O avião junto do Destilador de água salgada. Nos dias de ventos fortes (garôa) era impossível a avionete descolar...
O piloto Carlos Teixeira que morreu no fatídico desastre
Morreram no brutal acidente, o piloto, a cinco esdudantes, e o Delegado de Saúde de Porto Alexandre.
Depois de quase um século percorrido por arrastadas lutas e privações de toda a ordem, as gentes da Baía dos Tigres, em finais dos anos 1940, inícios de 1950, em matéria de transportes, passaram a ser servidas, duas vezes por semana, por uma avionete que de início era a do Aero Clube de Moçâmedes.
Morreram no brutal acidente, o piloto, a cinco esdudantes, e o Delegado de Saúde de Porto Alexandre.
Depois de quase um século percorrido por arrastadas lutas e privações de toda a ordem, as gentes da Baía dos Tigres, em finais dos anos 1940, inícios de 1950, em matéria de transportes, passaram a ser servidas, duas vezes por semana, por uma avionete que de início era a do Aero Clube de Moçâmedes.
(1) Mais tarde as deslocações aéreas passaram a fazer-se através dos monomotores “Bonanza”, da empresa de Táxis Aéreos do Sul
de Angola, com sede em Moçâmedes. (2) As carreiras eram
efectuadas bi-semanalmente, à terças e sextas-feiras, e assim vinha acontecendo
desde essa altura até que no ano de 1967, no dia 17 de Junho, numa malograda sexta-feira o “Bonanza” que fazia, como sempre, a sua viagem
habitual, descolando pelas nove e meia
da manhã e aterrando uma hora depois na Baía dos Tigres, após escala Porto Alexandre para levar um
importante passageiro, o Delegado de Saúde que ali ia dar consulta, dessa vez não aterrou… Nos Tigres, a ansiedade e o pânico tomaram conta da estrita população.
As horas foram passando, o “Bonanza” não aparecia. Naquele avião vinham a bordo
quatro jovens estudantes, na flor da vida, que vinham passar as férias escolares
junto de seus pais e amigos que ali, ansiosamente as aguardavam. Receava-se o
pior. Quando a noite chegou, consumidas estavam já todas as
esperanças de um reencontro. Algo de pior teria acontecido!
Nesse dia também as gentes dos Tigres não receberam as encomendas essenciais a quem vive isolado nem os jornais, nem a correspondência, as noticias que lhes iam dando forças para ali se manterem na luta sem tréguas pelo pão de cada dia, contra os elementos da natureza, em isolamento quase total, apenas estimulados pela fartura piscícola daquele pródigo mar.
Nesse dia também as gentes dos Tigres não receberam as encomendas essenciais a quem vive isolado nem os jornais, nem a correspondência, as noticias que lhes iam dando forças para ali se manterem na luta sem tréguas pelo pão de cada dia, contra os elementos da natureza, em isolamento quase total, apenas estimulados pela fartura piscícola daquele pródigo mar.
Estava-se em plena época de cacimbo, que de Maio a Setembro
assola as regiões do Sul de nevoeiro cerrado. O “tecto” baixo levava a que toda
e qualquer perfuração efectuada pelo “Bonança”, muito junto à terra, constituísse um perigo. As pistas eram
improvisadas como eram praticamente nos
vôos locais em Angola, não havia equipamentos
que facilitassem a aproximação a terra em dias de fraca visibilidade, sequer os
aviões possuíam a aparelhagem sofisticada dos nossos dias. Tudo dependia do
piloto, do seu conhecimento do terreno, da
sua perícia, da sua competência profissional. Restava a esperança que o avião se
tivesse dirigido para a foz do Cunene, a 55 km distância, para ali aterrar em
segurança. Ou então que tivesse aterrado
numa das planuras da zona semi-desertica. A verdade é que o "Bonança" estava desaparecido.
Nada se sabia bem dele, nem das seis pessoas que vinham a bordo.
Na manhã seguinte a Imprensa e a Rádio deram grande relevo ao acontecimento. O constrangimento e comoção eram gerais. Os habitantes dos Tigres eram uma verdadeira família que repartia entre si alegrias e tristezas. O sentimento de solidariedade não se fez esperar. Por toda a parte a vontade de congregar esforços na busca do “Bonança”. O Governo Geral de Angola, o Comando Naval, a Força Aérea, a Organização Provincial de Voluntários, e muitos particulares, todos se encontravam vivamente empenhados nas buscas, através de um sistema organizado e controlado por sistema de comunicação a nível distrital, centralizado numa das salas do Rádio Clube de Moçâmedes. Um avião da Força Aérea devidamente equipado para missões do género, ao qual se juntaram dois aviões do Estado pertencentes aos governos de Moçâmedes e da Huila, e ainda dois particulares, avançaram nas buscas no deserto, enquanto traineiras batiam a costa desde a Ponta Albina à zona dos Riscos, a norte da Grande Restinga, e também várias viaturas partiram tentando vencer as areias do deserto, algumas das quais tiveram que ser mais tarde socorridas.
Pilotos, estudantes e médico, as seis vitimas da queda do "Bonanza"
Recorte de jornal sobre o desastre sobre a queda da avionete "Bonança"
O nevoeiro intenso sempre dificultava as buscas de quem teimava em se manter naquele deserto temeroso, que ninguém podia de ânimo leve pensar vencer, até porque os rodados da ida logo se apagavam quando do regresso. Na Baía dos Tigres nada havia, não havia mecânicos, não havia peças sobressalentes, gasolina, sombra, água, alimentos. Terra do nada como diziam os Hotentotes, onde tudo podia acontecer aos incautos, incluso mordedura de escorpiões venenosos. As irregularidades do terreno, as tempestades de areia que fustigam o rosto, e ferem o olhar, o vento Leste, as temperaturas difíceis de suportar, modificam a paisagem e não permitem o caminhar de pessoas e viaturas, tornado a missão impossível até ao guia mais experiente. As grandes diferenças térmicas dia/noite, durante o dia temperaturas escaldantes pela noite, abaixo de zero.
