informares-te sobre esta visão que respresenta já o movimento social com maior taxa de crescimento da história. Peace and love :)
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