Candidatas a miss Angola 1971
A Riquita Bauleth, embaixo á direita.
JÚRI E PÚBLICO UNÂNIMES NA ESCOLHA DE MARIA CELMIRA BAULETH COMO A MAIS BELA DAS ANGOLANAS
Uma jovem morena de 18 anos de idade, pele cor de mel suavizada pelo vento morno do deserto de Moçâmedes e admiradora de Jean Paul Sartre é «Miss» Angola 1971. Foi eleita há dias em Luanda e, quando após muitas horas de discussão o juri anunciou o seu nome - Maria Celmira Bauleth - ele nada mais fez do que sancionar uma escolha que o público angolano fizera já. Com um metro e setenta de altura, olhos enormes numa face extremamente bela e actualmente estudante, Maria Celmira disputará assim muito em breve em Lisboa' -ao lado de «Miss» Moçambique e de «Miss» Metrópole- o, ceptro de «Miss Portugal».
Logo depois de ter recebido os signos da sua realeza como a mais bela angolana de 1971, Maria Celmira foi instada por Ivon Curi a fazer uma declaração pública. Visivelmente comovida mas mostrando na face cansada a emoção do momento que vivia, «Miss» Angola disse apenas: Quero agradecer ao público todo o apoio que me deu... »
Na verdade, logo que os nomes das dezanove finalistas foram conhecidos, Maria Celmira Bauleth passou imediatamente a ser a grande preferida dos angolanos. O juri nada mais fez, portanto, do que ser o porta-voz da vontade popular. Caso raro em certames do género... As candidatas eram dezanove, pertencentes a seis cidades. Dezanove sorrisos, que eram um mundo de sonhos e de esperanças, na noite tropical polvilhada de estrelas...
Organizado com exemplar entusiasmo pelo semanário «Notícia», uma publicação que disfruta de justa popularidade, o concurso para escolha de «Miss» Angola, vencidas as fases de apuramento distrital, teve, pois, condigno encerramento com a festa que apaixonou a opinião pública. As candidatas que desfilaram perante a assistência, entre actuações dos artistas brasileiros Clara Nunes e Ivon Curi e do conjunto angolano «Os Ngoleiros do' ritmo», foram as seguintes, por ordem de entrada: Paula dos Santos, estudante, de Luanda; Maria Natal, funcionária pública, de Luanda; Anete Ferraz, estudante, do Lobito; Maria Moço, empregada numa agência de viagens, de Luanda; Maria Isabel de Oliveira, estudante, de Nova Lisboa; Olga Morais, empregada comercial, de Luanda; Maria Célia, estudante, de Luanda; Maria do Rosário, estudante, de Nova Lisboa; Ema Paula, estudante, de Luanda; Fernanda Costa Dias, estudante de Nova Lisboa; Maria Celmira Bauleth, estudante, de Moçâmedes; Catarina de Oliveira, em pregada de escritório, de Luanda; Maria dos Anjos Alfredo, de Sá da Bandeira; Anabela Meneses, empregada bancária, de Luanda; Fernanda de Jesus Rodrigues, empregada de escritório, de Luanda; Ana Paula Ferreira, estudante, de Nova Lisboa; Maria ElfridaReis, funcionária púlica,de Luanda e Rosemary Pedroso da Silva, estudante, de Benguela.
NÃO "SENHORITA PORTUGAL 1971"
Desfile de Riquita no Casino Estoril com o traje dos mucubais, tribo nómada do Deserto do Namibe com a qual se habituara a conviver em Capangombe, onde a família possuia uma fazenda. Foram as mulheres mucubais que forneceram a Riquita os panos, lhe ensinaram a envolver o corpo, emprestaram os colares e pulseiras untados com esterco de boi cedidos para o desfile. Dizia Riquita: «Fiz questão de usar os adereços originais e, de cada vez que punha aquilo, toda a gente fugia com o cheiro nauseabundo. Quando me mudava para o vestido de noite tinha umas toalhas húmidas com que me limpava do cheiro».
Diferente, o soutien, que as mulheres mucubal não usavam. Solteiras, andavam nuas das cintura para cima, casadas, amarravam os seios com cordas.
O momento da coroação. Ana Maria Lucas, a vencedora do concurso anterior,
coloca a corôa na cabeça de Riquita
Moçâmedes, a cidade de Angola famosa pelas suas belas raparigas, não podia deixar de marcar posição num concurso de beleza como o de Miss Portugal. Foi no ano de 1971 que tal aconteceu, ano em que pela primeira vez Angola e Moçambique participaram. Riquita (Celmira Bauleth), de 18 anos de idade, estudante, natural de Moçâmedes foi eleita a mais bela entre as mais belas, uma vitória retumbante, que não deixou dúvidas a ninguém e que culminou com a sua coroação no Casino do Estoril. Esta foto eterniza esse momento, o momento em que Ana Maria Lucas, a vencedora do concurso anterior, coloca a corôa na cabeça de Riquita.
O momento imediatamente a seguir à coroação
Riquita com o cepto
As comoções de uma rainha de beleza...