Jose Venâncio Delgado Jr. foi um dos alexandrenses que colaboraram nas buscas
O "Bonança" tinha que aparecer! Foi então que na tardinha do dia seguinte, os tripulantes de uma traineira que participava nas buscas, vislumbraram ao longe um brilho de metal, na Zona de Riscos, na encosta de uma duna de grande altura. Dado o alarme os aviões facilmente localizaram o “Bonança”, cujas asas e cauda se encontravam intactas, porém com a carlinga e os seis tripulantes completamente carbonizados. Os depósitos de combustível copulados à cabine e não nas asas, não permitiu quaisquer possibilidades de salvação. Ali encontraram a morte o piloto Carlos Alberto Teixeira, aos 28 anos de idade, o médico e delegado de saúde de Porto Alexandre, José Marques dos Carvalhos, aos 31 anos, e as jovens estudantes Carla Maria Marreiros Martins, Teresa Margarido, Conceição Maria Gonçalves de Carvalho, e Laurinda dos Santos Nascimento, de 14,16, 12 e 14 anos, respectivamente. Pensa-se que o piloto tentara a perfuração de norte para sul à entrada da Baía que tem 11 milhas de largura, e que fez um desvio ligeiro lateral que o levaria a bater na encosta de uma das dunas sobranceira ao mar, que naquele local atinge 180 metros de altura. O piloto Teixeira era muito estimado pela gentes dos Tigres. Era ele que lhes fazia chegar médico e o padre, tão necessários à manutenção da saúde e ao conforto espiritual de que a população carecia. Também o medicamento, e algum alimento a complementar o que vinha juntamente com a água, em navios destinados a tal, era ele que lhes levava, todos os artigos indispensáveis vida, os jornais a correspondência para poderem estar a par de notícias sobre o que ia acontecendo longe dali, etc. etc.
O médico José Marques era também muito estimado pelos cuidados de saúde que dispensava à população.
O desespero das famílias foi tal que o pai de Teresa Margarido,
tresloucado pelo sofrimento, partiu para o Deserto, a pé, munido de um garrafão
de água, em busca da sua menina. Era a única pessoa de família que ele tinha por
companhia nas quatro paredes do lar, naquela aldeia onde a solidão era
esmagadora . Teresa era a luz de seus olhos, era o ser que restava de um casamento
menos feliz. Oito angolanos pertencentes ao pessoal da traineira fizeram questão
de o acompanhar. Caminharam pelo Deserto fora durante 36 horas, na busca do “Bonança”,
até que perdidos e dispersos entre altas e escaldantes dunas, com os pés em
sangue, e já sem água nem alimentos, foram localizados pelo avião militar
que lhes lançou uma mensagem comunicando
que os tinham localizado, em cima da zona de Riscos, na direcção do farol da
Ilha dos Tigres, e que iam avisar “jeeps” de Porto Alexandre para os ir buscar.
Pediram-lhes ainda que se aproximassem mais da praia, da qual se encontravam afastados. Hilário Margarido já não teve forças para
sair do local onde tombou, já entre a vida e a morte. Foi recolhido por uma
equipa de jornalismo da revista Noticia de Luanda, que cobriu a reportagem no Deserto, sendo os restantes companheiros recolhidos por outras viaturas,
excepto dois deles que caminharam na direcção do farol da Ponta Albina.
Ai de quem ousasse transpôr as areias deste Deserto, a região mais inóspita do mundo. Acabavam por morrer de sede, fome, cansaço, para festim dos abutres que, suspensos no ar, com suas asas abertas e o bico adunco, aguardavam pacientemente o último suspiro da vítima. Ninguém que se aventurasse mais a sul, na direcção da Costa dos Esqueletos, conseguia escapar.
Não tenho muito a avançar sobre a Empresa de avionetes que disponibilizou o malfadado "Bonança", que acabou no dia 17 de Junho de 1967, de maneira tão trágica. Tenho informações que gostaria de ver confirmadas de que pertencia a Fernando Rodrigues Ferreira, pessoa de iniciativa e valor, estimada em Moçâmedes, que tinha como sócio um Sr. de nome Martins, creio que era mecânico de aviação. Fernando Rodrigues Ferreira tinha começado como camionista e trabalhava para Maurício Brazão que tinha uma loja junto da Praça de Táxis, a Praça Gomes Leal, em local próximo da Farmácia Moderna e da Drogaria de Augusto Lopes Rosa. Depois de ter adquirido o brevet ambos entusiasmaram-se, resolveram trabalhar de conta própria, criaram a sua empresa, que segundo informações se desenvolveu e expandiu para Luanda, introduzindo a aviação particular regional em Angola, o que muito ajudou, pela fluidez das ligações, a aproximação entre os povos, e o desenvolvimento das regiões de difícil acesso.
Naquele Deserto inóspito, isolados da civilização, era a fé que lhes dava ânimo, força e conformação às gentes da Baía dos Tigres. A fé era o lenitivo que as ajudava a vencer a dureza da vida...
Ficam estas tristes recordações.
MariaNJardim
Para saber mais sobre a Baia dos Tigres, visite outras páginas deste blog:
1. A origem do nome: http://mossamedes-do-antigamente.blogspot.pt/2014/09/baia-dos-tigres-origem-do-nome.html
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