No Avis em Luanda
Riquita já não participaria no Concurso de Miss Europa. Os ensaios excessivos, das 7 da manhã às 19 da noite não a seduziam nem ao seu pai, e acabou por desistir e voar de regresso a Moçâmedes para prosseguir os estudos, abdicando assim da corôa.
Nas Revistas
LUANDA: a noite da mais bela. O correspondente de «TEMPO» em Angola, descreve assim a noite de coroação de Made Celmira:
Na
noite da eleição muita gente em Angola deitou-se já dia claro. Cinco
rádioclubes, transmitindo directamente, mantiveram dezenas de milhares
de pessoas agarradas aos rádios e, no Lobito, espalhadas pelos jardins
onde tinham sido colocados altifalantes. Toda a gente queria saber, em
cima da hora, quem era a primeira «Miss» Angola.
Quase
sete horas demorou o espectáculo da eleição de «Miss» Angola. Mas
ninguém se queixou, tal como ninguém se queixara dos duzentos escudos
desembolsados pelo bilhete de ingresso. A caça ao bilhete foi aliás um
sintoma claro do interesse despertado pelo espectáculo. No dia anunciado
para abertura da bilheteira - nove dias antes do Espectáculo houve quem
se pusesse na bicha às seis da manhã! As onze abria o «guichet», ao
meio dia encer rava, afixando «lotação esgotada». O nosso colega
«Notícia» - que organizou a eleição -foi acusado de reter demasiados
bilhetes. Esclarecido que não, passou tal responsabilidade para a
empresa proprietária do cinema Aviz. A
verdade maior parece ser, no entanto, a de que havia mais de dez mil
pessoas interessadas em assistir e apenas mil e trezentos lugares
posíveis...»
Logo na sua terra natal nasceu uma canção:
Riquita tu és bonita
Riquita tu e Rainham
Angola que te acredita
Mostrou como és natural
Riquita foste a melhor
Desta festa nacional
Angola vibrou contigo
Mais linda de Portugal!
Namibe, não é do Deserto,
Nem tem só Welwitschia
P`ro turista vêr
Angola, não é só Namibe
Tem muita Riquita,
Podem vir escolher
"..Depois de Lisboa viajou para Miami, nos Estados Unidos, onde participou na eleição da
Miss Universo. Riquita apresentou-se com o traje tradicional dos mucubais e com adereços
emprestados por eles – untados com leite azedo e excrementos de boi.
“Havia quem se afastasse por causa do cheiro.” Fosse como fosse, a festa tinha acabado. “Era tudo muito profissional. Muito
sério. Ensaios das sete da manhã às sete da noite. Não era para mim.”Desistiu.
"....O pai escreveu uma carta aos organizadores do concurso Miss Portugal agradecendo-lhes
a atenção dispensada à filha e, de caminho, informando-os de que ela se ia embora. Sim, abdicava
da coroa. Foi um escândalo. Quiseram obrigá-la a devolver todos os prêmios. Riquita fincou o pé e já não participou no concurso Miss Europa. Regressou a Moçâmedes e, mais tarde, freqüentou a Universidade de Luanda."
DAQUI
conforme artigo publicado no Correio da Manhã, em 18.3.07, intitulado: «O tempo também passa pelas mais bonitas».
A chegada a Moçâmedes
Ao ser recepcionada no
regresso a Moçâmedes.
Se à chegada a Luanda de Riquita tinha sido estrondosa, o regresso a Moçâmedes reservou outro tipo de surpresas. Infelizmente uma só foto pouco diz daquilo que foi a realidade. Riquita desfilou no Ford descapotável de Fernando Cabeça, foi entusiasricamente aplaudida pela população que veio para a rua para a saudar, participou em várias festas, numa delas vestida de mucubal, lado a lado com mucubais, e por eles foi também efusivamente aplaudida.
Não admira, por isso, que os mucubais se tivessem sentido honrados em estarem presentes na noite da sua chegada, a Moçâmedes, na recepção efectuada no pequeno palco, junto das arcadas e do Casino, na Praia das Miragens, como podemos ver. Riquita apresentara-se vestida de «hot pants» e óculos Dior de enormes armações, e com madeixas brancas no longo cabelo. Riquita tornou-se uma referência positiva, que ainda hoje perdura entre as jovens angolanas, como se pode lêr neste site: http://www.nexus.ao/missangola/2003/historico.htm
Mais tarde, recordando estes dias diria: «Eu tive o privilégio de ser amada pelo povo de Angola. Poucas pessoas têm uma sorte semelhante. E referindo-se aos mucubais: «Fizeram 100 quilómetros a pé, com bois, cabritos, galinhas e maçarocas, não exactamente para me oferecerem, porque os mucubais não oferecem nada, só dão coisas em troca de outras. A explicação que encontro é que eles sentiram que eu os dei a conhecer a Portugal inteiro e que os representei. Aquilo que me estavam a entregar era o pagamento».
Com Amália Rodrigues
MariaNJardim
Algumas partes de texto retirados de Expresso. Outras da Revista moçambicana TEMPO
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=EE-Ab-zxyQ4
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